FAM promove oito mostras competitivas e homenagens a seu criador, Antônio Celso, e ao ator Giuseppe Oristanio

Foto: Daniela Escobar em cena de “Ritinha”, de Antônio Celso dos Santos

Por Maria do Rosário Caetano

O Florianópolis Audiovisual Mercosul, o FAM, realiza sua vigésima-oitava edição, a partir dessa quinta-feira, 5 de setembro, e prossegue até dia 11, quando serão entregues os troféus Panvision aos vencedores de suas oito mostras competitivas.

Na sessão inaugural, será prestado tributo ao idealizador e criador do festival catarinense, Antônio Celso dos Santos, que faleceu em outubro do ano passado, aos 67 anos. Em sua homenagem, será exibido, na presença do ator Giuseppe Oristanio, o curta “Ritinha”, realizado em 1995 e finalizado em 2001. O roteiro do filme resultou de adaptação de conto do escritor catarinense Hoyêdo de Gouveia Lins (1929-2010).

O produtor cultural Antônio Celso nasceu no interior de São Paulo, fez graduação na UFSC e pós-graduação na USP e passou a dedicar-se ao cinema. Na década de 1970, elegeu Florianópolis como sua cidade definitiva. Ao realizar seu primeiro filme em 35 milímetros, o catarinense adotivo convocou dois atores consagrados pelas telenovelas – Giuseppe Oristanio e Daniela Escobar — como protagonistas. E como coadjuvantes, os craques Otávio Augusto e Imara Reis.

“Ritinha” conta a história do pescador Juca (Oristanio) e sua mulher, a rendeira Rita (Daniela Escobar). Eles vivem cotidiano tranquilo inseridos em seu meio cultural. São descendentes de açorianos. À medida que a cidade começa a fazer parte da vida do casal, Juca e Ritinha se colocam em lados opostos. Ela fica fascinada com as novidades. O pescador sente-se oprimido. Otávio Augusto interpreta Habib, Imara Reis, Joana, e Marlete Duarte, Merência. O sul da ilha de Santa Catarina ambienta a narrativa.

A prata da casa (Florianópolis, Chapecó e Lages) se fará notar, também, com a exibição de três longas catarinenses “Aldo Baldin – Uma Vida pela Música”, de Yves Goulart, “O Último Filme de meu Pai”, de Fabi Penna, e “Efapi Boul”, de Daniela Farina e João Fernando Lucas, que se somarão aos seis curtas em competição (“Lições Marginais de um Manuscrito Clandestino”, de François Mulek, “No Mundo da Lua”, de Cleiton Schlindwein, “O que Fica”, de Fabiane Bardemaker e Daniel Edu Mayer, “A Última Primavera”, de Michelly Hadassa, “Sangria”, de Henrique Schlickmann, e “CadaFalso”, de Yohana Fukui).

No terreno das novidades, a catarinense (de Lages) Thais Ramos participará com “Enfim Devorei a Noite”, de “Conversas FAM”, ao lado de realizadoras de outros estados (a gaúcha Aline Gutierres, de “Noz Pecã”, a capixaba Julia Sena, de “Bleeds”, e a paulista Gary Gananian, com “Algo Sobre Hilda”). Todas elas são diretoras dedicadas ao terror ou suspense.

Por fim, ainda no terreno da prata-da-casa, cinco curtas representarão a produção histórica do município de Florianópolis, que “de forma pioneira criou, 35 anos atrás, o Funcine”. Este mecanismo de fomento ajudou na realização de dezenas de projetos audiovisuais. Os escolhidos para a sessão-homenagem são “Qual Queijo Você Quer”, de Cíntia Domit Bittar, selecionado para dezenas de festivais, “Bar da Noite”, de Marina Moros, “Isto Não É um Filme”, de Loli Menezes, “Quem Disse que Eu Tô Indo pra Casa?”, de Marco Stroisch, e “Sereia”, de Yannet Briggiler. Para completar o programa, será apresentado o primeiro episódio da série “O Som da Ilha – Época de Ouro – Neide Mariarrosa”, de Maria Emília de Azevedo.

Os três longas catarinenses da mostra são documentais. “Aldo Baldin – Uma Vida pela Música”, de Yves Goulart, rememora a trajetória do tenor brasileiro, que cantou Mozart, Bach, Beethoven e Wagner em palcos espalhados por quatros continentes. O filme, falado em alemão, inglês e português, tem direção artística dar Irene Flesch Baldin, viúva de Aldo. O artista, ao morrer em 1994, com 49 anos, deixou sua voz editada em uma centena de discos.

“O Último Filme de meu Pai”, de Fabi Penna, tem como tema a trajetória de seu pai, o cineasta Penna Filho (1936-2015), nascido no Espírito Santo, mas radicado em Florianópolis, onde realizou a maior parte de seus filmes.

Adalberto Penna Filho iniciou-se, aos 16 anos, no campo da comunicação. Primeiro como radialista, depois jornalista. Mudou-se para São Paulo, seguiu carreira como repórter e iniciou-se no cinema pela Boca do Lixo. Trabalhou em filmes de Mazzaropi e no telejornalismo da TV Cultura. Radicou-se em Santa Catarina e viveu seus últimos anos na aprazível Lagoa da Conceição. Além de muitos curtas, dirigiu os longas “Um Craque Chamado Divino”, sobre o ídolo palmeirense Ademir da Guia, e a ficção “Doce de Côco”.

“Efapi Boul”, de Daniela Farina e João Fernando, tem o futebol como tema. E a imigração. Afinal, o time que mobilizou a dupla de realizadores uniu haitianos, acolhidos no Brasil. Por isso, Daniela e Fernandes vão participar de “Conversas FAM” que abordará o tema Futebol e Imigração.

Marilha Naccari, filha de Antônio Celso e diretora de programação do FAM, destaca novidades da edição de número 28 do FAM: “além de promover debates após as sessões dos filmes, estamos chamando atenção para as ‘Conversas FAM de Cinema’, que reunirão muitos de nossos convidados”. E para debater temas contemporâneos e muito importantes.

Ao longo de sete dias, o FAM, realizado pela Associação Cultural Panvision (agora liderado por Marilha Naccari, seu irmão Thiago dos Santos e Alissa Azambuja), promoverá exibição de 66 filmes oriundos de 14 países. E os somará a eventos de mercado (como o 8º Encontro de Coprodução do Mercosul), ao Fórum Audiovisual MercoSul, ao ECM+Lab (Laboratório de Novos Projetos), a oficinas de formação e debates.

Cena de “El Claro”, de Maira Carrasco, do Chile

A competição latino-americana reúne duas produções argentinas (“La Estrella que Perdi”, de Luz Orlando Brennan, e “Por tu Bien”, de Axel Monsú, uma peruana (“El Huatrilla”, de Roberto Flores), uma paraguaio-uruguaia, com apoio francês (“Los Últimos”, de Sebastián Peña Escobar), e duas brasileiras (o catarinense “Aldo Baldin – Uma Vida pela Música”, de Yves Goulart, e o carioca “Black Rio! Black Power!”, de Emílio Domingos).

A direção do FAM não esconde sua alegria de ver um filme que passou por seu Work in Progress (avaliação de projetos em fase de pós-produção), em 2022 – o peruano “El Huatrilla” – estar, agora, na competição pelo Troféu Panvision.

O Projeto Rally Panvision, menina dos olhos da equipe do FAM, retorna à programação do evento em novo formato. Marilha Naccari explica que “não somente universitários poderão participar”, pois “frente ao imenso interesse pelo projeto, decidimos abri-lo aos entusiastas de cinema em geral”.

Dos 133 inscritos, foram selecionados 30 jovens com idades que vão dos 18 aos 30 anos, oriundos de oito países — além do Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela. Eles participarão, pois, da maratona cinematográfica catarinense, divididos em grupos e assinarão cinco curtas-metragens realizados ao longo das 100 horas contínuas do projeto.

Mais sete mostras competitivas fazem parte da programação do festival, além da mostra de longas latino-americanos: duas mostras de curtas (uma do Mercosul e uma catarinense), a mostra de filmes infanto-juvenis, a de filmes on-line, de videoclipes, a Work In Progress (filmes em processo de finalização vindo de países vizinhos, que somam-se a projeto brasileiro) e a Mostra Rally. Os filmes realizados pelos oficineiros também serão avaliados por um júri.

Dos 800 títulos inscritos no FAM, foram escolhidas, por 17 curadores do Mercosul, 66 produções de longa e curta-metragem. Dois espaços, em especial, sediarão as sessões e os eventos complementares do FAM – o CineShow Beiramar Shopping, com projeção de alta qualidade, e o Majestic Palace Hotel, situado na orla litorânea, a 150 metros dos cinemas. A proximidade dos dois espaços permite que os participantes do festival catarinense mantenham significava convivência.

Novidade desse ano, a Mostra On-line permitirá a ampliação do público do FAM. Quem não estiver em Florianópolis (e quem estiver), poderá assistir, no canal do Youtube do festival, a seis filmes hispano-americanos e brasileiros, com acesso gratuito (ver endereço abaixo). A sessão acontecerá nessa sexta-feira, 6 de setembro, às 10h.

Confira os filmes da programação:

Mostra de Longas-Metragens

. “La Estrella que Perdi, de Luz Orlando Brennan (Argentina)
. “Por tu Bien”, de Axel Monsú (Argentina)
. “El Huatrilla”, de Roberto Flores (Peru)
. “Los Últimos”, de Sebastián Peña Escobar (Paraguai, Uruguai, França)
. “Aldo Badin – Uma Vida pela Música” , de Yves Goulart (Brasil-SC)
. “Black Rio! Black Power!”, de Emílio Domingues (Brasil)

Mostra de Curtas-Metragens

. “La Hija de la Azafata, de Sofía Brihet (Argentina)
. “Luthier”, de Carlos González Pénagos (Colômbia)
. “Los Desastres del Naufragio”, de Hernán Velit (Peru)
. “Voz de Trompeta”, de Pilar Smoje Gueico e David Monarte Serna (Chile)
. “La Trampa”, de Ferney Iyokina Gittoma ( Colômbia, Portugal e Amazonas)
. “Movimentos Migratórios”, de Rogério Cathalá (Bahia)
. “Buraco de Minhoca”, de Marília Hughes Guerreiro e Cláudio Marques (Bahia)
. “Quarta-feira”, de Maria Odara (Pernambuco)
. “Hoje Eu Só Volto Amanhã, de Diego Lacerda (Pernambuco)
. “Engole o Choro”, de Fabio Rodrigo (São Paulo)

Mostra de Curtas Catarinenses

. “Lições Marginais de um Manuscrito Clandestino”, de François Muleka (Florianópolis-Brasília)
. “No Mundo da Lua”, de Cleiton Schlindwein (Timbó-SC)
. “O que Fica”, de Fabiane Bardemaker e Daniel Edu Mayer (Chapecó e Cunha Porã, SC)
. “A Última Primavera”, de Michelly Hadassa (Garopaba – SC)
. “Sangria”, de Henrique Schlickmann, (Florianópolis e Palhoça-SC)
. “CadaFalso”, de Yohana Fukui (Itapema e Porto Belo – SC)

Mostra Work in Progress – WIP (Filmes não-finalizados, em processo de pós-produção)

. “Mala Sangre”, de Gisela Sanchez (Argentina)
. “Muña Muña”, de Paula Morel Kristof (Argentina)
. “Nem”, de Juan Manuel Benavides (Colômbia)
. “El Claro”, de Maira Carrasco (Chile)
. “Verde Oliva”, de Wellington Sari (Brasil)

Mostra Infantojuvenil

. “Casa na Árvore”, de Guilherme Lepca
. “Raffi”, de Ricardo Villavicencio
. “Juzé”, de Raquel Garcia
. “Maréu”, de Nicole Schlegel
. “Festa para Duas”, de Marina Polidoro
. “Malu e a Máquina”, de Ana Luiza Meneses. “Pororoca”, de Fernanda Roque e Francisco Franco
. “Felícia e os Super-Resíduos do Bem”, de Laly Cataguases
. “O Último é Mulher do Padre”, de Yasser Socarrás

Mostra de Videoclipes

. “Gauchito Gil – Nacho Rocha”, de Florencia Calcagno (Argentina/Uruguai)
. “Y Si Mañana Me Dan Muerte – DHOGO”, de Pierina Espinoza e Edgar Tuaty (Venezela)
. “Laguna Plena – Rimon Guimarães Feat Tuyo”, de Carlon Hardt e Rimon Guimarães (Brasil)
. “O Invisível – André Abujamra, de André Abujamra, Guga Lemes, Marcelo Nobre, Wagui Almeida (Brasil)
. “Indivíduo: Vida-Morte-Vida – Binarious Feat Tom Suassuna, de Andressa Munizo (Brasil)

Mostra de Filmes On-line
No canal do Youtube do festival, acessível em todo território nacional pelo endereço https://www.youtube.com/@famdetodos

. “Apuntes Sobre la Muerte de un Cine”, de Iñaki Oñate (Argentina)
. “Diario de un Hombre a la Deriva”, de Jose Ibañez (Chile)
. “Hélio Melo”, de Leticia Rheingantz (Brasil – AC-SP)
. “Feira da Ladra”, de Diego Migliorini (Brasil – SP)
. “Javyju – Bom Dia, de Cunha Rete e Carlos Eduardo Magalhães (Brasil – SP)
. “Pano pra Caetano”, de Gabriel Lachowski (Brasil – PR)

Conversas FAM de Cinema

. “O Último Filme de meu Pai” , de Fabi Penna (SC-ES-SP) – Tema: A Obra do Cineasta Penna Filho
. “Nas Ondas de Dorival Caymmi”, de Locca Faria (RJ) – Tema: Cinema e Música
. “Efapi Boul”, de Daniela Farina e João Fernando Lucas (Chapecó-SC) – Tema: Futebol e Imigração
. Programa Mulheres no Terror: “Algo Sobre Ilda”, de Gary Gananian (SP), “Noz Pecã”, de Aline Gutierres (RS), “Enfim Devorei a Noite”, de Thais Ramos, (Lages-SC) e “Bleeds”, de Julia Sena (RN) – Tema: Quatro Curtas de Mulheres no Terror

Mostra Homenagem ao Funcine/Florianópolis – 35 Anos

. “Bar da Noite”, de Marina Moros
. “Isto Não É um Filme”, de Loli Menezes
. “Qual Queijo Você Quer”, de Cíntia Domit Bittar
. “Quem Disse que Eu Tô Indo pra Casa?, de Marco Stroisch
. “Sereia”, de Yannet Briggiler.
. “O Som da Ilha – Época de Ouro – Neide Mariarrosa”, de Maria Emília de Azevedo (primeiro dos seis episódios da série documental).

Oficinas FAM

. “Narrativa de Ficção – Globalizando seu Filme ou sua Série” – Com o escritor, jornalista e cineasta Hermes Leal, doutor em Cinema pela USP (Leal também lançará no festival seu mais recente livro: “O Sentido das Paixões – Teoria Semiótica da Narrativa e da Ficção”, da Zagodoni Editora).

. “Direção de Foto” – Com Ma Villa Real, multiartista visual e diretora de fotografia (de “Memórias de Um Esclerosado”, vencedor do Cine PE-Recife)

Encontro de Coprodução do Mercosul 

O Encontro de Coprodução do Mercosul ECM+LAB, em sua 8ª edição analisará 30 projetos de filmes e séries, dos quais 12 participam, desde julho do LAB, somando 72 horas de consultorias individuais, consultoria coletiva com o Tema Ecovision e participação em palestras.

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