O declínio das verdades absolutas
Vivemos uma era em que as até então verdades absolutas vão caindo por terra. Nesse mundo midiático e performático, colaborativo e instantâneo, verdades, dogmas e teses são contestados e negados na velocidade da luz.
O maniqueísmo que alguns ainda defendem não se sustenta, às vezes nem por minutos. Não há mais tempo nem lugar para posições absolutas. Bem e Mal, Esquerda e Direita, Masculino e Feminino. Há um pouco de tudo em cada um de nós. Há um muito de coletivo em cada ação individual, e um tanto de pessoal e intransferível em cada gesto coletivo.
E no audiovisual? O que era verdade absoluta e como nos portamos diante das mudanças inexoráveis do cotidiano contemporâneo?
Era verdade que emissora de televisão era quem produzia programas. Era verdade que tínhamos horário marcado para assistirmos a nossos programas preferidos. Assim como era verdade que programador era programador, produtor era produtor e operador de canais era operador/empacotador. Que cinema era cinema, TV era TV, web era web.
Quantos exemplos temos de que todas essas verdades/definições já se dissolveram? Produtores e “pessoas físicas” têm seus próprios canais de TV nas plataformas web e móveis; distribuidores implantaram canais de TV por assinatura; canais abertos estão conectados na web todo o tempo; portabilidade e mobilidade levam as obras visuais a qualquer tela, cada vez mais individualizada. Canais de TV são coprodutores de séries e filmes; operadores internacionais de TV por assinatura adquirem canais abertos de TV e se transformam em radiodifusores.
Como achar um lugar nesse “mundo novo” para realizar negócios de produção e distribuição? Se todas as tecnologias parecem acessíveis a todos, como se diferenciar no coletivo?
Estamos naquele ponto em que a “aldeia global”, a globalização predatória, nos trouxe de volta ao ponto inicial – à máxima segmentação. De volta ao conteúdo especializado, único. De volta à “história original a ser contada”. Um mundo em que todos querem ser únicos apesar de todos semelhantes, compartilhados, socializados. Os modelos de negócio no audiovisual se desdobram cada vez mais criativos, tanto quanto forem originais suas histórias.
Assim como a escolha do parceiro mais adequado para atingir o público-alvo desejado e o retorno necessário. É o tempo de estudar mais o negócio, o mercado. Criatividade aliada à cultura negocial. Estar no lugar certo, na hora certa, com o produto certo.
Outra verdade que vai escorrendo por entre os dedos: uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Nessa nova ordem, hoje se exige algo mais: da cabeça à apresentação, da câmera à tecnologia, e um bom “negócio na mesa” dos financiadores/acionistas.
Essa parece ser uma nova ordem da “verdade” no audiovisual. Pelo menos enquanto escrevo esse pequeno artigo.
Por Mauro Garcia, Presidente Executivo da BRAVI – Brasil Audiovisual Independente