Prêmios Platino 2017

A noite madrilenha dos Prêmios Platino assistiu a mais um triunfo argentino (das quatro edições, eles venceram duas: primeiro com “Relatos Selvagens”, agora, com “O Cidadão Ilustre”). E viu, também, o brilho do espanhol Pedro Almodóvar, melhor diretor por “Julieta”, da brasileira Sonia Braga, melhor atriz por “Aquarius”, e do cubano Jorge Perugorría, protagonista da melhor série “Quatro Estações em Havana”, inspirada em livros de Leonardo Padura.

E foi justo o trio Almodóvar, Sonia e Perugorría os responsáveis pelos mais belos agradecimentos da quarta noite dos Platino. Como o ator norte-americano, de origem mexicana, Edward James Olmos, laureado com o Platino de Honra, não conseguiu repetir o brilho do discurso de Antonio Banderas, dois anos atrás, na Andaluzia espanhola, Almodóvar ocupou o espaço. Ao agradecer o prêmio de melhor diretor, o cineasta espanhol lembrou que o dramático e feminino “Julieta” é “um filme sobre o desaparecimento”, no caso de uma filha (e da angústia da mãe que a procura).

Do doloroso e pessoal tema de “Julieta”, Almodóvar passou ao tema coletivo do desaparecimento político, para solicitar às autoridades de seu país que revelem o destino dos desaparecidos na Guerra Civil Espanhola. “Isto” – postulou – “não é dividir o país. É cicatrizar feridas abertas”.

Sonia Braga, que na primeira edição dos Prêmios Platino, em Cuidad Panamá, recebera o inaugural Platino de Honor e, abalada pela morte do amigo José Wilker, pouco falara, desta vez, proferiu agradecimento caloroso, falou de Doña Clara (nome do filme no mercado hispânico), sua personagem, e do prazer de interpretá-la em sua língua materna, o português. Com carreira nos EUA, havia muitos anos que a atriz não protagonizava um filme brasileiro.

O cubano Jorge Perugorría falou pouco, mas exalou felicidade ao dedicar o prêmio de melhor série (atribuído à produção da Netflix “Quatro Estações em Havana”) ao grande escritor Leonardo Padura e à amada cidade de Havana, “personagem importantíssima” na narrativa comanda pelo detetive Mario Conde.

Os argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn (diretores de “Cidadão Ilustre”, em cartaz no Brasil), e seus produtores subiram ao palco com o ator Oscar Martinez (o ilustre cidadão premiado com o Nobel de Literatura, que regressa à sua provinciana cidade natal) e o roteirista André Duprat. Todos premiados. A noite platina, mais uma vez, reconheceu a capacidade do cinema portenho de realizar filmes que conseguem falar de temas densos e, ao mesmo tempo, dialogar com o público. E temperá-los com ironia e humor.

O primeiro país a vencer o Platino foi o Chile, com “Glória”, de Sebastián Lélio. O segundo, a Argentina (com o badalado “Relatos Selvagens”, de Damián Szifrón) e o terceiro, a Colômbia, com o poderoso “O Abraço da Serpente”, de Ciro Guerra. O Brasil continua na fila de espera no que se refere à categoria longa-metragem de ficção. Já venceu nas categorias animação (com “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu) e documentário, com “O Sal da Terra” (de Wim Wenders e Juliano Salgado). E conquistou o Prêmio Educação em Valores, para obras de tom humanista, com “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert.

Houve protestos no palco da festiva noite madrilenha, comandada pela ‘cantriz’ uruguaia Natalia Oreiro e pelo cômico Carlos Latre. A atriz venezuelana Prakriti Maduro (sem nenhum parentesco com o presidente Nicolás Maduro) ostentou a bandeira de seu país e fez protesto moderado. Já o cineasta Lorenzo Viga, que triunfou em Veneza com “Desde Allá” (no Brasil “De Longe Eu te Vejo”) e conquistou o Platino de melhor opera prima (filme de diretor estreante), pediu paz para sua conflagrada Venezuela. Os outros discursos, endossados por canções de astros do pop e rap latino, pregaram “o fim da construção de muralhas, que segregam, e o erguimento de pontes, que unem”. Ecoando, claro, a ideia de Donald Trump de separar, com imensa muralha, os EUA do México.

A festa terminou com um hit chiclete hispânico – “Más Macarena” – interpretado por Del Río e por ‘raperos’ cubanos do grupo Gente de Zona. E todo mundo dançando. Almodóvar e Sonia Braga, que sentaram-se lado a lado (vestidos ambos com chamativos trajes vermelho-vinho), não escondiam sorrisos de felicidade. E de amizade.

OS VENCEDORES DO PLATINO:

“O Cidadão Ilustre” (Argentina) – melhor filme, ator (Oscar Martinez), roteiro (Andrés Duprat)

“Julieta” (Espanha) – melhor diretor (Pedro Almodóvar) e  trilha sonora (Alberto Iglesias)

“Aquarius” (Brasil) – melhor atriz (Sonia Braga)

“De Longe te Observo” (Venezuela), melhor filme de diretor estreante

“Psiconautas, los Niños Olvidados” (Espanha) – melhor animação

“2016 – Nascido na Síria” (Espanha) – melhor documentário

“Esteban” (Cuba) – Prêmio Educação em Valores

“Quatro Estações em Havana” (Espanha-Cuba) – melhor série de TV

“Sete Minutos Depois da Meia-Noite” (Espanha) – melhor fotografia, montagem, direção de arte e som.

Platino de Honor para o ator chicano Edward James Olmos

 

Por Maria do Rosário Caetano

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