É Tudo Verdade mostra o melhor do documentário brasileiro e internacional e homenageia Godard e Humberto Mauro

Foto: “Santino”, de Cao Guimarães

Por Maria do Rosário Caetano

Sete longas-metragens brasileiros, todos 100% inéditos, movimentarão a 28ª edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, que acontece presencialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, a partir de 12 de abril próximo (com entrega dos prêmios dez dias depois).

Para complementar a programação competitiva do mais importante festival de cinema documental da América do Sul, serão exibidos doze longas-metragens internacionais, todos inéditos no território brasileiro, e quase duas dezenas de curtas (nove nacionais e sete estrangeiros).

Os premiados serão qualificados a integrar a lista de pré-finalistas ao Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Como faz todos os anos, o curador do festival, o jornalista e crítico Amir Labaki, e sua equipe selecionaram também produções que serão exibidas em mostras informativas (como O Estado das Coisas), retrospectivas e de homenagem. E, este ano, os homenageados são o franco-suíço Jean-Luc Godard (1930-2022) e Humberto Mauro (1897-1983), um de nossos documentaristas mais apaixonados, força-motriz do INCE (Instituto Nacional do Cinema Educativo), dono de rico legado a nosso acervo não-ficcional.

No total, serão exibidos 72 filmes internacionais e brasileiros, de longa, média e curta-metragem, originários de 34 países. As sessões serão apresentadas em diversas salas e, sempre, com entrada franca. Convidados paulistanos assistirão, dia 12 de abril, a sessão especial do filme “Subject”, de Jennifer Tiexiera e Camilla Hall. Já os cariocas, desfrutarão, no dia seguinte, de “1968 — Um Ano na Vida”, de Eduardo Escorel. Em seu novo diálogo com o cinema documental, o cineasta, montador, professor universitário e crítico revisita fatos da vida, passados em 1968. Alguns deles lembrados. Outros esquecidos. O filme baseia-se no diário “Lost”, de Silvia Escorel, e é comentado por ela em voz off. A autora o faz por meio de carta original (escrita 54 anos depois, ou seja, no tempo presente) e dirigida a um irmão um pouco mais jovem.

Sobre o convidado internacional – “Subject” – há que se registrar seu diálogo com o próprio cinema documental. Nesta produção estadunidense, Jennifer e Camilla saem em busca de pessoas que participaram de grandes documentários (entre eles “Basquete Blues”, “Na Captura dos Friedmans” e “A Praça Tahir”) para conhecer o que se passou com eles após a experiência audiovisual. Valeu a pena ter sido retratado na tela?

As realizadoras depararam-se com relatos dessas ex-estrelas de longas documentais marcados por altos e baixos. Afinal, elas tiveram suas vidas cotidianas colocadas sob uma espécie de “microscópio fílmico”.

A lista mais esperada do Festival É Tudo Verdade, que nasceu em São Paulo há 28 anos, é a dos longas brasileiros. Até porque dezenas de realizadores escolhem o ETV como primeira vitrine para suas produções documentais.

Este ano, a lista de selecionados traz a assinatura de três realizadores já laureados com o prêmio máximo do evento: Cao Guimarães, com “Santino”; Chaim Litewski, do poderoso “Cidadão Boilesen” (premiado em 2009), agora com retrato de P.C. Farias (“Morcego Negro”, parceria com Cleisson Vidal), e Rodrigo Siqueira (vencedor com “Terra Deu, Terra Come”, em 2010), com “171”. Sim, o filme fala do que você está pensando. De detentos enclausurados por estelionato, fraude de menor monta, que pode render de um a cinco anos de cadeia.

Completam a lista, as cineastas Susanna Lira, com “Nada sobre meu Pai”, busca pela figura paterna (um militante político equatoriano que ela não conheceu), e Eliza Capai, com “Incompatível com a Vida”, sobre gravidez, vida, morte e luto. E os cineastas Vicente Ferraz, do cult “Soy Cuba, o Mamute Siberiano”, agora com “O Contato”, filmado na Amazônia, e Marcos Pimentel, com “Amanhã”. Depois de “Fé e Fúria”, o realizador mineiro devota seus olhos a três crianças de Belo Horizonte. O que aconteceu com elas de 2002 até 2022. Afinal, nessas duas décadas, “o Brasil foi virado pelo avesso”. Assim como “as vidas delas, originárias de realidades diferentes”.

A seleção, como se vê,  une time de primeira. Os júris do ETV, que têm tomado decisões polêmicas e ignorado a condição de “qualificadores de filmes” para a pré-seleção do Oscar, tem poder soberano para dar seu veredito. Seja ele qual for.

“Godard Cinema”, de Cyril Leuth

No terreno do cinema internacional, a lista é das mais vibrantes. Os 12 títulos selecionados incluem filme cubano dirigido pelo cineasta Pavel Giroud (do ficcional “La Edad de la Peseta”, exibido no Cine Ceará), que é nitroglicerina pura. Mostra as entranhas de uma das mais rumorosas contentas político-culturais da história habanera, a que teve o poeta Heberto Padilla no centro da arena. O filme disputa o prêmio Platino de melhor documentário, mas tem um peso-pesado em seu caminho (“Mi País Imaginário”, o novo longa de Patricio Guzmán).

E quem, entre os cinéfilos de carteirinha, deixará de ver na tela grande o longa “Godard Cinema”, de Cyril Leuth, realizador francês? O documentarista reviu a trajetória e parte dos 140 filmes deixados pelo re-inventor do cinema, nascido na Suíça e radicado na efervescente Paris dos anos 1950 (tempos de Bazin, Cahiers du Cinéma e dos Jovens Turcos). E, em especial, a década de 1960, quando JLG fez de 1968 o tempo histórico de seus filmes e atos políticos mais incendiários.

Há filmes sobre Little Richard, homoafetivo e negro que incendiou o rock (“Little Richard – Eu Sou Tudo”, de Lisa Cortez). Há, também, revisita ao mundo do cinegrafista de Joseph Tito, o presidente iugoslavo que amava o cinema. E sobre o astro Michel J. Fox. Como não poderia faltar num festival antenado como o ETV, há, claro, filmes sobre a Ucrânia invadida e a China, a grande potência asiática, vista de fora. E sobre aqueles que (ainda) rezam – principalmente nos EUA – pelo armageddon.

Hoje – e muito já se sabe sobre o assunto – a infiltração de evangélicos norte-americanos na máquina política da grande potência ocidental mostra-se cada vez mais forte e perturbadora. E esta força ameaça não apenas a democracia dos Estados Unidos, mas despeja sua influência pelo mundo. Vide a imensa e substancial interferência desse grupo (e seus falcões) sobre a política externa comandada pelo poder estadunidense. Uma de suas metas é dar início à “Batalha do Juízo Final” no Oriente Médio.

 

28ª edição É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários
Data: 13 a 23 de abril
Local: São Paulo e Rio de Janeiro
Exibição gratuita de 72 filmes

20ª edição da Conferência Internacional do Documentário
Data: 13 e 14 de abril
Local: Cinemateca Brasileira, em São Paulo

Locais de exibição: em São Paulo – Cine Marquise, a Cinemateca Brasileira (Salas Grande Otelo e Oscarito), Sesc 24 de Maio, IMS- Instituto Moreira Salles e CCSS- Centro Cultural São Paulo. No Rio de Janeiro – Estação NET Botafogo e Estação NET Rio (duas salas)

Cerimônia de premiação: dia 22 de abril, às 18h00, na Cinemateca Brasileira. As produções premiadas pelos júris oficiais terão reapresentações especiais em ambas as cidades no dia 23 (domingo).

Programação: além das mostras competitivas e de mostras informativas e especiais (O Estado das Coisas, Foco Latino-Americano e Clássicos É Tudo Verdade), inclui conferências, debates e sessões em streaming (consultar a programação no www.etudoverdade.com.br).

Longas brasileiros

. “Morcego Negro” – Direção: Chaim Litewski e Cleisson Vidal (135’) – Documentário histórico-biográfico sobre PC Farias, tesoureiro do ex-Presidente Fernando Collor de Mello que esteve diretamente envolvido no processo que culminou com seu impeachment, abalando profundamente a recém-restaurada democracia brasileira.

. “Nada sobre meu Pai” – Direção: Susanna Lira (93’) – A busca da diretora Susanna Lira pela história de seu pai, que ela nunca conheceu: um jovem guerrilheiro equatoriano, que veio para o Brasil lutar contra a ditadura militar na década de 1970.

. “Santino” – Direção: Cao Guimarães (88’) – O documentário acompanha o cotidiano de Santino e sua família na bacia do Rio São Francisco, em Minas Gerais. Além de ser um defensor incansável do meio ambiente, Santino une o mundo espiritual e a natureza a seu ativismo político.

. “171” – Direção: Rodrigo Siqueira (95’) – Seis pessoas cumprem pena por motivos diferentes, mas são identificadas nas cadeias como autênticos “171”, um tipo que pode usar sua habilidade com as palavras para aplicar um golpe ou manipular as pessoas pelo prazer de enganar.

. “O Contato” – Direção: Vicente Ferraz (84’) – O filme acompanha as travessias feitas por personagens que transitam entre suas aldeias e a cidade indígena de São Gabriel da Cachoeira, captando um universo de trocas multiétnicas nessa região de extrema beleza, mas hoje ameaçada pelo narco-garimpo..

. “Incompatível com a Vida” – Direção: Eliza Capai (92’) – A partir do registro de sua gravidez, a diretora conversa com outras mulheres que tiveram vivências parecidas à sua, criando um coral de vozes que refletem sobre temas universais: vida, morte, luto e políticas públicas que nos afetam.

. “Amanhã” – Direção: Marcos Pimentel (106’) – Entre 2002 e 2022, o Brasil foi virado pelo avesso. Assim como as vidas de três crianças de realidades diferentes em Belo Horizonte que haviam se encontrado 20 anos antes.

Longas Internacionais

. Godard Cinema (Godard Seul le Cinéma) –Direção: Cyril Leuthy (França, 110’) – Jean-Luc Godard é o cinema, sua quintessência. Ao longo de sua carreira, ele dirigiu mais de 140 filmes. Esse retrato quer nos levar além dos clichês de um mito que às vezes se torna caricatural para encontrar um homem mais sentimental do que parece, um homem que vive sua arte, e às vezes é superado por ela.

. Little Richard — Eu Sou Tudo (Little Richard — I Am Everything) – Direção: Lisa Cortez (EUA, 98’) – A história das origens negras e queer do rock, detonando o embranquecimento da música pop americana para revelar o inovador Richard Penniman. Através de arquivos e performances que nos levam ao complicado mundo interior de Richard, o filme conta a história do ícone com suas reviravoltas e contradições.

. Não-Alinhados: Cenas dos Rolos de Labudović (Non-Aligned: Scenes from the Labudović Reels) – Direção: Milla Turajlić (Sérvia, França, Croácia, Montenegro, Catar, 100’) – Pelos materiais inéditos filmados em 35mm por Stevan Labudović, cinegrafista do presidente iugoslavo Tito, o filme percorre o nascimento do movimento Non-Aligned, examinando como um projeto global de emancipação política foi constituído pela imagem cinematográfica.

. Casa Silenciosa (Khaneye Khamoosh) – Direção: Farnaz Jourabchian e Mohammad Reza Jourabchian (Irã, Canadá, França, Filipinas, Catar, 100′) – História de três gerações de uma família iraniana que vive numa casa centenária em Teerã. Narra a evolução da família durante 40 anos, da Revolução Islâmica de 1979 até hoje.

. O Caso Padilla (El Caso Padilla) – Direção: Pavel Giroud (Cuba, Espanha, 87’) – Pela primeira vez o processo de autocrítica do poeta Heberto Padilla, preso em 1971 em Cuba, é mostrado ao público neste filme que abre uma janela para o passado e, dessa maneira, ajuda-nos a compreender melhor a crise que Cuba atravessa atualmente.

. Rezando pelo Armagedom (Praying for Armageddon) – Direção: Tonje Hessen Schei (Noruega, 90’) – A infiltração de evangélicos norte-americanos na máquina política nunca foi tão forte. Não apenas eles ameaçam a democracia dos Estados Unidos, como a influência substancial desse grupo sobre a política externa tem como alvo dar início à Batalha do Juízo Final no Oriente Médio.

. Confiança Total (Total Trust) – Direção: Jialing Zhang (Alemanha, Países Baixos, 97′) – A transparência total pode fazer com que as pessoas se tornem cidadãos melhores? O filme explora as mudanças de comportamentos sociais causadas pela vigilância digital na China e a luta das pessoas contra o abuso do poder estatal.

. Despertar de Aurora (Aurora’s Sunrise) – Direção:  Inna Sahakyan (Armênia, Alemanha, Lituânia, 96’) – O filme revela a história esquecida de sobrevivente do genocídio armênio, que consegue fugir para Nova York e participar de um dos primeiros blockbusters de Hollywood, o “Leilão das Almas”, de 1919.

. Um Espião Compassivo (A Compassionate Spy) – Direção: Steve James (EUA, Reino Unido, 101’) – A história de Ted Hall, recrutado (em 1944) como o mais jovem físico do Projeto Manhattan. Preocupado com o monopólio norte-americano sobre a bomba nuclear, ele decide passar informações-chave sobre a construção da bomba à União Soviética.

. Front do Leste (Shidniy Front) – Direção: Vitaly Mansky e Yevhen Titarenko (Letônia, Ucrânia, República Tcheca, EUA, 98′) – O filme conta a história de um grupo de jovens voluntários no batalhão de primeiros socorros no front ucraniano, que durante seis meses experimentam drama, desespero, medo, ódio, amargura, amor, sem perder a fé na vitória.

. Pianoforte – Direção: Jakub Piątek (Polônia, 91’) – A lendária Competição Internacional Chopin de Piano acontece a cada cinco anos em Varsóvia, na Polônia. O filme segue grupo de jovens músicos de todas as partes do mundo, que se preparam desde crianças para essa oportunidade. Ela ocorre apenas uma vez na vida.

. Still: A Michael J. Fox Movie – Direção: Davis Guggenheim (EUA, 95′) – O filme conta como um garoto baixinho sai de uma base do exército canadense para alcançar o estrelato na Hollywood dos anos 1980. E mostra pela primeira vez sua jornada privada, incluindo os anos que seguiram seu diagnóstico com mal de Parkinson aos 29 anos.

Curtas Brasileiros

. Cama Vazia – Direção: Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet (Brasil, 5’) – A máquina de morte precisa manter sua longevidade para expandir e lucrar.

. O Materialismo Histórico da Flecha Contra o Relógio – Direção: Carlos Adriano (Brasil, 26’) – Cinepoema onde realidades distantes se aproximam: imagens de povos indígenas brasileiros em 1917 e 1922 e em manifestações antifascistas de 2022; imagens da causa palestina em 1948 e em 2022; tiros contra o relógio disparados por revolucionários franceses em 1830 e flechas contra o relógio disparadas por indígenas brasileiros em 2000.

. Ferro’s Bar – Direção: Aline A. Assis, Fernanda Elias, Nayla Guerra, Rita Quadros (Brasil, 24’) – A partir de relatos de lésbicas frequentadoras do Ferro’s Bar, aborda-se um episódio central para a formação do movimento lésbico brasileiro no começo dos anos 1980: o “Levante do Ferro’s Bar”.

. Aos Mortos, Um Lugar para Habitar – Direção: Victor Costa Lopes (Brasil, 7’) – Examinar arquivos é remontar o remanescente, em um ritual de ressurreição da vida.

. Bambambã – Direção: Andréa França (Brasil, 12’) – O filme retoma fragmentos do filme “Terra Encantada” (1923) que mostram a Exposição internacional do Centenário da Independência, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, em 1922.

. Mãri hi – A Árvore do Sonho – Direção: Morzaniel Iamari (Brasil, 1′) – Quando as flores da árvore Mãri desabrocham, surgem os sonhos. As palavras de um grande xamã conduzem uma experiência onírica através da sinergia entre cinema e sonho yanomami, apresentando poéticas e ensinamentos dos povos da floresta.

. Retratos de Piratininga – Direção: André Manfrim (Brasil, 17’) – A região do centro velho de São Paulo é povoada por estátuas e monumentos empenhados em fazer lembrar a história religiosa da cidade. O que esses corpos nos contam sobre o passado e sobre o presente?

. Todavia Sinto – Direção: Evelyn Santos (Brasil, 9’) – Sentir, Descobrir e Decidir: Sensações de uma gravidez. Um corpo imerso que agora se transforma.

. Vãnh Gõ Tõ Laklãnõ. Direção: Barbara Pettres, Flávia Person, Walderes Coctá Priprá
(Brasil, 25’) – Uma arqueóloga, um poeta, um pastor e kujá, uma professora e um cantor de rap remontam a história do seu povo, os Laklãnõ/Xokleng, habitantes do sul do Brasil: o tempo do mato, a quase extinção, a retomada da língua e da cultura e o protagonismo político.

Curtas Internacionais

. Carta a um Porco (Letter to a Pig) – Direção: Tal Kantor (França, Israel, 17’) – Um sobrevivente do holocausto lê uma carta que escreveu ao porco que salvou a sua vida. Uma jovem estudante ouve seu testemunho na aula e cai em um sonho conturbado em que ela confronta questões de identidade, trauma coletivo e os extremos da natureza humana.

. Florestas (Forêts). Direção: Simon Plouffe (Canadá, 16’) – Pinheiros brancos submersos pela reserva de uma hidroelétrica no território Innu se transformam em chamas. Essa exploração entre água e fogo ilustra a emergência climática atual através de múltiplas histórias sobre o relacionamento entre uma comunidade e suas terras.

. Folhas de K. (Hojas de K.) – Direção: Gloria Carrion (Nicarágua, Costa Rica Nicarágua, Costa Rica, 18’) – Em 2018, a polícia da Nicarágua reprimiu brutalmente protestos organizados pelos estudantes do Ensino Médio. K., uma jovem de 17 anos que foi presa, reconta os horrores de seu tempo na cadeia.

. Uma História do Mundo Segundo a Getty Images (A History of the World According to Getty Images) – Direção: Richard Misek (Reino Unido, Noruega, 18’) – Um comentário apaixonado sobre como os arquivos de imagens comerciais  influenciam o que vemos. Um filme que faz uma pequena, mas direta resistência à privatização do passado pela Getty Images.

. Jogando Óleo na Fervura (Pouring Water on Troubled Oil) – Direção: Nariman Massoumi (Reino Unido, 26’) – Em 1951, a Anglo-Iranian Oil Company decidiu produzir um filme para promover suas atividades no Irã. Eles contrataram o poeta Dylan Thomas. Esse documentário poético segue a viagem de Thomas, captando seu encontro com o país e sua gente enquanto acontece uma convulsão política pela nacionalização do petróleo.

. Mal Trabalhando (Hardly Working) – Direção: Total Refusal (Áustria, 21’) – O filme ilumina personagens que normalmente estão no fundo dos videogames: NPCs. São máquinas de Sísifo, cujas rotinas laborais e padrões de atividades, assim como bugs, pintam uma analogia vívida com o trabalho no capitalismo.

. Paraíso da Soneca (Powernapper’s Paradise) – Direção: Samir Arabzadeh (Suécia, 15’) – O contador caiu no sono em sua mesa. O garçom dorme atrás da caixa registradora. O guarda está sonhando, dormindo em sua cadeira fora do banco. O Paraíso da Soneca explora a vida e as pessoas nas Filipinas, onde parece ser tranquilo dormir no trabalho.

. Ptitsa – Direção: Alina Maksimenko (Polônia, Ucrânia, 30’) – Ambientada durante a pandemia, a história acontece na casa de duas artistas: uma mãe, professora de piano, e sua filha adulta, uma pintora. Um retrato íntimo de uma separação entre mãe e filha, explorado de diferentes perspectivas.

. Todas as Coisas que Você Deixa para Trás (All the Things You Leave Behind) – Direção: Chanasorn Chaikitiporn (Tailândia, 18’) – Chanasorn Chaikitiporn é um aspirante a cineasta e artista visual interessado em práticas artísticas e em explorar a história da Tailândia. Ao combinar narrativas de ficção ao gênero do documentário ensaístico, ele investiga imagens encontradas e de arquivo, além de documentos sigilosos tornados públicos.

Mostras Não Competitivas

Programas Especiais

. Antunes Filho, do Coração para o Olho – Direção: Cristiano Burlan (Brasil, 74’) – O filme mergulha nas incursões de Antunes Filho pelo audiovisual, passando por seus teleteatros e pelo filme Compasso de Espera. Nesse trânsito de linguagens, compreendemos as motivações e reflexões criativas desse fazedor de teatro e cinéfilo.

. Lowndes County e o Caminho para o Poder Negro (Lowndes County And The Road to Black Power) – Direção: Sam Pollard E Geeta Gandbhir (EUA, 90’) – A aprovação da Lei dos Direitos de Voto, em 1965, representou o auge do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Em nenhum outro lugar essa batalha é mais bem resumida do que em Lowndes County, Alabama, uma cidade com uma história terrível de terrorismo racial.

. Sessão Especial Sabesp: Lixo Fora de Lugar (Matter Out of Place) – Direção: Nikolaus Geyrhalter (Áustria, 106′) –Lixo Fora de Lugar é um filme sobre dejetos que se espalham pelo mundo, nos mais remotos cantos do planeta. Nikolaus Geyrhalter segue os rastros de nosso lixo ao redor do mundo e lança luz em relação à luta infinita das pessoas para ter controle sobre uma vasta quantidade de lixo.

. Três Minutos — Uma Duração (Three Minutes — A Lengthening) – Direção: Bianca Stigter (Países Baixos, 69’, 2021) – Um ensaio sobre história e memória. Os três minutos de uma filmagem feita por David Kurtz em 1938 são as únicas imagens em movimento que restaram dos habitantes judeus de Nasielsk antes do Holocausto. Esses preciosos minutos são examinados momento a momento para desvendar as histórias humanas escondidas no celulóide.

. Vire Cada Página: As Aventuras de Robert Caro e Robert Gottlieb (Turn Every Page: The Adventures of Robert Caro and Robert Gottlieb) – Direção: Lizzie Gottlieb (EUA, 112’ 2022) – O filme explora o relacionamento de cinquenta anos entre duas lendas literárias, o escritor Robert Caro e seu editor de longa data, Robert Gottlieb. Agora com 86 anos, Caro está trabalhando para completar o volume final de sua obra-prima, Os Anos de Lyndon Johnson; Gottlieb, 91, espera para editá-lo.

Mostra O Estado das Coisas

. Favela do Papa – Direção: Marco Antônio Pereira (Brasil, 76’, 2022) – O filme mostra o movimento de resistência dos moradores da Favela do Vidigal contra a ordem de remoção na década de 1970. A vitória popular, após três anos de luta, foi coroada com a visita do Papa João Paulo II à favela, em 1980.

. Rua Aurora — Refúgio de Todos os Mundos – Direção: Camilo Cavalcante (Brasil, 96’, 2023). Na cidade de São Paulo, o filme acompanha pessoas de mundos diferentes que habitam uma mesma rua, no centro esquecido da metrópole, onde a vida pulsa de forma latente e se reconstrói a cada dia.

. Os Corredores do Poder (The Corridors of Power) – Direção: Dror Moreh (França, Alemanha, EUA, Israel, 135′, 2022) – O diretor indicado ao Oscar, Dror Moreh, (The Gatekeepers) retorna com uma análise detalhada da política externa dos Estados Unidos nos últimos 40 anos. Neste documentário, que traz entrevistas com mais de 30 pesos-pesados da política, incluindo Henry Kissinger, Hillary Clinton, Madeleine Albright e Condoleezza Rice.

. A História Natural da Destruição (The Natural History of Destruction) – Direção: Sergei Loznitsa (Alemanha, Países Baixos, Lituânia, 112’, 2022) – Inspirado no livro de W.G. Sebald e baseado em imagens de arquivo da Segunda Guerra Mundial, o filme coloca a questão: é aceitável moralmente usar a população civil como meio de guerra? A questão continua tão atual hoje como era há 80 anos, e sua urgência se manifesta tragicamente nos acontecimentos políticos atuais.

. Liberdade em Chamas (Freedom on Fire) – Direção: Evgeny Afineevsky (Reino Unido, EUA, Ucrânia, 114′, 2022) – Este filme complementa o documentário indicado ao Oscar, Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom e explora porque um dia de felicidade na praça Maidan, de Kiev, instigou uma guerra que durou quase uma década.

. Merkel – Direção: Eva Weber (Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, 95’, 2022) – Durante anos, Angela Merkel, primeira Chanceler da Alemanha, foi a mais poderosa líder europeia. Ainda assim ela permanece um enigma. O filme cria um retrato rico, partindo de sua criação na Alemanha Oriental comunista até a sua rápida ascensão na política.

. Música para Pombos Negros (Music for Black Pigeons) – Direção:  Jorgen Leth, Andreas Koefoed (Dinamarca, 92’, 2022) – Atravessando a América do Norte, a Europa e o Japão, Jørgen Leth e Andreas Koefoed acompanharam o compositor dinamarquês Jakob Bro, por 14 anos, testemunhando seus encontros musicais.

Foco Latino-Americano

. Amando Martha (Amando a Martha) – Direção:  Daniela López Osorio (Colômbia. Argentina, 74’, 2022) – Tendo se libertado da violência doméstica, sofrida durante 39 anos de casamento com seu ex-marido Armando, Martha diz à sua neta, Daniela, que está começando sua carreira de cineasta para fazer um filme, a partir das memórias pessoais, em que ela narra seu passado doloroso.

. Beleza Silenciosa (Belleza Silenciosa) – Direção: Jasmín Mara López (EUA, México, Malta, 88′, 2022) – Um documentário pessoal que segue a diretora Jasmin López no processo de curar o abuso sexual que sofreu quando criança nas mãos de seu avô, Gilberto, há quase trinta anos. Ao compartilhar seu trauma, Jasmin descobre que gerações de crianças em sua família foram vítimas do mesmo abuso.

. Hot Club de Montevideo – Direção: Maximiliano Contenti (Uruguai, 90’, 2022) – A trajetória do Hot Club de Montevideo, a instituição de jazz mais antiga da América Latina, que sobrevive até hoje. A narrativa é construída a partir dos depoimentos, das anedotas, das histórias de vida e da reunião de muitos de seus membros mais antigos.

Clássicos É Tudo Verdade

O Prisioneiro da Grade de Ferro (auto-retratos). Direção: Paulo Sacramento (Brasil, 123’, 2003) – Um ano antes da desativação da Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, que foi a maior prisão da América Latina, detentos aprenderam a usar câmeras de vídeo. Durante sete meses, documentaram seu cotidiano atrás das grades, marcado por superlotação das celas, tráfico de drogas, rezas, brigas e solidão.

. Confissões de um Cinema em Formação – Direção: Eugenio Puppo (Brasil, 76’, 2022) – O surgimento de alguns dos primeiros cursos de cinema no Brasil e o papel deles no desenvolvimento do cinema nacional. Com materiais de arquivo e histórias de professores e alunos, o documentário apresenta iniciativas que buscam formar  novas gerações de realizadores.

. Cine-Guerrilhas: Cenas dos Rolos de Labudović (Ciné-Guerrillas: Scenes from the Labudović Reels) – Direção: Mila Turajlić (Sérvia, França, 94’, 2022) – Uma viagem ao início do projeto Terceiro Mundo, baseado em rolos inéditos de Stevan Labudović, cinegrafista do presidente iugoslavo Tito. Cine-Guerrilhas mergulha na batalha midiática que ocorreu durante a guerra pela independência na Argélia, em que o cinema foi usado como arma política contra o colonialismo.

. Americano: Uma Odisseia a 1947 (American: An Odyssey to 1947) – Direção: Danny Wu (Canadá, 102’, 2022) – No começo dos anos 1940, o diretor Orson Welles está vivendo uma ascensão meteórica em Hollywood. Quando a Segunda Guerra Mundial eclode, um garoto estadunidense faz uma visita ao exterior e um soldado estadunidense se alista no exército.

Homenagem a Humberto Mauro

. Um Apólogo – Direção: Humberto Mauro  (Brasil, 10’, 1939) – Uma costureira conversa com a patroa sobre os detalhes do modelo do vestido a ser confeccionado. Enquanto isso, dentro da caixa de costura, a agulha e a linha iniciam uma discussão sobre a importância de cada uma. Realizado por ocasião do centenário de nascimento de Machado de Assis, o filme é uma adaptação de seu célebre conto.

. Cantos de Trabalho – Direção Humberto Mauro (Brasil, 9’, 1955) – Parte da série “Brasilianas”, apresenta três cantos de trabalho oriundos de diferentes regiões do país: o canto de pilão, praticado nas regiões Central e Nordeste; o canto do barqueiro, do Rio Jequitinhonha; e o canto de pedra, realizado em vários estados.

. Carro de Bois – Direção Humberto Mauro (Brasil, 10’, 1974) – Fotografia de Murilo Salles – Praticamente superado pelas modernas técnicas, o carro-de-bois ainda fazia parte das paisagens do sertão nos anos 1970, alcançando onde o caminhão não vai, numa mistura de utilidade e poesia, transportando o mais variado tipo de carga. O filme mostra como ele é feito, e o artesão que o fabrica.

. O Cysne – Direção Humberto Mauro (Brasil, 3’, 1936) – A bailarina Vera Grabinska executa coreografia de Pierre Michailowsky para a peça Le Cygne, de Camille Saint-Saëns, junto à fonte artificial no recinto da Feira Internacional de Amostras do Rio de Janeiro. Os movimentos da dança se alternam com imagens de cisnes na água.

. Engenhos e Usinas – Direção Humberto Mauro (Brasil, 8’, 1955) – Parte da série “Brasilianas”, mostra aspectos dos antigos engenhos de açúcar ao som de Engenho Novo e Coco Peneruê.

. Henrique Oswald – Direção Humberto Mauro (Brasil, 7’, 1942) – Vistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Florença ilustram dados biográficos do pianista, compositor e diplomata brasileiro Henrique Oswald. Suas obras são enumeradas, enquanto partituras são folheadas. Tendo ao fundo o retrato de Oswald, um solista executa sua música.

. O João de Barro – Direção Humberto Mauro  (Brasil, 20’, 1956) – Em um ambiente rural, mulheres com crianças observam os ninhos de diversas aves, entre elas o joão-de-barro. Mostra as etapas da construção de um ninho e informações sobre o próprio joão-de-barro: a sua origem, o seu habitat, a descrição física e os seus hábitos.

. Lagoa Santa – Direção Humberto Mauro  (Brasil, 12’, 1940) – O filme documenta as descobertas do paleontólogo dinamarquês Peter Lund. Mostra a paisagem da região de Lagoa Santa (MG), os homens, as casas e os animais. E também algumas das cavernas de onde Lund coletou os restos de animais e seres humanos pré-históricos.

. Manhã na Roça: O Carro de Bois – Direção Humberto Mauro (Brasil, 8’, 1956) – Parte da série Brasilianas, mostra aspectos do trabalho na roça: meninos conduzem o gado para pastagem, trabalhador opera arado de tração animal, homem retira leite de vaca e mulher alimenta as galinhas. Na fazenda, diferentes espécies de animais convivem, e o carro de boi é conduzido por um carreiro.

. Victoria Regia – Direção Humberto Mauro (Brasil, 8’, 1937) – Detalhes da planta vitória-régia: sua estrutura, seu habitat natural, seu nome e sua história.

. Mauro, Humberto – Direção: David Neves (Brasil, 21’, 1975) – O cotidiano do cineasta em sua casa em Volta Grande, Minas Gerais, e em seu escritório no antigo Instituto Nacional de Cinema, que depois se tornou a Embrafilme. Além de um depoimento do diretor, são também entrevistados os cineastas Alex Viany e Glauber Rocha, que falam da importância de Humberto Mauro no cinema brasileiro.

. Humberto Mauro, Cinema é Cachoeira – Direção: André Di Mauro (Brasil, 90’, 2018) –  O tributo a Humberto Mauro mostra sua vida através dos filmes. Apresenta uma narrativa cujo fio condutor é uma entrevista gravada nos anos 1960, onde Mauro manda mensagens para o futuro. O documentário expõe as incomuns soluções técnicas para fazer seus filmes e a luta diante das adversidades inerentes a seu pioneirismo.

Homenagem a Jean-Luc Godard

. História(s) do Cinema (Histoire(s) du Cinéma) – Direção: Jean-Luc Godard (França, Suíça)

Episódio 1 – Todas as Histórias (Toutes les Histoires) – (51′, 1987) – “Para Mary Meerson e para Monica Tegelaar.” Godard traça a história do cinema americano quase cronologicamente, desde os primórdios de Hollywood, passando pela era de ouro dos produtores, até seu declínio.

Episódio 2 – Uma Só História (Une Histoire Seule) – (42′, 1989) – “Para John Cassavetes e para Glauber Rocha”. Godard aborda o cinema como herdeiro da fotografia e do impressionismo, e está particularmente interessado pela luz.

Episódio 3 – Apenas Cinema (Seul le Cinéma) – (26′, 1997) – “Para Armand J. Cauliez e para Santiago Alvarez.” Godard compara as diferentes histórias da literatura, da pintura e do cinema. Tenta mostrar a particularidade da sétima arte e explicar seu poder.

Episódio 4 – Beleza Fatal (Fatale Beauté) – (28′, 1997) – “Para Michèle Firk e para Nicole Ladmiral”. Godard se interessa pelas relações que existem no cinema entre a morte e a beleza, Eros e Thanatos. Para ele, isso se explica principalmente pelo fato de que o cinema sempre envolveu homens filmando mulheres.

Episódio 5 – A Moeda do Absoluto (La Monnaie de L’Absolu) – (27′, 1998) – “Para Gianni Amico e para James Agee” – Dando continuidade ao primeiro episódio, Godard continua a sua reflexão entre o cinema e a história. Ele descreve aqui como o cinema pode ser o lugar de uma posição política com o exemplo do neorrealismo italiano e também do documentário.

Episódio 6 – Uma Nova Onda (Une Vague Nouvelle) – (27′, 1998) – “Para Frederic C. Froeschel e para Nahum Kleiman” – Godard relembra o movimento Nouvelle Vague, do qual era um dos expoentes, e como esse movimento inscreveu o cinema na história das artes. Ele evoca o Langlois Cinema Museum e sua própria relação com a Cinemateca Francesa.

Episódio 7 – O Controle do Universo (Le Contrôle de L`Univers) – (27′, 1998) – “Para Michel Delahaye e para Jean Domarchi.” Esta parte questiona o poder. Segundo Godard, o homem é o criador tanto da beleza quanto do terror. Para sustentar seu argumento, ele homenageia Alfred Hitchcock e o poder de seu cinema no imaginário coletivo.

Episódio 8 – Os Signos entre Nós (Les Signes parmi Nous) – (38′, 1998) – “Para Anne-Marie Miéville e para mim mesmo”. – Para fechar as suas histórias do cinema, Godard foca no próprio sentido do cinema. Em seguida, retoma todos os temas dos episódios anteriores e faz um balanço do cinema da época, considerado pelo diretor como “em declínio”.

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