Marieta Severo vive dias de cinefilia no Olhar de Cinema e apresenta o curitibano “Torniquete“
Foto © Amanda Lavorato
Por Maria do Rosário Caetano, de Curitiba (PR)
A atriz Marieta Severo, uma das protagonistas do filme “Torniquete” (foto), da paranaense Ana Catarina Lugarini, viveu dois breves dias de cinefilia na décima-quarta edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
No belo Cine Passeio, um casarão restaurado e dotado de duas ótimas salas (Luz e Ritz), ela assistiu a dois filmes brasileiros — o curta “Plantar Estrelas”, de Geraldo Sarno, e “A Grande Cidade”, de Cacá Diegues, cineasta e amigo recém-falecido, que a dirigiu em “Chuvas de Verso” e “Bye Bye Brasil”. Ambos do núcleo histórico do festival que movimenta seis espaços culturais da capital paranaense.
Na noite de sábado, 14 de junho, em horário nobre, Marieta estava no MON (Museu Oscar Niemeyer), cercada pela imensa equipe — quase inteira composta de mulheres — de “Torniquete”, o filme que representa o estado-anfitrião na principal competição do Olhar de Cinema. Ao lado de suas colegas de elenco — as jovens Sali Cimi e Renata Grazzini — e de imensa equipe técnica e artística, a atriz lembrou que tem atuado, “com imenso prazer, em filmes de diretoras e diretores estreantes”.
Ao receber o convite para interpretar Lucinda, mulher marcada pela dureza da vida (sua casa foi assaltada “43 vezes”) e que retira o sustento da revenda de botijões de gás, Marieta fez questão, primeiro, de ler o roteiro. Gostou muito. Sobre a jovem cineasta, estreante no longa-metragem, a atriz percebeu que trazia boa recomendação. “Ela trabalhou com o cineasta Aly Muritiba, a quem não conheço pessoalmente, mas de quem admiro os filmes”.
O diretor baiano, ex-guarda carcerário que estudou Cinema em Curitiba e aqui desenvolveu sólida carreira (é um dos criadores do Olhar de Cinema), prestigiava a sessão. De pronto avisou que iria se apresentar a Marieta Severo, após a sessão, seguida de debate, e abraçá-la.
A projeção começou, assistida pela maior plateia mobilizada até agora pelas mostras competitivas e informativas do festival (exceção, claro, para a noite inaugural, que lotou os 1.572 lugares da bucólico-lacustre-e-arborizada Ópera de Arame). Não havia um lugar vago no Cine MON (auditório dotado com excelente equipamento de projeção). Suas 345 poltronas somam mais que o triplo de assentos do Passeio Luz e Ritz (88 lugares cada um). O que demonstra que o cabeçudo Olhar de Cinema está crescendo a cada nova edição. E ocupando salas cada vez maiores.
A trama de “Torniquete”, urdida pela diretora Ana Catarina em parceria com Alice Name-Bomtempo, é lacunar e bastante enxuta (apenas 75 minutos). Se passa, em boa parte, na misteriosa casa de Lucinda, disposta a distribuir parcos gestos de afeto. A esse lar, alvo de assaltos constantes, chegarão Sônia (Renata Grazzini), uma mulher prática e decidida, e sua filha, a adolescente Amanda (Sali Cini). Elas são filha e neta da personagem de Marieta Severo. E se estranham. E não é para menos. Um novo assalto, no início da rarefeita trama, as perturbará de forma dolorosa.
Para a jovem Amanda, sobrará imensa cicatriz no rosto. Por isso, ela se submeterá a dolorido processo de sutura (“Suture”, o delicado nome em inglês do filme). Por tratar-se de narrativa que dialoga com o horror e o suspense, o título brasileiro fez-se mais explícito — “Torniquete” (dispositivo que busca estancar uma hemorragia).
A casa perturbada pelos constantes assaltos e a cicatriz no rosto da garota serão essenciais ao desenvolvimento da trama. E vão servir de metáfora para as dores dessas três gerações de mulheres. “Torniquete” é, do ponto de vista técnico, muito bem resolvido. A cicatriz, mesmo vista em closes, resulta perfeita. Os pontos, arrancados frente a um pequeno espelho por Amanda, nos afligem. Figurinos e direção de arte são de excelente qualidade (a neta de Lucinda se apresenta aos nossos olhos como uma versão curitibana da cantora britânica Amy Whinehouse — 1983-2011).
As três atrizes brilham. A fotografia da jovem Hellen Braga, banhada em vermelho (num filme que deseja estancar o sangue e as dores existenciais de três mulheres problemáticas) soma atmosfera de mistério e medo.
O que não deu o resultado esperado foi o roteiro. É muito bom ver filmes que acreditam no poder da imagem e não se aferram à verborragia desabrida. “Torniquete”, porém, peca por ser lacônico demais. O que dificulta a compreensão das dores daquelas três mulheres. Há uma quarta personagem, amiga íntima de Amanda, que tenta (e às vezes consegue, como no passeio de bicicletas) iluminar aquele mundo de sombras. Mas, por tratar-de um ‘horror movie feminino’ (ou feminista), esperamos sempre que algo aconteça e nos aproxime da intimidade daquelas vidas miúdas.
Talvez, por sua trama excessivamente rarefeita, “Torniquete” tenha deixado o público insatisfeito. Os aplausos, ao final, foram comedidos. Mesmo com o filme jogando em casa. Durante o debate (o mais concorrido entre os realizados no pós-sessão), Ana Catarina deixou claro que ela e Alice Bomtempo queriam, com muita convicção, realizar um filme capaz de fertilizar a imaginação do espectador, instigando-o a preencher, ele mesmo, as lacunas.
Marieta Severo, com seis décadas de dedicação ao teatro, cinema e TV, deu seu testemunho sobre a composição de Lucinda: “nós, atores, queremos conhecer as motivações do personagem, por que isso deu naquilo”, mas “Ana Catarina sabia o que queria e nos dirigiu com confiança plena. Nós seguimos suas intenções”.
Durante o debate, a cinéfila Marieta construiu, de forma sintética, uma ode ao cinema brasileiro. Embora tenha acumulado maiores glórias no teatro e na TV (sua Dona Nenê, de “A Grande Família”, frequentou as casas brasileiras por quase 13 anos), a atriz fez questão de lembrar que foi “formada por filmes brasileiros”. Era adolescente quando viu “Vidas Secas” (1963) e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964). “Saí desses dois filmes” — testemunhou — “chapada”, pois “descobria ali um Brasil que eu desconhecia, que furava a bolha de Ipanema”.
Para acrescentar: “esses filmes, entre muitos outros, me formaram com tamanha profundidade que eu quis participar daquele processo”, disposta a “aceitar papelzico, papelzinho, papelzão, participação afetiva, o que fosse”. Pois “sou devedora” do cinema brasileiro. Marieta foi aplaudida calorosamente. Eduardo Valente, um dos curadores do Olhar de Cinema, lembrou que a atriz fizera questão, em sua breve passagem pelo festival curitibano, de assistir ao filme de Geraldo Sarno, realizado em Moçambique, em meados da década de 1970, e ao clássico “A Grande Cidade”, de Cacá Diegues (1965).
Aly Muritiba, em sua intervenção no debate coordenado por Valente, fez questão de elogiar o trabalho de sua jovem colaboradora, Ana Catarina Ligarini: “Você conseguiu, com ‘Torniquete’, filmar o silêncio. Conseguiu, com lentos movimentos de câmara, que suas atrizes existissem silenciosamente”. E mais: “sua opção por narrativa lacunar, pela ausência do verbo, lhe permitiu realizar um lindo filme”. O debate seguia animado. Mas já se aproximava da meia-noite. De forma que a cineasta Cíntia Domit Bittar, outra praticante do cinema de horror feminista, nem pudesse dirigir sua pergunta à equipe de “Torniquete”. Se o fizesse, os 375 espectadores e equipe do filme passariam a protagonizar um ‘terror movie’ em tempo real. “Se não sairmos agora, nesse instante” — avisou Valente —, “as luzes se apagarão automaticamente dentro de alguns minutos”. Por isso, clamou que todos deixassem o Cine MON, para não sermos obrigados a enfrentar as sombras de um dos mais emblemáticos cartões postais de Curitiba. Tudo numa noite gelada, já que aqui o frio tem sido constante.
O público do Olhar de Cinema já assistiu a mais três longas brasileiros, também selecionados para a mostra competitiva — o paulistano “Explode São Paulo, Gil”, de Maria Clara Escobar, “Glória & Liberdade”, da baiana Letícia Simões, e “A Voz de Deus”, de Miguel Antunes Ramos.
Escobar, diretora de “Os Dias com Ele”, embate dela com o pai, o filósofo Carlos Henrique Escobar (1933-2023), e de “Desterro”, exibido no Festival de Roterdã, realiza mais um filme de formato híbrido, com atrizes profissionais (como Gilda Nomacce) e “naturais” (como a protagonista Gildeane Leonina, a Gil, e Ivaneide Cavalaro, a Dedé). A própria diretora e uma de suas produtoras, Paula Pripas, também atuam no filme.
Gil faz faxina na casa de Maria Clara Escobar. Tem uma voz maravilhosa e ama cantar. Mora na periferia de São Paulo. Nasceu em Goiás, sofre crises de epilepsia, divide sua vida com a companheira, a decidida Dedé. Ambas, já cinquentonas, se entusiasmam com proposta de Maria Clara: fazerem, juntas, um filme no qual Gil realizará seu sonho, ser cantora profissional, gravar um disco, fazer shows. E, ainda por cima, explodir Brasília, São Paulo, quem sabe o Brasil. Como jovens paulistanos fizeram com a estátua de Borba Gato, o símbolo do bandeirantismo predador, que ardeu em chamas, mas sobreviveu.
O filme é convulsivo, original, inquieto (até demais) e pode desconsertar parte do público. Mas quem o assistir, jamais sairá da sala conformado, apaziguado. As imagens (muitas delas assinadas pela fotógrafa Wilssa Esser) são poderosas e Gil é uma força da natureza, dona de franqueza desconcertante e pronta (apesar de dúvidas insistentes) para novos desafios. E, nesse sentido, encontra em Maria Clara Escobar uma alma gêmea.
A cineasta e roteirista baiana Leticia Simões vem marcando significativa presença em festivais dedicados a filmes mais experimentais. Depois de sua “Trilogia Literária” (“Bruta Aventura em Versos”, “Tudo Vai Ficar da Cor que Você Quiser” e “O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva”), ela mergulhou numa série de títulos de autoficção (“Casa”, “Nós” e “A Vida Secreta de meus Três Homens”). Com este último, participou, em janeiro último, da Mostra de Cinema de Tiradentes. Menos de cinco meses depois, ela chega ao Olhar de Cinema com o novíssimo “Glória & Liberdade”. Trata-se de uma animação. Sim, da primeira incursão da artista no gênero.
Como “Explode São Paulo, Gil”, filme realizado ao longo de dez anos, “Guerra & Liberdade” também se fez ao longo de uma década. Para a baiana Letícia, tudo começou no Ceará, em Fortaleza, em 2015, onde estudava roteiro. Ali teve a ideia de realizar um filme sobre rebeliões populares brasileiras — como a Cabanagem, a Balaiada, a Sabinada e a Praieira. Todas derrotadas pelo poder central, pelo uso da força das armas. Mas no filme por ela escrito (em parceria com Pablo Nóbrega), tais rebeliões mudariam o curso da História e triunfariam.
A cineasta apresentou e debateu seu quinto longa-metragem ao lado do produtor Maurício Macedo e de um de seus diretores de animação, Esaú Pereira. Ela lembrou o contexto que fertilizou “Glória & Liberdade”: havia um significativo movimento de animação em Fortaleza e a Lei Cristovam Buarque (exibição mensal de duas horas de filmes brasileiros em escolas das redes pública e privada) fôra aprovada pelo Congresso Nacional. Havia, pois, necessidade de gerar produções que ajudassem a levar histórias do Brasil aos estudantes. Ela se dedicou, com empenho, à pesquisa das rebeliões populares e formatou o roteiro.
Sua trama se passa em 2050, portanto em futuro próximo. O continente Pau-Brasil celebra 200 anos das Revoltas Regenciais, que dividiram o Brasil em nações. Azul, documentarista da República da Bahia, viaja pelo Norte e Nordeste para investigar o colapso da unidade político-territorial brasileira. Ela entrevista líderes, camponeses, pajés e hackers. Para refletir sobre revolução e identidade.
O filme de Letícia peca por certo uso da didatismo e resulta muito discursivo. Mas chama atenção por sua postura marcada pela inquietação e por momentos de grande beleza plástica.
O público alvo de “Guerra & Liberdade”, os estudantes, não poderá vê-lo enquanto a Lei Cristovam Buarque, aprovada em 2008, não for regulamentado. A cineasta lembrou que, nesse momento, são envidados esforços no sentido de que tal regulamentação seja vinculada ao ensino de disciplina nascente (Cultura e História Afro-Brasileira e Indígena). Eis, pois, mais uma rodada de esforços para transformar o sonho de Cristovam em realidade.
O longa documental “A Voz de Deus”, assim como os filmes de Maria Clara e Letícia, consumiu dez anos de trabalho de seus criador, o jovem uspiano Miguel Antunes Ramos. O jovem realizador cresceu em ambiente artístico-acadêmico dos mais instigantes. Filho do artista plástico e pensador Nuno Ramos e sobrinho do músico e poeta Arnaldo Antunes, ele ainda cultivou-se em estudos na ECA-USP, com dissertações e tese orientadas por Esther Hamburguer, Ismail Xavier e Cecília Mello. Depois de uma série de curtas-metragens, realizou os longas “Banco Imobiliário”, “Filhos de Macunaíma” e “A Flecha e a Farda”.
Em seu quarto longa documental, Miguel acompanha, por diversos anos, a vida de dois pregadores evangélicos mirins (depois adolescentes), Daniel Pentecoste e João Vítor Ota. O primeiro, fruto de “tempos analógicos”, o segundo, de nossa era ultracortada por redes sociais.
O cineasta apresentou seu filme ao público, no Cine MON, ao lado do montador Yuri Amaral, do produtor Nicholas Bernstein e de Daniel Pentecoste, hoje homem feito, longos cabelos, discurso sereno e articulado, que pouco lembra o menino prodígio. Aquele que, desde os sete anos, pregava a palavra de Deus com discurso arrebatado e aliciador.
“A Voz de Deus” chama atenção por sua originalidade temática. Só agora as religiões neopentecostais começam, de forma significativa, a mobilizar cineastas brasileiros. O caso mais notório é o documentário “Apocalipse Tropical”, de Petra Costa, que teve sua estreia, ano passado, no Festival de Veneza. E que prepara sua campanha por uma vaga no Oscar.
Petra mostra a influência do cristianismo evangélico na política de extrema-direita no Brasil. Já “A Voz de Deus” se ocupa mais da vida de duas crianças em suas relações com os pais, mediada pela pregação religiosa. A relação com a política institucional é, sim, abordada por Miguel Antunes Ramos, mas de forma secundária, já que o pai de Daniel concorre a cargo eletivo, no Distrito Federal, e o faz aliado às hostes bolsonaristas. Porém, o que mais chama atenção no filme é a luta dos dois pregadores pela sobrevivência. E as dúvidas de Daniel, à medida que ele vai crescendo. Já o pré-adolescente João Vítor Ota vê-se, com o pai, misturando pregação religiosa com publicidade e venda de produtos. Como mostra o filme, sem nenhum sensacionalismo, ganhar a vida apenas como pregador não parece tão fácil como supõem nossos parcos conhecimentos do assunto.
FLASHES CURITIBANOS
. FIM DA IUGOSLÁVIA — A mostra competitiva internacional do Olhar de Cinema já apresentou quatro longas-metragens. Um deles, o sérvio “Quando o Telefone Tocou”, de Iva Radivojevic, nos revela, com delicadeza e raro poder de síntese (apenas 73 minutos), uma história que traz dados biográficos de sua diretora e, também, roteirista e montadora. Radivojevic recria, com liberdade, reminiscências de sua pré-adolescência. Em 1992, numa sexta-feira, 10h36 da manhã, sozinha em casa, ela foi informada, pelo telefone, da morte do avô. A partir daquele breve instante, a garota perceberia que não só sua família, mas o mundo que a cercava, estava iniciando processo irreversível de transformações. Seu país, a Iugoslávia, se desintegrava e guerra fratricida chegaria aos Bálcãs. Nada seria como antes. Os personagens da realizadora sérvia, em especial a menina Lana (Natalija Ilincic, a fascinante protagonista), são cativantes. E o humor fino e irônico da narrativa nos seduz. Ponto mais luminoso do Olhar Internacional, até agora.
. UM CORPO PARA HABITAR – O multiartista Angelo Madsen está em Curitiba para acompanhar, no Olhar de Cinema, as exibições e debates de seu filme, de título de grande beleza — “Um Corpo para Habitar”. Realizador trans, ele que é professor na Universidade de Vermont, recria a trajetória de Fakir Musafar (1930-3018), um praticante de ‘body art’ e adepto de preceitos contra-sistêmicas. A partir de impressionante acervo fotográfico, somado a vivências e vozes de idosos gays, Madsen mergulha, por 97 minutos, no seio de uma comunidade dedicada à modificação corporal.
. ARGENTINA — O mais longo dos concorrentes internacionais do Olhar de Cinema — “Fire Suplly”, de 156 minutos — traz a assinatura de Lucia Seles, realizadora das mais inquietas e prolíficas (vinte filmes). Enquanto os demais participantes do festival curitibano fornecem dados (mesmo que sintéticos) de sua carreira e respectiva filmografia, Lucia Seles se define — em texto enigmático — como “guitarrista clássica e praticante da grafomania”. Seu filme (“Suprimento Fogo”, em tradução literal) reúne personagens aleatórios, imersos numa grande cidade. A mãe de Sergio vem visitá-lo. Antes de regressar a San Juan, ela terá 56 horas para fruir paisagens comuns (nas cercanias do hotel, no terminal rodoferroviário, até no necrotério), o dono de um complexo de quadras de tênis inconformado com a dor da perda da cachorrinha Pua Girafa; uma mulher já entrada nos anos que deseja imprimir uma tatuagem em seu corpo. Assim, com personagens-artífices de pequenas vidas, a argentina Seles constrói sua longa narrativa, sempre temperada com humor sútil. Seu desejo, parecer ser o de causar, no espectador, uma instigante estranheza.
. SHAKESPEARE NOS AÇORES – O cineasta espanhol Lois Patiño revisita, em “Ariel”, a peça “A Tempestade”, derradeiro texto do dramaturgo britânico. O faz com muita liberdade. Uma atriz argentina desembarca em estranha ilha, onde o espanhol, o galego e o português se misturam, para participar da montagem de uma peça do bardo. Ela perceberá que ali vida e teatro se confundem. Todos parecem personagens do dramaturgo. As paisagens são de imensa beleza. O filme, em busca de emoções sensoriais, tem na fotografia de Ion de Sosa um de seus trunfos. O elenco, em especial Agustina Muñoz e Irene Escolar, atrai nossa atenção.
. NUVEM DA VINGANÇA — O Olhar de Cinema acertou na escolha de “Cloud – Nuvem de Vingança”, do japonês Kiyoshi Kurosawa, como filme convidado de sua noite inaugural? Antes dele, a fascinante Ópera de Arame, banhada em água e luzes, serviu de palco ao filme paranaense “Casa Izabel”, de Gil Baroni, e ao pernambucano-amazônico-libanês “Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes. Os dois causaram frisson. A Ópera de Arame é, realmente, belíssima e irresistível, apesar do frio (dessa vez, congelante!). Veio para ficar na nova e abrangente geografia do festival curitibano. O filme queer de Baroni jogou em casa e teve o paranaense Luís Mello encabeçando o elenco. A plateia respondeu com calor febril. O filme de Marcelo Gomes, em poético preto-e-branco tinha um trunfo de peso: a presença do escritor Milton Hatoum. Outro sucesso. No dia seguinte, o Olhar de Cinema sediou um dos melhores debates de sua história. Diretor e romancista brilharam. A escolha de “Cloud” teve um lado positivo (levou imenso público à Ópera do Arame, com capacidade para 1.572 pessoas em seu imenso teatro, cercado de camarotes). Mas a ausência de representantes do thriller japonês (mesmo que Kurosawa tenha enviado mensagem digital com ótima apresentação do filme) tirou o calor da noite festiva.
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