IMS Paulista apresenta filmografia completa de Billy Woodberry, um dos fundadores do L.A. Rebellion

Foto: Billy Woodberry © Joana Linda

De 6 a 30 de junho, o IMS Paulista apresenta uma mostra dedicada à produção do cineasta Billy Woodberry (1950), um dos fundadores do L.A. Rebellion, importante movimento do cinema negro norte-americano. A retrospectiva inclui sua obra completa, composta por cinco filmes, entre eles “Abençoe seus Pequeninos Corações” (1983), que apresenta a cidade de Los Angeles sob a óptica de uma família da classe trabalhadora, e “E Quando Eu Morrer, Não Ficarei Morto” (2015), uma homenagem ao disruptivo poeta beatnik Bob Kaufman. Também serão exibidos filmes que o diretor realizou em parceria com outros grandes nomes do cinema, como Haile Gerima, Thom Andersen e Charles Burnett.

Para compor a mostra, Woodberry também foi convidado a selecionar curtas-metragens que foram referência em seu desenvolvimento como cineasta e professor. Intitulada Carta Branca a Billy Woodberry, a seleção inclui sete filmes, de diferentes países e temporalidades, como “O Carroceiro” (1963), primeiro curta do senegalês Ousmane Sembène, e “Couro de Gato” (1960), do brasileiro Joaquim Pedro de Andrade.

Woodberry virá para a estreia da mostra e estará presente na sessão de abertura, no dia 6 de junho, às 19h, quando será exibido seu primeiro longa-metragem, “Abençoe seus Pequeninos Corações”, em projeção 35mm pela primeira vez no Brasil. Após a sessão, haverá um debate com o diretor e a professora e pesquisadora Tatiana Carvalho Costa. O cineasta também ministrará uma masterclass gratuita, no dia 8 de junho, às 18h, sobre a L.A. Rebellion. A atividade é gratuita e aberta ao público e, para participar, é preciso se inscrever previamente neste link.

Woodberry foi um dos fundadores do L.A. Rebellion, movimento de estudantes de cinema negros e não brancos formado na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, na década de 1970, momento no qual a instituição iniciou uma política de inclusão, com o intuito de diversificar seu quadro de alunos. Nesse contexto, os alunos produziram filmes inovadores, protagonizados por pessoas negras, que questionavam os padrões da indústria de Hollywood e se aproximavam dos cinemas produzidos na África e na América Latina. Ainda que com tramas e estilos distintos, os diretores tocavam em pontos em comum, como a busca de identidade, o jazz norte-americano e a desconstrução dos estereótipos associados à figura da mulher negra.

Nascido na cidade de Dallas, no estado do Texas, em 1950, Woodberry ingressou na UCLA em 1974. Seu primeiro longa-metragem, “Abençoe seus Pequeninos Corações” (1983), foi produzido na universidade, como tese de seu mestrado, sendo influenciado pelo neorrealismo italiano e pela obra de cineastas de países em desenvolvimento.

O filme conta a história do casal Charlie, um homem que está desempregado e precisa fazer bicos para sustentar a família, e Andais, mulher que precisa administrar a vida doméstica e cuidar dos filhos. Passado no bairro de Watts, em Los Angeles, o longa mostra a cidade pelo ponto de vista dos trabalhadores, num viés muito distante dos filmes de Hollywood. Encurralados pela falta de perspectiva, os dois entram em conflito, lidando com dilemas coletivos, como o impacto da desigualdade nas relações familiares, mas também com desejos e aspirações individuais.

Parte das questões presentes em “Abençoe seus Pequeninos Corações” já haviam sido abordados pelo cineasta em “A Bolsa” (1980). Adaptação do conto de Langston Hughes, “Thank You, Ma’am”, o curta-metragem é centrado no encontro entre um menino e uma senhora que, após flagrá-lo tentando roubar sua bolsa, decide levá-lo para uma conversa em sua casa. A partir da interação entre as duas personagens, o diretor toca em pontos como a construção dos laços comunitários e o valor do dinheiro na sociedade americana.

Em seus filmes posteriores, Woodberry adota a linguagem do documentário para questionar o papel das imagens nas construções de classe e raça. Lançado em 2015, seu segundo longa-metragem, “E Quando Eu Morrer, Não Ficarei Morto”, trata da vida e obra do poeta beatnik Bob Kaufman (1925-1986). De origem negra e judaica, Kaufman foi perseguido por questões raciais e políticas, que datam de sua juventude, quando deteve um papel de liderança no Sindicato Nacional dos Trabalhadores Marítimos dos EUA. Anos depois, após uma de suas inúmeras prisões injustificáveis, fez um voto de silêncio que durou mais de uma década. O filme mergulha na vida do artista através de leituras de seus poemas gravadas na época, fotografias, registros policiais e entrevistas.

A filmografia do diretor inclui ainda mais dois documentários: “Marseille Après la Guerre” (2005) e “Uma História de África” (2015). O primeiro trata da atuação dos estivadores de Marselha após a Segunda Guerra Mundial, a partir de um conjunto de fotografias pertencente ao Sindicato Nacional dos Trabalhadores Marítimos dos EUA. O filme é uma homenagem ao diretor senegalês Ousmane Sembène, uma das figuras fundadoras do Novo Cinema Africano dos anos 1960, que trabalhou nas docas de Marselha. Já o segundo analisa um arquivo fotográfico, produzido pelo exército português, que reúne registros da invasão do país europeu no sul de Angola, em 1907.

Cena do filme “E Quando Eu Morrer, Não Ficarei Morto”

A mostra apresentará ainda outros quatros filmes que Woodberry colabora como narrador ou ator, entre eles “Los Angeles por Ela Mesma” (2003), de Thom Andersen, que investiga a construção mitológica do cinema hollywoodiano sobre a cidade de Los Angeles, e “Quando Chove” (1995), de Charles Burnett, um retrato musical da vida cotidiana da comunidade negra de South Central, também em Los Angeles.

A convite do IMS, Woodberry escolheu sete curtas-metragens, de outros cineastas, para apresentar ao público brasileiro. A seleção, que será exibida em paralelo aos filmes do diretor, inclui filmes tanto de ficção quanto documentários, produzidos na África, na América Latina, nos EUA e na Europa, de 1929 a 1995.

Entre os títulos, “O Carroceiro” (1962), do senegalês Ousmane Sembène, narra um dia na vida desse trabalhador de Dakar e foi o primeiro filme feito por um africano negro sobre um tema fictício a ser distribuído fora da África. Já o curta brasileiro “Couro de Gato”, de Joaquim Pedro de Andrade, é um dos episódios do longa-metragem “Cinco Vezes Favela” (1963).

Outro destaque é o documentário “Hanoi, Terça-feira, Dia 13” (1967), de Santiago Álvarez, que registra a vida das pessoas na capital vietnamita e nas zonas rurais circundantes, no pico dos bombardeamentos dos EUA. A seleção traz ainda “Seus Filhos Voltam pra Você” (1979), filme que mostra os dilemas de uma mãe solo, dirigido pela cineasta Alile Sharon Larkin, que também participou do L.A. Rebellion, entre outros destaques.

 

Billy Woodberry em Retrospectiva
Data:
6 a 30 de junho
Local: IMS Paulista – Avenida Paulista, 2424 – São Paulo, SP – Tel: (11) 2842-9120
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Os ingressos podem ser adquiridos no site Ingresso.com ou na bilheteria do IMS para sessões do mesmo dia

Debate de abertura, com Billy Woodberry e Tatiana Carvalho Costa
6 de junho, após a exibição de Abençoe seus pequeninos corações, em 35 mm, às 19h, no IMS Paulista

Masterclass Além da L.A. Rebellion: encontrando um caminho nas sombras de “Hollywood”, com Billy Woodberry
8 de junho, às 18h, no IMS Paulista
Gratuito, com inscrição prévia neste link
Sujeito a lotação

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