Tarkovski e “Soy Cuba” ao ar livre, visita de Stanislavski à ralé e terror baseado em Gógol são atrações do Festival Mosfilm

Foto: “O Rolo Compressor e o Violinista”, de Andrei Tarkovski

Por Maria do Rosário Caetano

A Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo volta à Cinemateca Brasileira para realizar sua nona edição, composta com 15 filmes (14 longas-metragens e um média, este, o quase inédito “O Rolo Compressor e o Violinista”, de Andrei Tarkovski).

A noite de abertura, nessa quinta-feira, 5 de outubro, contará com “Khitrovka – O Signo dos Quatro”, de Karen Shakhnazarov, que soma em sua trama dois nomes sagrados da cultura eslava (o diretor e teórico teatral Konstantin Stanislavski e o romancista Máximo Gorki).

Depois de edição cancelada, ano passado, no CineSesc (por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia), o festival promovido pela CPC-UMES Filmes volta com muitas novidades. A melhor delas, claro, tem a ver com o criador de “Andrei Rublev” e “Stalker”.

Sessão especialíssima, formada com “Rolo Compressor” e o longa “O Espelho”, este com componentes autobiográficos, será exibida no telão externo da Cinemateca, na Vila Mariana, para mais de 500 espectadores. É só torcer para que não chova. Se fizer bom tempo, os cinéfilos paulistanos assistirão a sessão similar à que, no terceiro festival Mosfilm, apresentou cópia estalando de nova do misterioso “Solaris”.

Os 15 filmes, muitos restaurados recentemente pelos organismos culturais russos, serão distribuídos em dois finais de semana, sempre de quinta a domingo, com quatro sessões diárias (vespertinas, três delas, e uma noturna).

A entrada é gratuita para todas as atividades. Além dos filmes, haverá exposição de cartazes (em especial obras-primas da Era Construtivista Soviética) no amplo hall da Sala Grande Otelo, oficina de confecção de bonecas Matrioskas e curso de rudimentos do idioma russo. Pagas só as comidas e artesanato eslavos, disponíveis em barraquinhas nos jardins da Cinemateca, no antigo Matadouro Municipal.

Vale lembrar detalhe importante sobre o média-metragem “O Rolo Compressor e o Violinista”: ele foi realizado, em 1960, como trabalho de final de curso do jovem Tarkovski, na VGIK (Escola Estatal de Cinema de Moscou, que hoje leva o nome do diretor e professor Sergei Gerasimov), tida como a mais antiga instituição de ensino cinematográfico do mundo.

A nona edição da Mostra Mosfilm será, como as anteriores, pluralista. Haverá filmes da era de ouro do cinema soviético (“O Fim de São Petersburgo”, de Vsevolod Pudovkin, realizador que forma com Eisenstein e Vertov a trinca máxima dos anos convulsivos da criação revolucionário-bolchevique). Haverá, também, filmes das décadas de 1930 até a de 90 e contemporâneos.

Produções comerciais marcarão presença ao lado de obras de empenho artístico. Épicos, dramas, thriller, comédias e o “primeiro (e tardio) terror” soviético. Considerado gênero menor na URSS, o “arrepia-cabelos” inaugural do país de Tolstoi e Dostoiévski foi realizado (pasmem!) só em 1967. Seu nome: “Viy – O Espírito do Mal”, da dupla Konstantin Ershov e Gueorgy Kripachyov. Para matizar a opção pelo “gênero desprestigiado”, os dois diretores recorreram a Nikolai Gógol (1809-1852), monumento da literatura eslava.

“Viy – O Espírito do Mal”, de Konstantin Ershov e Gueorgy Kripachyov

Este ano, o festival soviético-russo vai dialogar com a América Latina. E o fará com a exibição de três longas-metragens ambientados em países do subcontinente. Um sobre a queda de Allende, por golpe de Estado comandado pelo General Augusto Pinochet (“Noite sobre o Chile”, de Sebastián Alarcon e Aleksander Kosarev, 1977). O outro (“Essa Doce Palavra Chamada Liberdade”, de Vytautas Zalakevicius), data de 1972, e se passa em país não-identificado, mas que vive sob ditadura militar, condição de muitas nações latino-americanas, naquela década.

O caso mais notório, entre os filmes soviético-latinos, é “Soy Cuba”, realizado em Havana e zonas rurais da ilha caribenha. O projeto era dos mais bem-intencionados. Utilizar um dos maiores cineastas da URSS – Mikhail Kalatozov, premiado com a Palma de Ouro em Cannes (“Quando Voam as Cegonhas”, 1957) – para cantar a Revolução Cubana, ocorrida poucos anos antes e, em 1963-64, já alinhada aos soviéticos.

Todos os recursos foram utilizados para que um grande filme fosse feito. Além de Kalatozov, foi designado um mago das imagens, o diretor de fotografia Sergei Urusevsky (1908-1974). Cuba forneceu toda a retaguarda necessária. Quando “Soy Cuba” estreou, os espectadores cubanos o receberam com frieza. Parecia eslavo e formalista demais. Faltava-lhe a alma, a cor, a vibração latina. Na URSS, o filme também não empolgou.

Passaram-se décadas e décadas até que o épico kalatozoviano fosse redescoberto. Com a URSS e o Socialismo desmantelados, os norte-americanos puderam festejá-lo como desejassem. À frente do pelotão de fãs apaixonados estavam Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. Os dois grandes diretores fizeram-se arautos das qualidades técnicas e artísticas do filme. Em especial do poderoso plano-sequência que o tirou do esquecimento e que o brasileiro Vicente Ferraz colocou em relevo no longa documental “Soy Cuba, o Mamute Siberiano” (2006).

O famoso plano ainda causa espanto, passados exatos 60 anos (o filme foi rodado em 1963). Afinal, não havia naquela época os recursos digitais que hoje permitem o antes impensável.

Vale descrever o plano-sensação: jovens habaneros carregam, em manifestação de protesto, o corpo de opositor assassinado pela ditadura Fulgêncio Batista. O fazem em avenida apinhada de rebeldes indignados. A câmara registra, do alto, o féretro. E o faz em clima épico. Um trilho permite que, pela janela, a câmara adentre, com extrema elegância, pela fábrica de charutos, onde vemos os trabalhadores no desempenho de seu ofício. E a câmara sai por outra janela e volta novamente à avenida ocupada pelos manifestantes. Como o filme será – assim como a dobradinha Tarkovski – exibido no telão externo da Cinemateca, a sessão poderá fazer história junto à cinefilia paulistana. Ela acontecerá neste sábado, 7 de outubro, às 20h30. Torçam para não chover.

No terreno dos filmes recentíssimos, a maior atração é “Khitrovka – O Signo dos Quatro”, de Karen Shaknazarov, o poderoso presidente da Mosfilm. Quem viu “O Tigre Branco” e, principalmente, “Anna Karenina – A História de Vromsky”, sabe que Shaknazarov gosta de temperar histórias reais com ingredientes inventados ou oníricos.

Dessa vez, ele misturou fato realmente acontecido em 1902 e protagonizado pelo grande Stanislavski. O encenador montava a peça “Ralé”, de Gorki, mas estava insatisfeito com os resultados. Queria conhecer a região miserável de Moscou para imprimir realismo à sua criação cênica. Recomendaram a ele que recorresse ao jornalista Vladimir Gilyarovsky, grande conhecedor do bairro de Khitrovka, onde vivia o lúmpem-proletariado. Foi o que Stanislavski e seu parceiro na encenação (Vladimir Nemirovich-Danchenko) fizeram.

“Khitrovka – O Signo dos Quatro”, de Karen Shaknazarov

Para enriquecer esse acontecimento real do Teatro de Arte de Moscou, Shaknazarov e seus roteiristas buscaram inspiração em conto detetivesco do britânico Arthur Conan Doyle. Encontraram, então, elementos para ampliar a trama, que dura 2h06’. É que na parte ficcional de “O Signo dos Quatro”, os visitantes do Teatro de Arte de Moscou acabarão inseridos no meio de investigação sobre o assassinato de morador do miserável bairro.

Dois outros cineastas conhecidos do público brasileiro têm filmes programados na nona edição do festival Mosfilm. O primeiro é Mikhail Romm, autor do imperdível “Bola de Sebo”, joia da fase muda tardia, baseado no genial conto de Maupassant, e do épico documental “O Fascismo de Todos os Dias”. O outro é Grigori Alexandrov, parceiro de Sergei Eisenstein em muitos filmes, e responsável pelo documentário-resgate “Que Viva México!”. Embora tenha se dedicado a produções mais comerciais ao longo de sua carreira (sem Eisenstein), Alexandrov é autor de comédia obrigatória (“O Circo”, 1936), amoroso tributo a Charles Chaplin, e de filme cultuadíssimo pelos franceses, “Jovens Alegres” (1934).

De Romm, os cinefilos paulistanos assistirão a “Os Treze”, de 1936. De Alexandrov, “Encontro no Elba”, de 1949. Ambos, épicos de Guerra.

O mais famoso diretor de comédias do cinema soviético, Leonid Gaidai, será lembrado pelo centenário de seu nascimento com “Operação Y – Outras Aventuras de Shurik”, de 1965. Suas comédias entraram para a história por atingirem até 60 milhões de espectadores (caso “A Prisioneira do Cáucaso”). Calcula-se que seus filmes venderam 600 milhões de ingressos no gigantesco país dos sovietes.

E este ano, pela primeira vez, a Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo exibirá um filme não produzido pelo estúdio quase centenário. Trata-se do recém-lançado “Nuremberg”, de Nikolai Lebedev (2023).

A participação dos Estúdios Mosfilm na história do cinema eslavo é imensurável. Idealizado sob o governo revolucionário de Vladimir Lenin, que tinha o cinema como a arte capaz de dialogar com as grandes massas trabalhadoras, foi lançado em 30 de janeiro de 1924. Portanto, dias depois da morte do líder bolchevique. Tornar-se-ia, dali em diante, um dos mais duradouros estúdios de cinema do mundo. Seu acervo incluiu mais de 2.500 longas-metragens dirigidos por artífices da grandeza de Serguei Eisenstein, Vsevolod Pudovkin, Ivan Pyriev, Grigori Aleksandrov, Mikhail Romm, Grigori Chukhray, Mikhail Kalatozov, Serguei Bondarchuk, Andrei Tarkovsky, Larissa Sheptiko e Elem Klimov (do cada vez mais festejado épico bélico “Vá e Veja”).

Confira a programação da mostra:

Quinta 05/10 (Abertura)    

19:30h – KHITROVKA – O SIGNO DOS QUATRO

Sexta 06/10  

16:00h – OS TREZE
18:00h – AS CRIANÇAS DE SEGUNDA-FEIRA
20:00h – ROLO COMPRESSOR + O ESPELHO

Sábado 07/10  

14:00h – O FIM DE SÃO PETERSBURGO
15:30h – NAS ALTURAS
17:00h – Oficinas de Matrioskas e Língua Russa
18:00h – KHITROVKA – O SIGNO DOS QUATRO
20:30h – EU SOU CUBA (ao ar livre)

Domingo 08/10

14:00h – ENCONTRO NO ELBA
16:00h – OPERAÇÃO Y E OUTRAS AVENTURAS DE SHURIK
17:45h – ESTAÇÃO DE TREM PARA DOIS
20:30h – VIY – O ESPÍRITO DO MAL

Quinta 12/10    

14:00h – ENCONTRO NO ELBA
16:10h – AS CRIANÇAS DE SEGUNDA-FEIRA
18:00h – NAS ALTURAS
19:45h – ESSA DOCE PALAVRA CHAMADA LIBERDADE

Sexta 13/10

14:00h – ESSA DOCE PALAVRA CHAMADA LIBERDADE
17:00h – NOITE SOBRE O CHILE
19:00h – NUREMBERG
21:30h – VIY – O ESPÍRITO DO MAL (Ar Livre)

Sábado 14/10   

14:00h – OPERAÇÃO Y – OUTRAS AVENTURAS DE SHURIK
15:45h – OS TREZE
17:00h – Oficinas de Matrioskas e Língua Russa
17:50h – ESTAÇÃO DE TREM PARA DOIS
20:20h – ROLO COMPRESSOR + O ESPELHO (ao ar livre)

Domingo 15/10

14:00h – O FIM DE SÃO PETERSBURGO
15:20h – NOITE SOBRE O CHILE
17:15h – EU SOU CUBA
19:45h – KHITROVKA. O SIGNO DOS QUATRO

Filmes selecionados

O FIM DE SÃO PETERSBURGO
1927 / P&B / 64 min / Drama
Direção: Vsevolod Pudovkin e Mikhail Doller
Roteiro: Natan Zarkhi
Música: Vladimir Yurovsky
Elenco: Serguei Komarov, Ivan Chuvelev, Vera Baranovskaya e Aleksandr Chistyakov
A necessidade leva um rapaz pobre de um vilarejo a trabalhar em uma fábrica, e a participação em um motim o leva à prisão. A dura escola da vida, na prisão e nas trincheiras, e a comunicação com os revolucionários bolcheviques, lhe abrem os olhos, e ele avança com soldados e trabalhadores para invadir o Palácio de Inverno. * Curiosidades: Pudovkin é considerado, junto com Eisenstein e Kuleshov, um dos fundadores do cinema soviético.

• O filme é estudado em escolas de cinema do mundo todo como exemplo de domínio da montagem cinematográfica.

OS TREZE
1936 / P&B / 86 min / Aventura
Direção: Mikhail Romm
Roteiro: Mikhail Romm e Iosif Prut
Música: Anatoly Aleksandrov
Elenco: Ivan Novoseltstev, Stepan Krylov, Elena Kuzmina e Viktor Kulakov
Meados da década de 1920. Dez soldados desmobilizados do Exército Vermelho, o comandante de um posto de fronteira, sua esposa e um geólogo viajam pelo deserto de Karakum até uma estação ferroviária. No caminho, se deparam, no pátio de uma mesquita em ruínas, com um poço escondido, no qual há metralhadoras ao invés de água. O comandante conclui que as armas pertencem aos Basmachi, grupo islâmico contrarrevolucionário, e decide deter uma gangue liderada pelo sorrateiro Kurbashi Shirmat Khan. * Curiosidades: o filme surgiu da ideia de se fazer uma versão soviética para a história de “A Patrulha Perdida” (1934), de John Ford; posteriormente, o próprio filme inspirou o longa “Sahara” (1943), estrelado por Humphrey Bogart.

ENCONTRO NO ELBA
1949 / P&B / 99 min / Drama
Direção: Grigori Aleksandrov
Roteiro: Lev Sheynin, Leonid Tubelsky Tur e Petr Ryzhey Tur
Música: Dmitry Shostakovich
Elenco: Vladlen Davydov, Gennady Yudin, Lyubov Orlova e Boris Andreev
Últimos dias da Segunda Guerra Mundial. Nas margens do rio Elba, que divide a cidade alemã de Altenstadt, estão alguns soldados do exército soviético e aliados americanos. O general McDermot procura obter patentes para fábricas de componentes ópticos com o professor Dietrich, burgomestre da zona soviética da cidade. Graças à ajuda do espião americano Sherwood, as patentes caem nas mãos do criminoso Shrank. * Curiosidades: as forças da URSS e dos EUA se encontraram pela primeira vez no rio Elba, perto do final da 2ª Guerra Mundial. A ocasião é lembrada pelos soviéticos como o “Encontro no Elba”.

NAS ALTURAS
1957 / Cor / 88 min / Comédia
Direção: Aleksandr Zarkhi
Roteiro: Mikhail Papava
Música: Schedrin Rodion
Elenco: Nikolai Rybnikov, Inna Makarova, Vassily Makarov e Marianna Strizhenova
Uma equipe de operários especializados em altas altitudes chega à construção de uma usina para montar um alto-forno, com um novo método de trabalho. Atrasos e burocracias atrapalham o cronograma da obra, mas os jovens entusiastas conseguem não só executar seu trabalho de maneira brilhante, mas também trilhar seus caminhos para a felicidade. * Curiosidades: “Nas Alturas” foi o filme de estreia do compositor Rodion Schedrin. Escrita especialmente para a trilha, a canção “Marcha dos Trabalhadores nas Alturas” se tornou uma das canções soviéticas mais populares de todos os tempos.

O ROLO COMPRESSOR E O VIOLINISTA
1960 / Cor / 45 min / Drama
Direção: Andrei Tarkovsky
Argumento original: Andrei Tarkovsky e Andrei Konchalovsky
Música: Vyacheslav Ovchinnikov
Elenco: Igor Fomchenko e Vladimir Zamansky
A caminho da aula de violino, o menino Sasha, de sete anos, tem seu instrumento tomado por garotos maiores que ele. O operador de rolo-compressor Serguei, que trabalhava nos arredores, presencia a cena e ajuda Sasha a recuperar o instrumento. Nasce daí uma amizade, que rende ao jovem outras lições de vida.

• Este média-metragem foi o trabalho de conclusão de Andrei Tarkovsky no curso de graduação no Instituto Estatal de Cinema (VGIK).

OPERAÇÃO Y – E OUTRAS AVENTURAS DE SHURIK
1965 / Cor / 91 min / Comédia
Direção: Leonid Gayday
Roteiro: Leonid Gayday, Yakov Kostyukovsky e Moris Slobodskoy
Música: Aleksandr Zatsepin
Elenco: Gueorgy Vitsin, Aleksei Smirnov, Mikhail Pugovkin e Yuri Nikulin
O filme é composto por três histórias curtas, unidas pela figura do protagonista Shurik, um estudante simples, mas resiliente e engenhoso. Constantemente envolvido em situações inusitadas, graças à sua leveza diante da vida Shurik transforma qualquer acontecimento em uma divertida aventura. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2020.

• O filme fez enorme sucesso na URSS no lançamento, sendo um dos mais assistidos de 1965, com 69,6 milhões de espectadores.

• Vencedor do Dragão de Prata no Festival de Cinema da Cracóvia em 1965,

VIY – O ESPÍRITO DO MAL
1967 / Cor / 74 min / Terror
Direção: Konstantin Ershov e Gueorgy Kropachyov
Argumento original: Nikolai Gogol
Música: Karen Khachaturyan
Elenco: Aleksei Glazyrin, Leonid Kuravlyov, Natalya Varley e Vladimir Salnikov
O jovem estudante de filosofia Khoma sai de férias do seminário e pede abrigo, com mais dois colegas, para passar a noite na casa de uma senhora. A anfitriã revela-se uma velha bruxa, que o enfeitiça e voa com ele em sua vassoura, noite adentro. Após derrubar e espancar a velha, Khoma foge e pensa estar livre de sua maldição, mas é convocado a ficar de pé e orar por uma jovem morta, na igreja local, por três noites. Baseado no conto clássico “Viy”, do escritor Nikolai Gogol. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2018.

• Primeiro filme do gênero terror lançado na URSS. Aleksandr Ptushko, mago soviético dos efeitos especiais, produziu o filme e foi responsável pelos efeitos especiais.

O ESPELHO
1975 / Cor / 106 min / Drama
Direção: Andrei Tarkovsky
Argumento original: Aleksandr Misharin e Andrei Tarkovsky
Música: Eduard Artemev
Elenco: Margarita Terekhova, Oleg Yankovsky, Filipp Yankovsky e Ignat Daniltsev
Aleksei, homem na casa dos 40 anos e à beira da morte, relembra seu passado, a infância, os horrores da guerra e a relação com sua mãe e sua ex-esposa. As imagens se misturam com arquivos sobre a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2017.

• O filme ocupa lugar especial na filmografia de Tarkovsky e traz fortes traços autobiográficos, principalmente de sua infância. O diretor filmou sua mãe, Maria Ivanovna Vishnyakova-Tarkovskaya, então idosa, e os poemas de seu pai, Arseny Tarkovsky, permeiam a narrativa e foram recitados pelo próprio.

ESTAÇÃO DE TREM PARA DOIS
1982 / Cor / 142 min / Drama
Direção: Eldar Ryazanov
Roteiro: Eldar Ryazanov e Emil Braginsky
Música: Andrei Petrov
Elenco: Lyudmila Gurchenko, Nonna Mordyukova, Oleg Basilashvili e Nikita Mikhalkov
A garçonete Vera e o pianista Platon Ryabinin se conhecem na estação ferroviária de uma cidade do interior em circunstâncias nada amigáveis. Ela tem um noivo e ele está prestes a ir para a cadeia por um crime que não cometeu. No entanto, o rápido desenvolvimento da relação entre os dois prova que eles não podem mais viver um sem o outro. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2022.

• O roteiro é baseado em dois acontecimentos reais: um passado com o compositor Mikael Tariverdiev e o outro com o poeta Yaroslav Smelyakov. O filme participou da competição oficial do Festival de Cannes, foi eleito melhor longa-metragem de 1983 pela pesquisa da revista “Soviet Screen”, e rendeu ao diretor o Prêmio de Estado da URSS e a Lyudmila Gurchenko o título de Artista do Povo da URSS.

AS CRIANÇAS DE SEGUNDA-FEIRA
1997 / Cor / 93 min / Comédia romântica
Direção: Alla Surikova
Roteiro: Aleksei Timm
Música: Evgeny Krylatov
Elenco: Irina Rozanova, Igor Sklyar, Tatiana Dogileva e Serguei Nikonenko
Dmitry Medyakin, um típico empresário dos anos 90, acaba de receber a notícia de que está falido, e que seus credores exigem o pagamento urgente, ou vão matá-lo. Sua esposa decide deixá-lo e o leva, bêbado, para a pequena cidade de onde vieram. O abandona no pátio da casa da irmã Lida, de quem Medyakin também já foi namorado. Ao voltar a si, o figurão quer retomar o romance com Lida, mas as coisas não são tão fáceis quanto parecem.

• A família do ator Igor Sklyar, que interpreta Medyakin, o acompanhava no set de filmagens e acabou fazendo algumas pontas no filme. Sua esposa interpretou uma das operárias da fábrica, e o filho, um garoto que brinca com fogos de artifício.

KHITROVKA. O SIGNO DOS QUATRO
2023 / Cor / 129 min / Aventura
Direção: Karen Shakhnazarov
Roteiro: Elena Podrez, Ekaterina Kochetkova, Karen Shakhnazarov
Música: Yury Poteenko
Elenco: Konstantin Kryukov, Mikhail Porechenkov, Anfisa Chernykh e Evgeny Stychkin
Moscou, 1902. O famoso diretor de teatro Konstantin Stanislavski decide, em busca de inspiração para uma nova peça, aprofundar-se na vida da ralé que habita a parte pobre da cidade. Ele pede ajuda a Vladimir Gilyarovsky, reconhecido especialista nas periferias de Moscou. Juntos, eles vão ao lendário bairro dos bandidos, Khitrovka, e se envolvem na investigação do assassinato de um misterioso residente local: um sikh indiano com um passado sombrio.

• Inspirado no romance homônimo de Arthur Conan Doyle e em um evento real: a visita de Stanislavsky acompanhado por Gilyarovsky pelo distrito de Khitrovka. O filme estreou em maio último em 1800 salas de cinema da Rússia, depois de liderar as pré-vendas de ingressos na semana anterior.

Especial América Latina

EU SOU CUBA
1964 / P&B / 135 min / Drama
Direção: Mikhail Kalatozov
Roteiro: Evgeny Evtushenko e Enrique Pineda Barnet
Música: Carlos Fariñas
Elenco: Sergio Corrieri, José Gallardo, Luz María Collazo e Raúl García
Dedicado aos acontecimentos relacionados à Revolução Cubana, o filme é composto por quatro histórias e mostra como os protestos contra a ilegalidade e a violência foram amadurecendo nos corações dos cubanos. A vontade de lutar se fortaleceu e eles lutaram contra os opressores para que seu país pudesse se tornar a Ilha da Liberdade. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2018.

• Considerado uma obra-prima por grandes diretores como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola, o filme vem sendo cada vez mais redescoberto e celebrado nas últimas décadas. • Sergei Urushev, o diretor de fotografia, realizou um dos planos-sequência mais famosos da história do cinema.

ESSA DOCE PALAVRA CHAMADA LIBERDADE
1972 / Cor / 162 min / Drama
Direção: Vytautas Zalakevicius
Roteiro: Vytautas Zalakevicius, Valentin Ezhov
Música: Vyacheslav Ovchinnikov
Elenco: Ion Ungureanu, Regimantas Adomaitis, Irina Miroshnichenko e Jouzas Budraitis
Em um país da América Latina, no início da década de 1970, militares chegam ao poder após um golpe. A população civil é reprimida, e uma onda de prisões ocorre. Ex-senadores, liberais e comunistas, são presos ilegalmente, e jogados na inexpugnável fortaleza militar de San Stefano. Lá, são condenados a permanecer por muitos anos, sem julgamento ou investigação. Patriotas clandestinos desenvolvem um plano para libertá-los. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2022.

• Pelo filme, Vytautas Zalakevicius recebeu o prêmio de Melhor Diretor no Festival Internacional de Cinema de Moscou em 1973.

NOITE SOBRE O CHILE
1977 / Cor / 97 min / Drama
Direção: Sebastián Alarcón e Aleksandr Kosarev
Roteiro: Sebastián Alarcón e Serguei Mukhin
Música: Patricio Castillo
Elenco: Grigore Grigoriu, Nartay Begalin, Giuli Chokhonelidze e Islam Kaziev
Alienado da política, o jovem arquiteto Manuel, depois de ter sido falsamente acusado, vai parar no presídio do Estádio Nacional, onde testemunha a tortura a que os detidos são submetidos. Quando chega sua vez, os militares lhe oferecem colaborar com o regime, ao que Manuel recusa. O filme recria os trágicos acontecimentos ocorridos no Chile no outono de 1973, após o golpe liderado pelo General Augusto Pinochet, que derrubou o regime democrático constitucional do país e seu presidente, Salvador Allende.

• Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema de Moscou, em 1977.

Exibição Especial

NUREMBERG
2023 / Cor / 131 min / Drama
Direção: Nikolai Lebedev
Argumento original: Aleksandr Zvyagintsev
Música: Eduard Artemev
Elenco: Serguei Kempo, Lyubov Aksyonova, Evgeny Mironov e Serguei Bezrukov
1945: o Tribunal Militar Internacional inicia seus trabalhos em Nuremberg. Um grande número de pessoas de todo o mundo vem ao julgamento, que mais tarde será conhecido como “O Julgamento do Século”. A cidade está lotada de jornalistas, advogados, tradutores, testemunhas e muitos participantes e funcionários do processo.

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