Itaú Cultural Play exibe cinco documentários de Eduardo Coutinho em homenagem aos 90 anos do diretor
A partir do dia 26 de maio, a Itaú Cultural Play celebra os 90 anos do cineasta Eduardo Coutinho com uma seleção de cinco de seus filmes. Se juntam ao premiado “Cabra Marcado para Morrer”, já disponível na plataforma, os documentários “O Fio da Memória” (1991), “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (foto, 2004) e “Jogo de Cena” (2007).
Considerado um dos maiores documentaristas da história do cinema nacional, ele teria completado 90 anos no dia 11 de maio. O diretor, que foi homenageado na cerimônia do Oscar no ano de sua morte, em 2014, tem em sua filmografia obras que privilegiam histórias de pessoas comuns. Em 2019, ele foi homenageado na 47ª Ocupação Itaú Cultural, que trouxe seus cadernos de anotações, pesquisas sobre personagens, montagens do documentário e textos escritos. Ficaram expostos objetos de sua vida, como a cadeira usada pelos personagens de “Jogo de Cena”, sua máquina de escrever portátil e a câmera usada nas filmagens de “Cabra Marcado para Morrer”.
O material completo desta Ocupação está disponível no site do Itaú Cultural, em https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/eduardo-coutinho.
Em “Santo Forte”, Coutinho aproveitou a visita do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1997, e a consequente comoção de tal presença, para investigar certos aspectos da religiosidade brasileira em sua obra. Entre uma missa campal celebrada pelo Papa no Aterro do Flamengo e a comemoração do Natal, meses depois, o documentário penetra na intimidade de católicos, umbandistas e evangélicos de uma favela carioca. Cada um a seu modo, eles creem na comunicação direta com o sobrenatural por meio da intervenção de santos, orixás, guias ou do Espírito Santo.
Eleito como melhor filme no Festival de Brasília de 2004, “Peões” acompanha os metalúrgicos que estiveram nos bastidores do novo sindicalismo e, em especial, nas greves que sacudiram a Grande São Paulo em 1979 e 1980. É por meio de suas vozes e testemunhos que o espectador é apresentado a uma gama de sentimentos e experiências épicas.
O documentário mostra a história de homens e mulheres que migraram do campo para o ABC paulista entre as décadas de 1960 e 1980, para trabalhar na indústria automobilística. Suas jornadas pessoais são recontadas a partir de um olhar atento aos grandes acontecimentos históricos do período, como o movimento sindicalista, a criação do Partido dos Trabalhadores e a projeção política de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Edifício Master” traz um retrato grandioso da riqueza humana presente no icônico condomínio de mesmo nome localizado em frente à Praia de Copacabana, com 276 apartamentos. Considerado um dos mais importantes documentários brasileiros do século, foi premiado nos festivais de Gramado, Havana e na Mostra Internacional de Cinema.
O filme reúne histórias de diferentes personagens que vivem no condomínio e nos arredores. Entre dramas, riquezas e contradições, Coutinho transita com sua câmera na região e dá voz às pessoas de origens e experiências diversas, entre jovens, aposentados, camelôs, trabalhadoras do sexo.
Em “O Fio da Memória”, o diretor monta uma narrativa que trata dos movimentos da memória e da presença do passado no presente, tomando como matéria a escravatura, suas consequências perversas para o país até a atualidade e a resistência da cultura negra no país. Coutinho traça essa realidade jogando luz na história de Gabriel Joaquim dos Santos. Filho de negros escravizados, ele nasceu logo depois da Abolição (1888). Quando trabalhou como operário de uma mina de sal, ele escreveu um diário sobre seu dia a dia, que é a base da narrativa, e construiu uma casa repleta de esculturas de pedra.
“Jogo de Cena” mistura documentário e ficção, reunindo 23 histórias de mulheres que, voluntariamente, contaram suas experiências de vida no palco do Teatro Glauce Rocha, em junho de 2006. Os elementos cinematográficos usados por Coutinho no filme criaram uma obra única e original. Depois de transcrever o material de filmagem, o diretor entregou, sem orientações, a atrizes conhecidas, como Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão. Com a proposta de retratar experiências de pessoas comuns na sua história, a tarefa das atrizes era interpretar o que estava escrito no papel recebido pelo cineasta.
“Cabra Marcado para Morrer” é um dos grandes clássicos do documentário brasileiro. Premiado internacionalmente no Festival de Berlim e no VI Festival do Novo Cinema Latino-americano em Havana, ambos realizados em 1985, o filme acompanha a trajetória dos militantes das Ligas Camponesas do Nordeste brasileiro.
Em 1962, o líder da liga Camponesa de Sapé (PB), João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem de latifundiários. Em 1964, Coutinho começa a rodar um filme sobre sua vida, com a reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato. A produção é do Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional de Estudantes (UNE) e do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, e a direção de Eduardo Coutinho. As filmagens, com a participação de camponeses do Engenho Galiléia (PE) e da viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, são interrompidas pelo Golpe Militar em 1964.
Passados 17 anos, em 1981, Coutinho retoma o projeto, procura Elizabeth e outros participantes do filme interrompido, como o camponês João Virgínio, também atuante em ligas. O tema central passa a ser a história de cada um deles que, estimulados pela filmagem e revendo as imagens do passado, elaboram para a câmera o sentido de suas experiências. João Virgínio conta a tortura e a prisão que sofreu neste período. Enquanto Elizabeth, que havia mudado de nome e vivia refugiada em uma pequena cidade do Rio Grande do Norte com apenas um de seus dez filhos, emerge da clandestinidade e reassume sua identidade. Ela também fala de sua prisão e do reencontro com os filhos, antes dispersos por várias cidades do Brasil, e da tentativa de reconstituir suas vidas.
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