Mostra SP apresenta “Já que Ninguém me Tira para Dançar” longa sobre trajetória de Leila Diniz

Por Maria do Rosario Caetano

O longa documental “Já que Ninguém me Tira para Dançar”, de Ana Maria Magalhães, dá inicio às homenagens que serão prestadas à atriz Leila Diniz, por ocasião dos 50 anos de sua prematura morte, aos 27 anos, em acidente de avião. A jovem atriz regressava de viagem a festival australiano, no qual apresentara o filme “Mãos Vazias”, do amigo Luiz Carlos Lacerda. A aeronave sobrevoava o solo indiano.

A cineasta e atriz Ana Maria Magalhães, amiga e colega de Leila em ‘sets’ cinematográficos e palcos teatrais, exibirá seu novo longa em apenas duas sessões na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A primeira nesse domingo, 28 de novembro, às 20h40, no Petra Belas Artes. No dia seguinte, às 13h30, o filme será reprisado no Itaú Frei Caneca.

“Já que Ninguém me Tira para Dançar”, um belo retrato da geração que agitou Ipanema na segunda metade dos anos 1960, se fará sequenciar por dois projetos que resgatarão a memória de Leila Diniz — uma série documental baseada nos diários deixados pela atriz e um longa também documental. Série e filme serão dirigidos por Janaína Diniz Guerra, filha de Leila e do cineasta Ruy Guerra, e produzidos pela O2 de Fernando Meirelles. Leila morreu no dia 14 de junho de 1972. Janaína tinha oito meses.

Ana Maria Magalhães dedicou espaço nobre, embora sintético, ao papel desempenhado por Leila Diniz no audiovisual brasileiro, em seu primeiro trabalho, o média-metragem “Mulheres de Cinema” (1977), realizado em 16 milímetros. Leila, nesse filme obrigatório, divide a tela com pioneiras da era muda (como Carmen Santos) e dos anos contemporâneos (Odete Lara, Helena Ignez e muitas outras). Agora, ela resolveu dedicar um filme inteiro à amiga. E escolheu título que tem tudo a ver com sua protagonista. Afinal, se num baile, ninguém a tirasse para dançar, Leila dançaria sozinha.

A história deste que é o sexto longa de Ana Maria Magalhães começa em 1982. Com saudades da amiga, que morrera dez anos antes, a documentarista resolveu registrar depoimentos de pessoas que conviveram com a estrela de “Todas as Mulheres do Mundo”. Um time dos mais plurais. Do cineasta Domingos Oliveira ao ator cômico Carlos Leite (o Cacetão de “Gota d’Água”), da amiga de ambas Marieta Severo (depositária dos diários de Leila) à desbocada (e sincera) Maria Gladys, de ex-namorados da atriz (o militante político Luiz Eduardo Prado, o jornalista Tarso de Castro, entre outros) e aquele que tanto a beijou em filmes, mas nunca foi seu namorado, Paulo José. “Só fui namorado de Leila no cinema”, relembra o Paulo de “Todas as Mulheres do Mundo” e o Edu Coração de Ouro. Fizeram juntos, também, “O Homem Nu”, de Roberto Santos.

Em “Já que Ninguém me Tira para Dançar”, Ana Maria ouve os cineastas Nelson Pereira dos Santos, que dirigiu Leila em “Fome de Amor” e “Azyllo Muito Louco”, Paulo Cezar Saraceni (“Amor, Carnaval e Sonhos”) e Hugo Carvana, que ao lado da companheira Martha Alencar, relembra a amizade, parcerias e luminosidade de Leila. Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, amigo fraterno da atriz e diretor, além de “Mãos Vazias”, da cinebiografia “Leila Diniz” (1987), marca significativa presença no documentário.

A irmã de Leila, Eli Diniz, e o advogado de presos políticos Marcelo Cerqueira também têm significativa participação no filme programado pela Mostra. Caberá ao defensor dos Direitos Humanos acompanhar Leila à sede de órgão repressivo militar, na qual ela deveria prestar contas de suas declarações ao Pasquim. A atriz saiu do interrogatório como signatária de uma promessa: não diria mais palavrões, nem incitaria o amor livre etc., etc. Os cronistas Carlinhos de Oliveira e Chico Nelson também prestaram tributo à atriz. Assim como o “paulistano da Móoca” Claudio Marzo, que atuou com ela no primeiro filme de ambos, “O Mundo Alegre de Helô” (Carlos Alberto de Souza Barros, 1966). Os dois namoraram, mas Leila seria o Cupido do casamento de Betty Faria (também presente no documentário) com Marzo, pai da atriz Alexandra Faria Marzo.

De posse desse rico material memorialístico, colhido em 1982, Ana Maria Magalhães tomaria outros rumos. Participaria, como diretora, do longa em episódios “Erotique” e dedicaria anos a seu projeto mais trabalhoso, a cinebiografia ficcional “Lara”, sobre a atriz Odete “Rainha Diaba” Lara. E vieram documentários para cinema e TV, sobre Darcy Ribeiro, o arquiteto Reidy e a Mangueira. Chegara, porém, passados quase 40 anos, a hora de retomar o projeto Leila Diniz. Com ajuda do produtor e cineasta brasiliense Lino Meireles, a documentarista resgatou (e restaurou) o material colhido com tanto empenho e construiu “Já que Ninguém me Tira para Dançar”.

O filme abre espaço generoso para o amor de Leila pelo carnaval (arrebatadoras as imagens dela e Ana Maria dançando em teste para o filme “As Bandidas”, de Gustavo Dahl, que não foi produzido). Nelson Sargento testemunha o encanto da atriz pela Mangueira. E a voz de Martinho da Vila embala os créditos finais evocando a alegre (e fugaz) existência de Leila Diniz.

O público poderá estranhar a ausência de Ruy Guerra no longa de Ana Maria Magalhães (ele aparece em algumas fotos). E até um certo desinteresse pelo relacionamento do cinemanovista com a mãe de Janaína. Há razões para isso. Ruy, de 90 anos, é um homem que mantém reservas sobre sua vida privada. E, mais, a atriz e amiga Ana Maria quis dar voz aos “desbundados” e às “transas” afetivas (termos em moda na República de Ipanema) de Leila nos anos ensolarados que a intérprete de Ula, do experimental “Fome de Amor”, viveu em tão curto espaço de tempo.

O documentário de Ana vai além da elegia. Traz momentos difíceis, em especial os narrados pela voz desconcertante de Maria Gladys. Mas que zonas de sombra encontrar na vida de uma mulher linda, liberada, cultora da alegria, que deixou uma filha (Janaína), 14 filmes, algumas peças de teatro e dez telenovelas? E que partiu aos 27 anos, no esplendor de seus verdes (ou dourados) anos?

 

Já que Ninguém me Tira para Dançar
Brasil, 90 minutos, 2021
Direção: Ana Maria Magalhães
Produção: Nova Era
Produtor associado: Lino Meireles
Elenco: Lídia Brondi, Lígia Diniz, Nina de Pádua, Antonio Pitanga e Lita Cerqueira (em inserções como atores). E dezenas de depoimentos de artistas, cronistas, jornalistas e advogado. Além de trechos bem conhecidos, mas também raros, de filmes, peças e telenovelas que tiveram Leila em seus elencos
Na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (domingo, 20h40, no Reserva Cultural, e segunda, 13h30, no Itaú Frei Caneca)

3 thoughts on “Mostra SP apresenta “Já que Ninguém me Tira para Dançar” longa sobre trajetória de Leila Diniz

  • 27 de outubro de 2021 em 01:15
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    o publico vai poder assistir quando?

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  • 27 de outubro de 2021 em 01:32
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    eu acho muito estranho que o Ruy Guerra nunca falou de Leila,que eu tenha visto,nunca!!

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  • 31 de outubro de 2021 em 03:14
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    so queria entender o que ela fez de importante.trabalhou na ciencia?salvou vidas??descobriu vacinas?nao fez nada de importante que possa ser lembrada,e os amigos nao se conformam com isso,o que ela fez prejudicou ela propria que foi a vida que ela levou!!

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