Evento discute participação de profissionais negros no cinema com mostra de filmes e workshops
De 20 a 30 de novembro, São Paulo sedia a primeira edição do Nicho Novembro, evento que reúne mostra de filmes, workshops de formação e masterclasses voltados à produção e presença negra à frente e atrás das câmeras. A realização é do Instituto Nicho 54, iniciativa que promove a inserção de profissionais negros no mercado audiovisual. O evento tem correalização da Spcine e Secretaria Municipal de Cultura, com apoio do Projeto Paradiso, iniciativa do Instituto Olga Rabinovich, e Adesampa – Agência São Paulo de Desenvolvimento. As atividades são gratuitas e acontecem no Jardin do Centro, espaço que inclui café, cinema e salas multidisciplinares no centro de São Paulo.
A programação está dividida nos ciclos Super-heróis e heroínas, em que heroísmos cotidianos dialogam com representações não-realistas e excepcionais, e Amores Negros, que investiga o cotidiano de pessoas negras, exibindo obras em que o afeto – entre parceiros ou entre pais, mães, filhos e filhas – é o fio condutor.
Na estreia (20/11), a mostra exibe o clássico do blaxploitation “Cleopatra Jones” (1973, EUA), de Jack Starrett. Um dos ícones do “Black is beautiful”, Tamara Dobson interpreta a agente estilosa e orgulho da comunidade que desmascara policiais racistas. Após a exibição do filme, haverá uma festa de abertura do evento comandada pelo Afrojam SP, projeto musical que celebra a música de artistas pretos independentes sob a insígnia “celebração e protagonismo: das tradições ao afrofuturismo” que a cada edição leva um novo artista a apresentar seu trabalho em pocket show autoral, seguida por uma Jam Session inédita, realizada sem ensaio prévio. A confraternização acontece no Quintal do Centro, a partir de 20h.
A programação da mostra segue com o tributo ao cineasta e ativista americano Marlon Riggs, na quinta (21/11), com a exibição de “Línguas Desatadas”. O filme, que completa 30 anos em 2019, mistura cenas de documentário com relatos pessoais e poesia, na tentativa de descrever a afetividade entre homens negros diante de uma sociedade prioritariamente heterossexual e branca. A obra serviu de inspiração para “Negrum3”, do cineasta Diego Paulino, também na programação da mostra. O curta é um mergulho nas comunidades constituídas por LGBTs negros, “um ensaio sobre negritude, viadagem e aspirações espaciais dos filhos da diáspora.”
Na sexta (22/11), entram em cena diferentes perspectivas sobre os heroísmos negros cotidianos. A sessão começa com “Viver a Vida”, de Tata Amaral, filme de 1991 que mostra a superação dos desafios diários da classe trabalhadora negra através do cotidiano do motoboy Cleibson. “Quantos Eram pra Tá?”, curta de 2019 do cineasta Vinicius Silva, fecha o programa apresentando como protagonistas jovens negros que participam e questionam o recém-conquistado espaço da universidade pública. O programa ainda inclui a estreia nacional do curta canadense “Measure”, exibido no Festival de Toronto, sobre um garoto negro vivendo o luto pela perda do irmão e encontrando maneiras para seguir em frente, e também “Afronautas”, de Nuotama Frances Bodomo, curta afrofuturista que participou da competição de Sundance e da Berlinale em 2014.
Relacionamentos negros que transcendem o tempo são o tema da mostra no sábado (23/11). “A Jornada”, curta de Jonathan Ferr, apresenta um universo afrofuturista onde Ona (Ana Patrocínio) percorre sua jornada pela existência e encontra em Aiye (Bruno Silva) um amor ancestral. Na sequência, o longa “Blacula, o Vampiro Negro”, de William Crain, conta a história do príncipe africano Mamuwalde (William Marshall), transformado em vampiro pelo Conde Drácula (Charles Macaulay) no século XVIII por se opor a escravização e que, duzentos anos depois, reencontra a sua esposa reencarnada no corpo de outra mulher.
Na quarta (27/11), às 19h30, a mostra Herói Amor Negro Herói realiza sessão especial do longa britânico “Mil Tons”, seguida de debate com a diretora Clare Anyiam-Osigwe. O filme, que faz sua estreia no Brasil, aborda questões como o colorismo por meio da história da fotógrafa Jade (Adele Oni). Apaixonada pelo amigo Danny (Kadeem Pearse), aos poucos ela percebe, através de encontros traumáticos, que a única coisa que impede sua felicidade é também sua beleza inerente: seus traços e o tom escuro de sua pele.
Dirigido por Ernest Dickerson, também conhecido por suas frequentes colaborações como diretor de fotografia de Spike Lee, o longa “O Demônio da Noite” ganha sessão na quinta (28/11). Nele, Jada Pinkett Smith interpreta Jeryline, que deve proteger o mundo das ameaças do Collector (Billy Zane).
Na sexta (29/11), o ciclo exibe quatro curtas-metragens, começando por “Univitelino”, de Terence Nance (que também assina a série “Random Act of Flyness”, da HBO), sobre dois imigrantes africanos que tem sua história de amor interrompida por acontecimentos abruptos.
O programa segue com os nacionais “Kadandu”, de Luiz Franco, história afetiva sobre um jovem gay e seu pai; “Amor de Orí”, de Bruna Barros, que retrata um encontro entre Oxum e Iansã, representados por duas mulheres; e “Egun – Os Mistérios do Mar”, de Helder Quiroga, vencedor do prêmio de melhor curta de animação do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
A programação termina no sábado (30/11) com a exibição do queniano-alemão “Supa Modo” (2018), de Likarion Wainaina. Selecionado para a mostra Panorama do Festival de Berlim, o longa acompanha Jo (Stycie Waweru), uma menina de 9 anos com uma doença terminal que envolve seu povoado no sonho de se tornar uma super-heroína.
MASTERCLASS
Na quarta (20/11), na abertura do evento, os criadores do Instituto Nicho 54, Fernanda Lomba, Heitor Augusto e Raul Perez conversam com o público sobre o projeto, as ações previstas para 2020 e as oportunidades para profissionais negros do audiovisual. O encontro acontece no Jardin do Centro, às 15h.
Já no sábado (23/11), em parceria com o Projeto Paradiso, Nicho Novembro realiza masterclass com Ana Julia Travia, vencedora do Prêmio Diadorim que concedeu bolsa para o Programa Roteiro para TV na Universidade de Stony Brook (EUA). A roteirista apresenta questões básicas sobre estrutura de roteiros para séries a partir dos primeiros atos de “Atlanta”(FX) e “Euphoria” (HBO). O encontro acontece às 15h no Jardin do Centro.
FORMAÇÃO
O evento também oferece ao público uma imersão de dois dias com quatro workshops que aborda aspectos criativos e de negócios do mercado audiovisual voltado ao público negro.
A maratona começa na segunda (25/11), às 10h, com a aula “Panorama do Mercado e seus Agentes”, um mergulho no atual cenário do audiovisual, incluindo os principais players, os mecanismos de financiamento e as oportunidades disponíveis sob a orientação do Diretor de Comunicação da Discovery Networks, André Mermelstein.
Às 15h, Alberto Pereira Jr., artista social que atuou como diretor digital na FremantleMedia Brasil, roteirista na Conspiração Filmes e gerente criativo na Academia de Filmes, ministra o workshop “Apresentação Comercial de Projetos” para dar ferramentas aos participantes sobre como trabalhar seus filmes e séries na etapa comercial.
No dia 26 de novembro, às 10h, a cineasta e artista visual Everlane Moraes, diretora de filmes como “Aurora” (2018) e “Pattaki” (2018), fala sobre a criação de narrativas e o desenvolvimento criativo de projetos audiovisuais, da ideia para o papel.
Para finalizar, às 15h, é a vez de falar sobre “Formatação de Bíblia”, material de apresentação e venda de séries que explora detalhes do universo, estrutura, personagens e intenções do conteúdo. O workshop será comandado por Vera Egito, criadora, roteirista e diretora geral da ainda inédita série de ficção TODXS da (HBO Originals).
Os encontros gratuitos acontecem no café Jardin do Centro, das 10h às 18h. As inscrições devem ser feitas pelo formulário online disponível aqui, até 14/11.