A morte do cineasta Moacir de Oliveira e do jornalista Artur Xexéo

Por Maria do Rosário Caetano

O final de semana registrou a morte de dois brasileiros que desempenharam significativas funções no setor cinematográfico – o cineasta e gestor cultural mineiro, Moacir de Oliveira, de 73 anos, e o jornalista e dramaturgo carioca Artur Xexéo, de 69 anos.

Moacir dirigiu a Embrafilme de 1988 até março de 1990, quando o Governo Collor extinguiu, por decreto, a empresa destinada ao fomento do cinema brasileiro. Dirigiu, também, um dos episódios do longa-metragem “Brasília, a Última Utopia”, produzido por José Pereirinha.

Discreto e afeito a conversas de bastidores, Moacir Ferreira de Oliveira nasceu em Sabará, na região do ouro de Minas Gerais, em 1947. Dividiu-se, incialmente, entre a poesia e realização de curtas-metragens. Começou com “A Vida Apenas”, ficção realizada em 1969. Dez anos depois, dirigiria o documentário “Senghor – Viagem a Ouro Preto”, com o qual registrou a visita que o presidente do Senegal e um dos difusores da Negritude, fez à primeira capital mineira. Realizaria, ainda, filmes dedicados a dois artistas plásticos – “Franz Weissmann”, sobre o brasileiro de origem austríaca (1911-2005), e João Câmara, pintor paraibano-pernambucano, hoje com 77 anos.

Sempre com apoio de José Aparecido de Oliveira, que foi governador de Minas, de Brasília (DF) e ministro da Cultura no Governo Sarney, Moacir passou a dedicar-se à gestão cultural. Além de presidente da Embrafilme, foi titular da Secretaria do Audiovisual.

Em 1989, Moacir de Oliveira participou de projeto cinematográfico que agitou a capital brasileira – o longa-metragem coletivo “Brasília, a Última Utopia”, composto de cinco episódios, todos ligados à paisagem física e humana da cidade criada por JK, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

Com “A Paisagem Natural”, Vladimir Carvalho mergulhou na vegetação do cerrado goiano, que cedeu espaço à cidade sonhada por Dom Bosco. O episódio ganhou, por comparação, o apelido de “Goianiqatsi”, já que na época fazia imenso sucesso o filmensaio “Koyaanisqatsi”, de Godfrey Reggio.

O baiano-brasiliense Roberto Pires dirigiu “A Volta de Chico Candango”, o cearense e professor da UnB, Pedro Jorge de Castro, “O Sinal da Cruz”, e o jovem Pedro Anísio, “Além do Cinema do Além”, com Joel Barcelos.

Moacir de Oliveira escolheu como inspiração para seu episódio, a “Suíte Brasília”, composição de Ricardo Vasconcelos, que encantava a capital federal em concertos, em especial os da Galeria Cabeças, comanda por Néio Lúcio.

A morte do cineasta e gestor cultural foi comunicada à Revista de CINEMA por Carlos Alberto Prates Corrêa, diretor de “Cabaret Mineiro”, “Noites do Sertão”, “Minas Texas” e “Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais”, este, um filmensaio sobre o cinema mineiro e brasileiro.

Vladimir Carvalho evocou a morte do colega Moacir de Oliveira lembrando “o vazio que ele deixa nas hostes de nosso cinema”, pois era “uma pessoa íntegra e competente e disso deixou provas em sua passagem pela Embrafilme, sempre identificada com as posições mais progressistas e coincidentes com as de nossa categoria profissional”.

Artur Xexéo era, em tudo, oposto ao discreto Moacir. Era alegre, expansivo, inquieto e irônico. O jornalista escreveu centenas de textos sobre cinema brasileiro e internacional nas páginas do Jornal do Brasil, O Globo e nas sucursais cariocas de Veja ou Isto é. Xexéo morreu em seu Rio de Janeiro natal, de câncer raro (linfoma não-hodkin da célula T). Sua morte pegou a todos de surpresa, pois até duas semanas atrás, ele seguia em seus trabalhos como colunista de O Globo, comentarista do “Estudio i”, na Globonews, e com participações na Rádio CBN. Numa de suas últimas crônicas, evocou a perda da atriz Camila Amado, de quem era amigo.

Além de muitos textos sobre cinema, Artur Xexéo escreveu peças para teatro, outra de suas paixões. À atriz Sônia Mamede (1936-1990), aquela do bordão televisivo notabilizado por Lúcio Mauro – “Cala a boca, Ofélia” – ele dedicou a peça “A Garota do Biquini Vermelho”. Era admirador devoto de Sônia, estrela das chanchadas tardias, de filmes e peças musicais e de telenovelas.

Xexéo escreveu, também, textos teatrais dedicados ao compositor Cartola (“O Mundo É um Moinho” ), à música francesa (“Nós Sempre Teremos Paris”), ao bolero (“Minha Vida Daria um Bolero”) e adaptou textos norte-americanos para os palcos brasileiros (“Xanadu” e “A Cor Púrpura”). Escreveu, também livros biográficos dedicados à trajetória de Janete Clair e a Hebe Camargo. Este foi uma das fontes do filme dirigido por Maurício Farias e protagonizado por Andrea Beltrão (“Hebe, a Estrela do Brasil”).

O jornalista-biógrafo-e-dramaturgo cobriu muitos festivais de cinema e exerceu a função de jurado em vários deles. Em especial em Paulínia, no interior paulista, e no Festival de Brasília. Xexéo não escondia seus filmes preferidos, nem seu empenho em fazer-se de cabo eleitoral daquele que considerava digno do prêmio máximo. Foi assim em Paulínia, quando apaixonou-se por “A História da Eternidade”, do pernambucano Camilo Cavalcante, com elenco coral, formado por Irandhir Santos, Zezita Matos, Marcélia Cartaxo, Débora Ingrid, Claudio Jaborandy e Maxwell Nascimento.

Apaixonado por televisão desde a infância, Artur Xexéo até criou uma espécie de alter-ego em Dona Candinha, espectadora atenta a tudo que se passava na telinha, mas que fingia desprezar o veículo. Além de dedicar-se a assuntos mais frívolos (como os “fita-banana”, aqueles que pareciam não ter fim, e à eleição do “mala do ano”), Xexéo mostrava-se um olhar atento ao mundo dos folhetins televisivos.

Nenhum crítico de novela percebeu e apontou falha crassa em novela das sete da noite, na Rede Globo. Pois Xexéo o detectou e o registrou em crônica saborosa: a mansão de casal de milionários, importantíssima na trama, vista de fora era térrea. Ou seja, com um único piso. Já vista internamente, a residência cenografada com requinte global, continha imensa escada, que levava a um segundo andar. Personagens subiam e desciam por seus degraus. Xexéo só não entendia para onde subiam, já que todas as imagens externas do luxuoso casarão não revelavam dois andares.

O jornalista substituiu José Wilker nas transmissões da cerimônia do Oscar, nos últimos seis anos, ao lado de Maria Beltrão. Xexéo foi casado por mais de 30 anos com o documentarista Paulo Severo.

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