Mostra Tiradentes faz 20 anos valorizando o cinema independente

Mostra de Cinema Tiradentes, cidade da região do ouro mineira, comemora, de 20 a 28 de janeiro, seus primeiros 20 anos e, por extensão, os 10 anos da Mostra Aurora, espaço dedicado à descoberta de jovens realizadores. “Nossa briga” – explicita o curador do festival, o crítico e professor Cléber Eduardo – “sempre se deu pela conquista de espaço para filmes de estruturas mais precárias e independentes enquanto matéria e poder de existência”, mas “com algum nível de inventividade e inquietação”. Ou seja, a aposta recai sobre produções de baixo (ou baixíssimo) orçamento e explícita inquietação formal. Filmes feitos “com gana e não com grana”.

“Baronesa”, de Juliana Antunes

Mostra Autora: revelando novos talentos

A Mostra Aurora tornou-se, ao longo de sua primeira década de existência, o principal evento do festival mineiro. Este ano, ela apresentará “Um Filme de Cinema”, o novo longa-metragem do paulistano Thiago B. Mendonça, vencedor do ano passado com o ainda inédito “Jovens Infelizes ou um Homem que Grita Não É um Urso que Dança”. Com ele, na competição pelo Troféu Barroco, estarão mais seis filmes, vindos de três Estados: os mineiros “Eu Não Sou Daqui”, de Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter, “Baronesa”, de Juliana Antunes, e “Subybaya”, de Leo Pyrata; o cearense “Corpo Delito”, de Pedro Rocha; e os paulistas “Histórias que nosso Cinema (Não) Contava”, de Fernanda Pessoa, e “Sem Raiz”, de Renan Rovida.

“Eu Não Sou Daqui”, de Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter

Cléber Eduardo vê na seleção “a forte presença de filmes que respondem ao atual momento histórico de efervescências políticas e sociais do país”. A temática desta edição sintetiza-se no postulado ‘Cinema em Reação, Cinema em Reinvenção’”. Segundo ele, três destes filmes são mais diretos em suas relações com as questões do momento político no Brasil; “Corpo Delito” mostra um personagem que, saindo da prisão, precisa se mover com uma tornozeleira eletrônica. “Baronesa” e “Sem Raiz” exibem ambientes urbanos nos quais as mulheres são as figuras centrais e de atenção. As mulheres também se fazem presença essencial em “Subybaya”, desta vez como corpos ao mesmo tempo de conflito e de análise; “Eu Não Sou Daqui” desloca a câmera para os homens, na história de duas pessoas entre a solidão e o futebol de várzea. E constata: “Não são filmes de choque, e sim de comentários sociais”.

“Subybaya”, de Leo Pyrata

Dois dos selecionados seguem “linhas políticas menos evidentes”, ainda que “presentes sob várias medidas”: “Histórias que nosso Cinema (Não) Contava” é todo feito a partir de imagens de arquivo de filmes da pornochanchada dos anos 1970 e 80, com viés e montagem que transmitem uma ideia de Brasil e de inclinações da sociedade da época, e “Um Filme de Cinema”, protagonizado por uma criança, tem atmosfera de um conto infanto-juvenil.

“Sem Raiz”, de Renan Rovida

Além da Aurora, serão exibidos seis filmes, um de cada Estado brasileiro, na Mostra Olhos Livres. Do Maranhão, chega o terceiro longa de Frederico Machado, “Lamparina da Aurora”; do Espírito Santo, “Os Incontestáveis”, de Alexandre Serafim; de Pernambuco, “Modo de Produção”, de Dea Ferraz; e de Minas Gerais, “Homem Peixe”, de Clarisse Alvarenga. A eles, se somam “Guerra do Paraguay”, de Luiz Rosemberg Filho (RJ), e “A Destruição de Bernardet”, de Cláudia Priscila e Pedro Marques (SP).

“Histórias que nosso Cinema (Não) Contava”, de Fernanda Pessoa

Atrizes homenageadas

Duas atrizes-cineastas serão homenageadas: a veterana Helena Ignez e a estreante Leandra Leal. Helena, a “mulher de todos” os movimentos mais significativos do cinema brasileiro desde os anos 1960, vem solidificando carreira como diretora, onde já assinou a direção de seis filmes. Leandra, atriz bem-sucedida desde os 13 anos, quando protagonizou “A Ostra e o Vento”, impressionou a todos por seu comando seguro e seu mergulho criativo já em seu primeiro longa como realizadora, o documentário “Divinas Divas”, sobre oito travestis brasileiras.

“Corpo Delito”, de Pedro Rocha

Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora da Mostra Tiradentes, promete muitas novidades nesta edição de número 20 e a preocupação em deixar um legado para a cidade de Tiradentes. “Por um lado, nossa Mostra foi testemunha do surgimento de uma nova geração de realizadores, trilhando caminhos diferentes que se desdobraram em gestos e atitudes que imprimiram a identidade de um novo jeito de fazer festival de cinema. Por outro lado, nos preocupamos também em deixar um legado para a comunidade tiradentina e para o público que frequenta o evento”.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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