“Boi Neon” abre a mostra de longas do FAM
Boi Neon, filme do pernambucano Gabriel Mascaro, premiado em Havana, Veneza, Varsóvia, Toronto, Hamburgo, Rio e Salvador, abre a Mostra de Longas do FAM 20 anos – Florianópolis Audiovisual Mercosul, na próxima sexta-feira, dia 17 de junho, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC.
A Mostra de Longas traz ainda o primeiro longa-metragem do cineasta e roteirista gaúcho José Pedro Goulart, Ponto Zero, e três filmes argentinos que serão exibidos pela primeira vez no Brasil: Paulina, de Santiago Mitre; Zanjas, de Francisco Paparella; e El Movimiento, de Benjamin Naishtat. Os outros dois longas que completam a mostra são o chileno Vida Sexual de las Plantas, de Sebastián Brahm, e o paraguaio Mangoré, por Amor al Arte, com roteiro e direção do chileno Luis Vera.
Boi Neon centra sua narrativa no personagem Iremar, vivido por Juliano Cazarré, um insólito vaqueiro que sonha em ser estilista. Mascaro apresenta esse Brasil rural como um imenso terreno baldio repleto de prédios abandonados de antigas fábricas e aterros a céu aberto, onde perambulam personagens que sonham em ser alguém que não são, e que provavelmente nunca serão.
No sábado, será exibido Zanjas, o western patagônico do diretor argentino Francisco J. Paparella. O personagem principal, Zamora, é um trabalhador rural, um homem solitário e misterioso, às voltas com um passado que o atormenta e do qual não consegue se livrar, busca o isolamento nas montanhas. Um cavador de valas (zanjas em espanhol), que na dura rudeza do seu dia a dia busca a expiação de seus pecados interiores. Rústico e corajoso, Zanjas explora a beleza cinematográfica do cenário da Patagônia para contar uma história de uma pequena cidade onde tudo parece estar fora do lugar, onde as situações não se encaixam e cujas aparências, o que se mostra, os silêncios, as ações, os comportamentos, ocultam um significado que a todo momento joga com o espectador.
Ponto Zero, a atração de domingo, é o primeiro longa-metragem de Zé Pedro Goulart, um dos grandes nomes da geração anos oitenta do cinema gaúcho de curta-metragem, ao lado de Jorge Furtado, com quem fez Temporal (1984) e o celebrado O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986). O filme trata do amadurecimento de um garoto de 14 anos, Ênio, interpretado em meio a silêncios e olhares pelo também estreante Sandro Aliprandini.
El Movimiento, de Benjamin Naishtat, é o longa da segunda-feira, dia 20. Vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Mar Del Plata, o filme se passa em 1835, época da Mazorca, organização paramilitar ligada ao caudilho Juan Manuel Rosas, que controlava a província de Buenos Aires utilizando o terror como instrumento de governo, com grupos armados que percorriam o infinito Pampa argentino atormentando e oprimindo os poucos camponeses que ali viviam. El Movimiento foi filmado em preto e branco em 10 dias e concluído em quatro meses, com um orçamento de 90 mil dólares obtido como prêmio no festival coreano Jeonju Cinema Project com o longa de estreia de Naishtat, Historia del Miedo.
Na terça, será apresentado Vida Sexual de las Plantas, segundo longa do diretor chileno Sebastián Brahm, atualmente em cartaz em Santiago. O filme é uma investigação sobre a intimidade e a inadequação, foca sua narrativa em Bárbara (numa grande interpretação de Francisca Lewin), uma paisagista em um relacionamento estável com o advogado Guillermo (Mario Horton) que chega aos 30 anos sentindo-se pronta para engravidar. Um acidente, porém, muda por completo o convívio do casal. A culpa e o rancor tomam conta da vida a dois. O sexo passa a ter significados diferentes para cada um, e o amor e a paciência, que pareciam duradouros, deixam de existir.
O longa de quarta-feira, dia 22, será o argentino Paulina, de Santiago Mitre, refilmagem de um clássico do cinema argentino de 1960 (La patota, dirigido por Daniel Tinayre e com a musa argentina dos anos 1940/50, Mirtha Legrand, no papel principal). Na nova versão, Paulina Vidal, interpretada por Dolores Fonzi , é uma advogada com uma carreira promissora em Buenos Aires que decide voltar à sua cidade natal, Posadas, capital da província de Misiones, para se dedicar à atividade social. Na segunda semana após sua chegada, ela é atacada e violada por uma gangue (patota, em castelhano). Ante a surpresa de todos que a rodeiam, inclusive seu pai (Oscar Martínez, de Relatos Selvagens), um juiz progressista que deseja prender e punir os responsáveis pelo estupro da filha, Paulina decide voltar a trabalhar na escola do bairro. O espanto do pai é maior quando Paulina se descobre grávida e opta por não abortar e não denunciar os que a atacaram.
Na quinta-feira, será exibido o filme paraguaio Mangoré, por Amor al Arte, cinebiografia do grande violonista clássico paraguaio Agustín Pío Barrios (1885-1944) e maior produção do cinema guarani, dirigida pelo chileno Luis Vera. Rodado em vários países latino-americanos, Mangoré é interpretado pelo estreante paraguaio Cesar Franco, como Barrios na fase jovem, e pelo mexicano Damián Alcázar (o padre Natalio de O Crime do Padre Amaro), na fase adulta. A brasileira Aparecida Petrowky faz o papel de Gloria, que Mangoré conheceu no Rio, em 1930, e que foi sua companheira até o final da vida.
Na sexta, o FAM 20 anos encerra com dois filmes brasileiros. Às 18h, será exibido o filme Angelus Novus, dirigido pelo casal de cineastas catarinenses Cláudia Cárdenas e Rafael Schlichting. Angelus Novus, que tem como proposta o cinema como experimento, sem a necessidade de contar uma história, ultrapassando os limites do convencional, foi inteiramente captado em formato digital na cidade catarinense de Urubici e tem no elenco Edgard Navarro, diretor baiano, mito do cinema marginal dos anos 1970/80; Daniel Santiago, performer e artista visual da dupla Brusky & Santiago, de Recife; Chico César, cantor, compositor paraibano que estreia como ator/performer; e Juliana Elting, atriz do grupo Oficina, de José Celso Martinez Corrêa.
Após a premiação da Mostra Competitiva, o Festival encerra com a exibição de Campo Grande, de Sandra Kogut. O filme conta a história de duas crianças pequenas que aparecem do nada no apartamento de Regina, uma mulher de classe média em Ipanema, no Rio de Janeiro.
Além da Mostra DOC-FAM, o Florianópolis Audiovisual Mercosul traz ainda as mostras Curtas Catarinenses (com seis filmes), Curtas Mercosul, (com 15 produções) e a Mostra Infanto-juvenil (com mais seis filmes).
No total, serão 35 produções de seis países participando das quatro mostras do FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul, de 17 e 24 de junho, no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, sempre com entrada gratuita.