Poesia rascunhada
Em sua estreia como diretora, a ilustradora e animadora Rosana Urbes tem obtido enorme sucesso com sua animação “Guida” (2014). Desde sua estreia em junho, o filme já foi programado em mais de 30 festivais pelo mundo e conquistou diversos prêmios, incluindo os de melhor filme e melhor filme brasileiro segundo o júri popular no Anima Mundi. O curta acompanha Guida, uma senhora recém-aposentada que procura encontrar um propósito em sua nova vida, libertando-se dos estigmas reservados a mulheres de meia-idade.
Com bastante leveza, Urbes narra sua história sem fazer uso das falas. “A força da linguagem da animação, pra mim, é a mímica. O desenvolvimento da personalidade do desenho, o estudo do movimento. A fluidez das formas desenhadas. Para construir essa personalidade, estudei cenas da atriz Tuna Dwek, das modelos Priscila Carbone e Luana Lourenço, e filmei a mim mesma também. Essa é a fala da Guida”, explica a diretora, que trabalhou por oito anos nos EUA, sendo seis na Disney.
A animação de “Guida” foi toda feita à mão, em desenhos de animação em grafite e cenários aquarelados no papel. “O 2D está nas origens do cinema, e continua sendo a base para toda a animação produzida hoje. A distância e relação dos desenhos entre si e a velocidade que vemos esses desenhos, cria a ilusão de vida. Em ‘Guida’, essa velocidade é de 8 a 12 desenhos por segundo de filme”, comenta.
O desenho à mão é bastante evidenciado no filme, que prefere um acabamento meio rascunhado, como se a animação fosse feita à medida que a história é contada – e dando um caráter bastante afetuoso e poético à personagem e à sua história. “‘Guida’ é um filme sobre uma modelo-vivo. O tema é coerente com o rascunho. Além disso, a animação 2D também nasce do rabisco. Existem muitos processos para refinar uma cena animada. São as várias estéticas que hoje compõe o cinema de animação. Mas o rascunho mostra o sentimento, o processo de pensamento do animador. Em ‘Guida’, me interessa mostrar a alma crua da animação. Em forma e história, falar da essência das coisas”, conclui Urbes.
Além de continuar seu trabalho como animadora e ilustradora, via sua produtora, a RR Animation Films, Rosana Urbes prepara seu novo curta, “Nina”, a história de uma menina e sua colcha de retalhos.
Por Gabriel Carneiro