Brasília recebe mostra de diretoras negras
A mostra Diretoras Negras no Cinema Brasileiro acontece, no teatro da CAIXA Cultural Brasília, de 4 a 11 de julho. Com curadoria de Kênia Freitas e Paulo Ricardo de Almeida, o projeto traça uma retrospectiva da produção cinematográfica empreendida pelas cineastas negras no Brasil, desde as pioneiras Adélia Sampaio e Danddara, até nomes contemporâneos como Juliana Vicente, Larissa Fulana de Tal, Lilian Solá Santiago, Renata Martins, Sabrina Fidalgo, entre outras.
O público vai conferir 46 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens; ficção e documentário, em digital. A programação ainda traz dois debates abertos ao público: no dia 4 de julho (terça), às 19 horas, o primeiro debate aborda “Perspectivas e transformações: a mulher negra no cinema nacional”, com as presenças das debatedoras Viviane Ferreira e Edileuza Penha de Souza e mediação da curadora Kênia Freitas. O debate conta com tradução em Libras, para portadores de necessidades especiais.
O segundo debate ocorre dia 8 de julho (sábado), às 19 horas, quando se trata sobre “O percurso das diretoras negras no cinema brasileiro”, com as debatedoras Flora Egécia e Letícia Bispo e mediação pelo curador, Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida.
No que tange à acessibilidade, a mostra também vai contar com uma sessão com audiodescrição e Closed Captions para portadores de necessidades especiais, do filme “Leva” (2011, 55 min), direção de Juliana Vicente e Luiza Marques, às 17h30, domingo, dia 9 de julho.
Adélia Sampaio começou no cinema em 1969, através da Difilm, distribuída fundada por Rex Endsley, Riva Faria, Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, entre outros. Ela aprendeu cinema na prática, como diretora de produção de diversos longas-metragens. Eduardo Leone ensinou-lhe montagem; Marcos Faria, roteiro; e José Medeiros, fotográfica. Filha de empregada doméstica, Adélia Sampaio dirigiu quatro curtas-metragens. O primeiro foi “Denúncia Vazia”, baseado no fato verídico de um casal de idosos que, sem condições de pagar o aluguel, cometem suicídio. O segundo curta foi “Agora um Deus Dança em Mim!” e conta a história de uma jovem que estuda balé clássico por dez anos e descobre que não existe mercado de dança no Brasil. “Adulto não Brinca” mostra a intolerância do adulto para com a criança. Por fim, “Na Poeira das Ruas”, sobre pessoas que moram na rua, no centro da cidade, embaixo dos viadutos. Armazenados na Cinemateca do MAM, os negativos dos quatro curtas-metragens desapareceram.
Em 1984, Adélia Sampaio se tornou a primeira diretora afrodescendente a dirigir um longa-metragem no Brasil: “Amor Maldito”, que também carrega o peso de ser o primeiro filme com temática inteiramente lésbica no cinema nacional. A ousadia, considerada absurda pela Embrafilme, que lhe negou financiamento, forçou Adélia Sampaio e sua equipe a trabalharem em regime de cooperativa. Emiliano Queiroz, Nildo Parente e Neusa Amaral abriram mão do pró-labore. Nenhuma sala, contudo, aceitou exibi-lo, até que o Cine Paulista (hoje Olido) propôs que “Amor Maldito” fosse divulgado como filme pornô.
Nos anos 1990, a realidade do Cinema Feminino Negro no Brasil pouco se alterou. Danddara, umas das resistências do período, ingressou no cinema profissional fazendo assistência para Paulo Rufino (Canto da Terra, 1991). Mas o seu primeiro curta, “Gurufim na Mangueira” (2000) foi recusado três vezes pelo Ministério da Cultura antes de ser aprovado. E, ainda assim, a diretora usou de diversos subterfúgios para driblar o racismo institucional, como assinar o projeto com um pseudônimo francês e relevar para segundo plano a sua autoria do roteiro.
Não há um “movimento” de cineastas negras, no sentido de uma agenda que as unifique. Cada uma trabalha suas próprias questões que, no entanto, acabam por se encontrar nas pautas em ebulição no Brasil entre mulheres afrodescendentes: feminismo, identidade de gênero, machismo, patriarcalismo, assédio sexual, racismo, orgulho étnico, injustiças raciais e sociais, herança africana. São diretoras, em sua maioria, jovens, de diferentes locais do país: Amazonas (Elen Linth, Keyla Serruya), Rio de Janeiro (Larissa Fulana de Tal), Brasília (Eliciana Nascimento), São Paulo (Renata Martins).
A programação completa da mostra pode ser conferida no site www.caixacultural.gov.br.
Diretoras Negras no Cinema Brasileiro
Data: 4 a 11 de julho
Local: Caixa Cultural Brasília – Teatro da CAIXA – SBS Quadra 4 Lotes 3/4 Edifício anexo à matriz da Caixa – (61) 3206-6456 e 3206-9448
Ingressos: Entrada franca