Crítica argentina seleciona finalistas aos Prêmios Condor de Prata

Por Maria do Rosário Caetano

A Argentina destina dois prêmios a seus melhores filmes, diretores, atores e técnicos: o Condor de Prata, atribuído há 68 anos por sua Associação de Cronistas Cinematográficos, e o Sur, distribuído pela Academia Nacional das Artes e Ciências Cinematográficas, desde 2004.

O duradouro e respeitado Condor, que se aproxima de 70 edições (algo espantoso para cinematografias não-hegemônicas como as latino-americanas), será entregue tão logo se supere a quarentena contra o coronavírus. A cerimônia de entrega dos trofeus aos vencedores contará com transmissão ao vivo pela TV Pública.

Registre-se que, no país platino, a emissora atinge significativos índices de audiência. A festa acontecerá no tradicional Centro Cultural 25 de Mayo.

A lista de finalistas (ver destaques abaixo) incluiu um título brasileiro – o mineiro “Arábia”, de Affonso Uchoa e João Dumans, que concorre na categoria “melhor filme ibero-americano” e enfrentará dois pesos-pesados – o espanhol “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, e o colombiano “Pássaros de Verão”, de Ciro Guerra e Cristina Gallego.

O Brasil ainda pega carona na categoria atores protagonistas. Mercedes Morán concorre a melhor atriz e Gustavo Garzón, a melhor ator, ambos pela coprodução “Sueño Florianópolis”, de Ana Katz, realizada em Santa Catarina. O filme, falado, muitas vezes, em saboroso portunhol, conta em seu elenco com os brasileiros Andrea Beltrão e Marco Ricca. Ambos em papeis de destaque.

Há que se lembrar que o Condor de Prata é um prêmio da Crítica argentina (a Associação conta com 67 integrantes). E críticos gostam de filmes inovadores, que fujam do mainstream. Daí, a reduzida atenção dada ao “Darín movie” da temporada, “A Odisséia dos Tontos”. O filme, lançado com relativo sucesso no mercado brasileiro (quase 100 mil espectadores), só conseguiu uma indicação ao Condor (roteiro adaptado, para Sebastián Borensztein e Eduardo Sacheri, a partir do livro “La Noche de la Usina”). Já nos Prêmios Sur, voltados à indústria audiovisual e tendo seus artífices (produtores, diretores, atores e técnicos) como votantes, “La Odisea de los Giles” deve figurar entre os recordistas de indicações.

A Argentina lançou, ao longo de 2019, espantosos 223 filmes (no Brasil, a média tem sido de 150 a 170 longas ficcionais e documentais). “Las Buenas Intenciones”, de Ana García Blaya, é o longa-metragem com maior número de indicações ao Condor (14), seguido por “Muere, Monstruo, Muere”, de Alejandro Fadel (11), “Los Sonámbulos”, de Paula Hernández (8), “Breve Historia del Planeta Verde”, de Santiago Loza, e “La Afinadora de Árboles”, de Natalia Smirnoff (com 6 cada um). Todos são inéditos no circuito comercial brasileiro. Alguns deles passaram pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ou pelo Festival do Rio.

A Associação dos Cronistas Argentinos resolveu, a partir deste ano, premiar a melhor coprodução de um país latino com a Argentina. O Brasil não figura entre os finalistas. Os escolhidos são o badalado “Monos”, da Colômbia, os uruguaios “Así Habló el Cambista” e “Los Tiburones”, o paraguaio “Matar a un Muerto” e o italiano “Hogar”.

Note-se que a Itália destaca-se, também, na categoria melhor filme ibero-americano, com “Santiago, Itália”, de Nanni Moretti (sobre o golpe que, em 1973, derrubou Salvador Allende e a acolhida que a Península deu aos exilados). Como o documentário é uma coprodução com o Chile, encaixou-se bem no universo ibero-americano.

Outra novidade da Associação dos Críticos para este ano está no campo dos troféus especiais. O Prêmio María Luisa Bemberg será atribuído a uma mulher que tenha se destacado dentro da indústria audiovisual argentina. Já o Prêmio Leonardo Favio caberá a uma personalidade masculina relevante no cinema do país. Vale lembrar que Bemberg (1922-1995), diretora de “Eu, a Pior de Todas”, e o cantor, ator e diretor Favio (1938-2012), autor de “Cronica de un Niño Solo”, são nomes de imenso prestígio na história do cinema platino.

Já o Prêmio Salvador Sammaritano será entregue a um crítico que integre os quadros associativos da ACCA. O primeiro filme premiado pelos críticos argentinos com o Condor foi “La Guerra Gaucha”, de Lucas Demare, o último, ano passado, foi “O Anjo”, de Luis Ortega, lançado no circuito comercial brasileiro.

A Associação dos Cronistas, que foi criada em 1942, não ignora o universo das TVs. Tanto que fará realizar, no último trimestre deste ano, cerimônia que premiará séries e telefilmes exibidos em emissoras de televisão e/ou plataformas digitais entre primeiro de janeiro de 2019 e 31 de julho de 2020.

Confira os principais indicados ao Condor:

Melhor longa (ficção)

. “Las Buenas Intenciones”, de Ana García Blaya
. “La Afinadora de Árboles”, de Natalia Smirnoff
. “Los Sonámbulos”, de Paula Hernández
. “Muere, Monstruo, Muere”, de Alejandro Fadel
. “Breve Historia del Planeta Verde”, de Santiago Loza
. “El Cuidado de los Otros”, de Mariano González

Melhor documentário

. “Ausencia de Mí”, de de Melina Terribili
. “Que Sea Ley”, de Juan Solanas
. “Foto Estudio Luisita”, de Sol Miraglia e Hugo Manso
. “La Feliz, Continuidades de la Violencia”, de Valentín Javier Diment
.“Encandilan Luces, Viaje Psicotrópico con Los Síquicos Litoraleños”, de Alejandro Gallo

Filme de Diretor Estreante (Opera Prima)

. “Las Buenas Intenciones”, de Ana Blaya
. “Ciegos”, de Fernando Zuber
. “La Botera”, de Sabrina Blanco
. “Las Facultades”, de Eloísa Solaas
. “Magalí”, de Juan Pablo Di Bitonto
. “Pistolero”, de Nicolás Galvagno

Filme Coproduzido com a Argentina

. “Monos”, de Alejandro Landes (Colômbia, Argentina, Países Baixos, Suécia, Uruguai, EUA, Suíça, Dinamarca, França)
. “Así Habló el Cambista”, de Federico Veiroj (Uruguai, Argentina,
Alemanha)
. “Hogar”, de Maura Delpero (Itália, Argentina)
. “Los Tiburones”, de Lucía Garibaldi (Uruguai, Argentina, Espanha)
. “Matar a un Muerto”, de Hugo Giménez (Paraguai, Argentina)

Melhor filme ibero-americano

. “Arábia”, de João Dumans e Affonso Uchoa (Brasil)
. “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar (Espanha)
Dinamarca, México, Alemanha, Suíça, Franca)
. “Santiago, Itália”, de Nanni Moretti (Itália, Chile, França)
. “Belmonte”, de Federico Veiroj (Uruguai, Espanha, México)

Melhor direção

. Ana García Blaya, por “Las Buenas Intenciones”
. Natalia Smirnoff, por “La Afinadora de Árboles”
. Paula Hernández, por “Los Sonámbulos”
. Alejandro Fadel, por “Muere, Monstruo, Muere”
.Mariano González, por “El Cuidado de los Otros”
. Santiago Loza, por “Breve Historia del Planeta Verde”

Melhor atriz

. Mercedes Morán, por “Sueño Florianópolis”
. Paola Barrientos por “La Afinadora de Árboles”
. Belén Blanco, por “La Deuda”
. Sofía Gala Castiglione, por “El Cuidado de los Otros”|
. Érica Rivas, por “Los Sonámbulos”

Melhor ator

. Gustavo Garzón, por “Sueño Florianópolis”
.Esteban Bigliardi, por “Muere, Monstruo, Muere”
. Javier Drolas, por “Las Buenas Intenciones”
. Marcelo Subiotto, por “Ciegos”
. Tomás Wicz, por “Los Miembros de la Familia”

Melhor atriz coajuvante

.Eva Bianco, por “Vigilia en Agosto”
. Laila Maltz, por “Los Miembros de la Familia”
. Leonor Manso, por “La Deuda”
. Soledad Silveyra, por “Los Adoptantes”
.Jazmín Stuart, por “Las Buenas Intenciones”

Melhor ator coajuvante

.Sebastián Arzeno, por “Las Buenas Intenciones”
.Diego Cremonesi, por “La Afinadora de Árboles”
. Rafael Federman, por “Los Sonámbulos”
. Nicolás Mateo, por “Baldío”
. Luis Ziembrowski, por “Los Sonámbulos”

Revelação Feminina

. Ornella D’Elía, por “Los Sonámbulos”
. Romina Escobar, por “Breve Historia del Planeta Verde”
. Amanda Minujín, por “Las Buenas Intenciones”
. Rita Pauls, por “Vigilia en Agosto”
. Nicole Rivadero, por “La Botera”

Revelação Masculina

. Alfonso Barón, por “Un Rubio”
. Valentino Catania, por “Delfín”
. Walter Javier, por “Hombres de Piel Dura”
. Benicio Mutti Spinetta, por “Ciegos”
. Tomás Raimondi, por “Cartero”
. Gastón Re, por “Un Rubio”

Melhor roteiro original

. Natalia Smirnoff, por “La Afinadora de Árboles”
. Ana García Blaya, por “Las Buenas Intenciones”
. Mateo Bendezky, por “Los Miembros de la Familia”
. Marco Berger, por “Un Rubio”
. Alejandro Fadel, por “Muere, Monstruo, Muere”
. Santiago Loza, por “Breve Historia del Planeta Verde”

Melhor roteiro adaptado 

. Sebastián Borensztein e Eduardo Sacheri, por “A Odisséia dos Tontos” (baseado no livro “La Noche de la Usina”, de Eduardo Sacheri)
. Leonel D’Agostino, por “El Hijo”, baseado no livro “Una Madre Protectora”, de Guillermo Martínez
. Macarena García Lenzi e Martín Blousson, por “Piedra, Papel y Tijera”, baseado na peça teatral “Sangre de mi Sangre”, de Macarena García Lenzi 

Melhor dirección de fotografia

. Soledad “Yarará” Rodríguez, por “Las Buenas Intenciones”
. Julián Apezteguia e Manuel Rebella, por “Muere, Monstruo, Muere”
. Iván Gierasinchuk, por “Los Sonámbulos”
. Eduardo Pinto, por “La sabiduría”
. Diego Poleri, por “La deuda”

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