São Paulo prepara sua Film Commission

A cidade de São Paulo deverá entrar no circuito das film commissions no segundo semestre de 2016. Pelo menos, esta é a previsão de Tammy Weiss, responsável pela coordenação da São Paulo Film Commission. O projeto está sendo viabilizado pela Spcine, que foi lançada oficialmente em 28 de janeiro de 2015. A nova agência deverá facilitar a filmagem de produções cinematográficas e televisivas, atrair novos projetos e promover a imagem da metrópole em mercados e festivais internacionais, como o European Film Market, que ocorre dentro do Festival de Berlim.

A criação da film commission é uma reivindicação antiga do setor e a promessa é de desburocratizar a pré-produção e a rodagem. Tata Amaral, diretora de filmes como “Antônia” (2006), “Hoje” (2011), e da série “Psi” (2015) da HBO, é uma das realizadoras independentes que mais filma em São Paulo e sente os entraves a cada novo projeto. A implantação de um escritório único será fundamental para dinamizar os trabalhos, na sua opinião.

“Uma film commission atuante não exporia os produtores a ficarem dias tentando obter informações de uma instituição que nunca ouviu falar de audiovisual. Ela deve ser o verdadeiro comunicador entre as instituições e os produtores”. Tata reforça que será importante para construir, junto aos órgãos municipais, regras claras quanto ao uso dos espaços públicos e autorizações.

A proposta, de acordo com Tammy, é justamente promover o uso das locações e oferecer apoio em diferentes esferas: política, técnica, legal, infraestrutura e logística. Para isso, será criado um site e um aplicativo nos quais os produtores informarão todas as necessidades da produção. Assim, a obtenção das licenças deverá ficar mais ágil. Os dispositivos vão oferecer um banco de locações com os principais logradouros, como Parque Ibirapuera, Avenida Paulista, Theatro Municipal e Vale do Anhangabaú. Listas de profissionais e serviços como alimentação, hotelaria e aluguel de equipamentos também serão divulgados e haverá uma cartilha única para produtores e órgãos públicos.

Outro obstáculo na metrópole é o trânsito. Bloquear uma rua discreta no Centro ou parte de uma avenida extensa como a Sumaré, hoje, é quase inviável, porém as conversas com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) já começaram em julho de 2015. Segundo Tammy, a CET será “a grande aliada” e a proposta é “contar com uma pessoa específica dentro da companhia para atender às demandas”.

Rafaella Costa, produtora que trabalha com Tata Amaral, também aguarda a centralização dos pedidos. “Se for possível unificarmos tudo, economizaremos tempo e dinheiro. Já pedi ‘pelo amor de Deus’ para que ajudassem a viabilizar projetos que vendiam a cidade como cenário e não tivemos respaldo algum. Morríamos com a burocracia”.

Inspiração em Nova York e Rio de Janeiro 

Uma das inspirações foi a film commission de Nova York, cujas características urbanas se assemelham com as da capital paulista. Em Nova York, também não era fácil rodar um longa-metragem nos anos 1960. As demandas dos produtores chegaram aos ouvidos do então candidato a prefeito John V. Lindsay, que prometeu facilitar os processos de filmagem durante a sua campanha, em 1965, segundo informações da agência. Anos depois, foi criado o escritório Made in NY – Mayor’s Office of Film, Theatre & Broadcasting. Os resultados, de acordo com os dados oficiais, foram imediatos. Só na cidade de Nova York, o número de produções cresceu 100% naquele primeiro ano das operações e houve um adicional na ordem de US$ 20 milhões. Com isso, não só a Broadway ficou reconhecível nas telas, mas também os museus, os monumentos e os parques, estimulando o turismo e a cultura local. Hoje, Nova York é uma das cidades mais filmadas do mundo, cuja produção movimenta US$ 7 bilhões a cada ano, empregando 130 mil profissionais.

O escritório de São Paulo também buscou referências no Rio de Janeiro e em Santos. Além de servir de cenário e dar apoio para a produção de boa parte dos filmes nacionais, o portfólio da Rio Film Commission inclui superproduções como “A Saga Crepúsculo: Amanhecer” (EUA/2012) e “Velozes e Furiosos 5: Operação Rio” (EUA/2011).

No litoral paulista, a film commission de Santos também acumula uma série de produções. Criado em 2007, o escritório ajuda na busca de locações, agiliza as negociações de serviços, disponibiliza um banco de profissionais e escritório para as equipes. Lá, foram rodados filmes como “Querô” (2007), “Plastic City” (2010) e “Lula, o Filho do Brasil” (2010).

Para São Paulo, a Spcine ainda não arrisca uma estimativa quantitativa, mas está se preparando para um grande salto. “Todos serão beneficiados: o setor do audiovisual, o setor público, o comércio, o turismo, a população, e principalmente a cidade. Será mais viável filmar aqui”, diz Tammy.

Diana Almeida, produtora de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014), aguarda com boas expectativas. “São Paulo é de uma riqueza cinematográfica muito especial. Além disso, é onde fica a sede da minha produtora e onde moram os técnicos com quem gostamos de trabalhar. Faz sentido filmar aqui”.

 

Por Belisa Figueiró

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