Noite inaugural e virtual do Festival de Gramado é nesta sexta

Por Maria do Rosário Caetano

Dois curtas e dois longas-metragens darão a partida virtual da quadragésima-oitava edição do Festival de Cinema de Gramado, na noite dessa sexta-feira, 18 de setembro, na telinha do Canal Brasil. O mais badalado dos festivais brasileiros prosseguirá até dia 26, sem nenhuma sessão presencial.

Às oito da noite, será dada a largada das três principais competições aos troféus Kikito: de curtas brasileiros, de longas latino-americanos e de longas brasileiros. O primeiro filme a ser exibido será “4 Bilhões de Infinitos”, do mineiro Marco Antônio Pereira, escolha das mais felizes, pois, além de muito inventivo, o cineasta de Cordisburgo, conterrâneo de Guimarães Rosa, faz questão de estrear todas as suas inusitadas estórias no festival gaúcho. Depois de “4 Bilhões”, será mostrado “Receita de Caranguejo”, produção paulistana dirigida por Issis Valenzuela.

Detalhe fundamental: os curtas permanecerão no ar por mais 24 horas, mas no Canal Brasil Play (o streaming do Canal Brasil). Já os longas, só serão mostrados no horário programado (sessão única, quem perder, não terá como ver o filme em outro horário ou plataforma).

O primeiro longa em competição é o brasiliense “Por que Você Não Chora?”, de Cibele Amaral. No elenco dessa narrativa de temática feminina explícita estão Elisa Lucinda, Bárbara Paz, Cristiana Oliveira, Luciana Martuchelli e Maria Paula. Cibele já triunfou em Gramado, mas na competição de curtas, com o divertidíssimo “Momento Trágico” (2003). Poderão assistir ao seu novo (e segundo) longa-metragem, espectadores de todas as regiões brasileiras. Não há limite de acessos. Basta ser assinante do Canal Brasil, emissora a cabo.

Depois da primeira dose de cinema no feminino (dos sete concorrentes, três são dirigidos por mulheres), será exibido o longa argentino “El Silencio del Cazador”, de Martin Desalvo, um dos seis concorrentes nessa categoria (o sétimo, o boliviano “Tu me Manques”, de Rodrigo Bellot, deixou a competição por desejo de seus produtores).

No segundo dia da festa gaúcha (sábado, 19), serão exibidos mais dois curtas: o pernambucano “Inabitável”, de Matheus Farias e Enock Carvalho, e o gaúcho “Subsolo”, de Erica Maradona e Otto Guerra. Em seguida, será a vez do longa paulistano “Todos os Mortos”, da dupla Caetano Gotardo e Marco Dutra, que representou o Brasil na disputa pelo Urso de Ouro de Berlim, no começo desse ano. Trata-se de drama de época, que se passa no Brasil da virada do século XIX para o XX, portanto nos anos que se seguiram ao fim da escravidão (pelo menos no texto frio da lei, dita Áurea).

A competição latino-americana prosseguirá com o colombiano “La Frontera”, de David David. Vale lembrar que o cinema do país de Gabriel García Márquez vive ótimo momento, com prêmios em festivais internacionais de primeira linha e indicações ao Oscar (“O Abraço da Serpente” e “Pássaros de Verão”, ambos de Ciro Guerra, o segundo com Cristina Gallego, são os exemplos mais notáveis).

No domingo (dia 20), mais dois curtas: os cariocas “Atordoado, Eu Permaneço Atento” (RJ), de Henrique Amud e Lucas H. Rossi, e “Blackout”, de Rossandra Leone. O longa brasileiro da noite é “Um Animal Amarelo”, do carioca Felipe Bragança, que foi filmado na Europa, África e Brasil. O longa latino-americano – “Días de Invierno”, de Jaiziel Hernández – traz, depois de longa ausência, de volta à competição gaúcha uma das mais importantes cinematografias do subcontinente, a mexicana.

Na segunda-feira, 21, mais dois curtas, o brasiliense “Wander VI”, de Augusto Borges e Nathalya Brum, e o paulistano “Extratos”, de Sinai Sganzerla, este, um ensaio poético sobre as andanças de Helena Ignez e Rogério Sganzerla por Áfricas desérticas e distantes. O primeiro longa documental, “O Samba é Primo do Jazz”, da carioca Angela Zoé, tem como tema a trajetória da sambista Alcione, cantora e trumpetista maranhense, que segue firme e forte em seu ofício (em novembro, ela fará 73 anos). Noite feminina, já que o filme uruguaio “El Gran Viaje al País Pequeño”, exibido em seguida, traz a assinatura de Mariana Viñoeles.

Na terça-feira, 22, a competição prossegue com os curtas “Dominique”, dos cariocas Tatiana Issa e Guto Barra, e “Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé”, de Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra (também cariocas). O longa brasileiro da noite será “Aos Pedaços”, do mestre cinemanovista Ruy Guerra. Aos 89, o diretor de “Os Cafajestes” e “Os Fuzis”, regressa ao Festival de Gramado, do qual participou com outros filmes (caso de “Estorvo“) e como integrante do júri.

O Paraguai, cinematografia de produção modesta, mas que vem chamando atenção (“As Herdeiras” causou sensação em Berlim, conquistou o Urso de Prata de melhor atriz e triunfou na mostra latino-americana de Gramado), comparece com “Matar a un Muerto”, de Hugo Giménez. O filme se passa em momento regido por governo ditatorial militar. Corpos são enterrados na floresta. Certa manhã, numa pilha de mortos, os “coveiros” descobrem alguém que ainda respira.

Na quarta-feira, 23, serão exibidos mais dois curtas, sendo o primeiro, paraibano (“Remoinho”, de Tiago A. Neves), e o segundo, paulistano (“Você Tem Olhos Tristes”, de Diogo Leite). E a competição ganha seu segundo longa documental, “Me Chama que eu Vou”, da paulistana Joana Mariani. O filme tem o cantor e rebolador Sidney Magal em foco. O chileno “Los Fuertes”, de Omar Zúñiga, encerra a noite.

Na quinta-feira, 24, serão exibidos filmes vindos do Nordeste (o alagoano “Trincheira”, de Paulo Silver) e do Norte (o amazonense “O Barco e o Rio”, de Bernardo Ale Abinader). A competição de longas vai iniciar-se com “King Kong en Asunción”, do pernambucano Camilo Cavalcante. Se “Animal Amarelo” perambula por três continentes, o “King Kong” brasileiro passa por três países (Bolívia, Paraguai e Brasil). Houve informação de que o diretor do premiadíssimo “A História da Eternidade” teria que mudar o sonoro e chamativo nome de seu terceiro longa-metragem, porque os detentores da marca “King Kong”, o gorilão de Hollywood, não haviam autorizado tal uso. Parece que os estadunidenses cederam. Pelo menos, temporariamente. A exibição da obra camiliana será um tributo a seu protagonista, o veterano ator brasiliense Andrade Júnior, que morreu no ano passado sem ver o filme pronto.

No último dia da competição (sexta-feira, 25), a noite começará, também às 20h, com programa especial, ou seja, um bloco de “Homenagens” a três atores e uma realizadora. Laís Bodanzky receberá o Troféu Eduardo Abelim, Denise Fraga, o Troféu Cidade de Gramado e Marco Nanini, o belo Troféu Oscarito. E o uruguaio Cesar Troncoso levará, para fazer companhia a seus Kikitos de metal, um Kikito de Cristal, destinado a grandes nomes do cinema latino-americano. Foi em Gramado que o Brasil descobriu esse talentoso ator platino. Graças a seu excelente trabalho no filme “O Banheiro do Papa”, de Enrique Fernández e Cesar Charlone, o inspirado Troncoso a todos encantou.

No sábado, dia da entrega dos Troféus Kikito, será exibido o filme “Bye Bye Brasil” (Carlos Diegues, 1979). E, às 21h, acontecerá a cerimônia virtual de entrega dos Kikito. O comando de Gramado e o Canal Brasil prometem surpresas e uma cerimônia animada e feliz. Um bálsamo nesses tempos de pandemia e de administração federal que não mostra nenhum apreço pela cultura, nem pelo audiovisual brasileiro. A festa será ancorada do Palácio dos Festivais.

48º Festival de Cinema de Gramado
Data:
de 18 a 26 de setembro
• Filmes (curtas e longas) serão exibidos no Canal Brasil. Algumas mostras serão apresentadas por streaming, bastando acessar: https://globosatplay.globo.com/c/canal-brasil
• Curtas-metragens brasileiros estarão disponíveis, também, por 24 horas, através do serviço de streaming (das 23h59 do dia em que foi exibido na TV até às 23h59 do dia seguinte)
• Debates e entrevistas com equipes dos filmes concorrentes serão mostrados no dia posterior à exibição, de 18 a 27 de setembro, pelas redes do festival, das 10h às 12h, com apresentação de Roger Lerina
• O Canal Brasil Play (plataforma de streaming) mostrará, também, os longas e os curtas gaúchos em competição
• Os debates, o Educavídeo e o Gramado Film Market serão transmitidos pelas redes sociais e alguns conteúdos contarão com a parceria da TVE (TV Educativa de Porto Alegre) e TV Assembleia, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul
• A programação completa está disponível no site www.festivaldegramado.net/programacao

LONGAS GAÚCHOS

Disponíveis da 00h de sábado, 19 de setembro, até as 23h59 de quarta-feira, 23 de setembro.

. “Contos do Amanhã”, de Pedro de Lima Marques
. “Deborah! O Ato da Casa”, de Luiz Alberto Cassol
. “Portuñol”, de Thais Fernandes
. “Ten-Love”, de Bruno de Oliveira
. “Trapaça”, de Luke Schatzmann

GAUCHÃO – MOSTRA DE CURTAS-METRAGENS (Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema)

Os filmes da Mostra Gaúcha de Curtas serão divididos em quatro programas, que ficarão disponíveis entre as 14h de sábado, 19 de setembro, até as 23h59 de terça-feira, 22 de setembro.

Programa 1: “Dois Homens ao Mar”, de Gabriel Motta, “O que Pode um Corpo?”, de Victor Di Marco e Márcio Picoli, “O Luto Impossível”, de Bruno Carboni, “Pra Ficar Perto”, de Lucas dos Reis, “O Céu da Pandemia”, de Marina Kerber, “Quando te Avisto”, de Denise Copetti e Neli Mombelli.

Programa 2: “Teste de Elenco”, de Marcos Kligman e Mariany Espindola, “Letícia Monte Bonito 04”, de Julia Regis, “Construção”, de Leonardo da Rosa, “Ver a Vista”, de Daniel de Bem, “Deserto Estrangeiro”, de Davi Pretto.

Programa 3: “Fragmentos ao Vento 1945”, de Ulisses Da Motta, “Sopa Noir”, de Beatrice Petry Fontana, “Corpo Mudo”, de Marcela Schild , “Magnética”, de Marco Arruda.

Programa 4: “Bochincho – O Filme”, de Guilherme Suman, “Um Pedal”, de Alexandre Derlam, “Desencanto”, de Richard Tavares, “Lacrimosa”, de Matheus Heinz.

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