Itaú Cultural Play recebe filmes da edição deste ano do Festival do Rio
Até 27 de dezembro, a Itaú Cultural Play disponibiliza um recorte da 26ª edição do Festival do Rio, que aconteceu entre 3 e 13 de outubro deste ano, na capital fluminense.
Neste recorte da IC Play, a curadoria apresenta três curtas e quatro longas-metragens, sendo um deles premiado, que integraram a mostra Première Brasil. “O Céu Não Sabe meu Nome” (foto, 2024), curta-metragem de Carol AÓ, que recebeu a menção honrosa do júri, acompanha a história de uma mulher que, diante da morte da avó, ressignifica suas memórias antes não reveladas.
A seleção de curtas também traz “Procura-se uma Rosa” (2024), uma adaptação da peça de mesmo nome, escrita por Vinícius de Moraes em 1962. Dirigido por Julia Moraes, usa uma linguagem experimental para contar sobre o sumiço misterioso e repentino de uma jovem e a busca de seu marido por ela. Por fim, o recorte traz “Viva Volta” (2005), de Heloisa Passos, sobre o reencontro do trombonista Raul de Souza, o “souzabone”, com a amiga e parceira artística Maria Bethânia e com seu estado de origem, o Rio de Janeiro, após anos vivendo fora do país.
Entre os longas-metragens, um dos dois documentários é “Armando Costa – Televisão para Mim Não é Bico” (2024), do cineasta Victor Vasconcellos, sobre a trajetória de Armando Costa (1933-1984), autor de TV responsável, entre outros, pelo roteiro de programas como “A Grande Família”, na década de 1970, e parcerias com Jô Soares. O outro documentário é “Alarme Silencioso”, de Ricardo Favilla, que aborda o suicídio entre jovens no Brasil a partir de uma encenação de teatro sobre a história de uma jovem que, após tentar suicídio, se reencontra com os amigos de um grupo teatral.
Já o drama “Insubmissas” (2024) é uma antologia de quatro curtas-metragens criados pelas diretoras Tais Amordivino, Luh Maza, Julia Katharine e Ana do Carmo, com direção geral de Carol Benjamin. Temas como casamento, violência doméstica, desejo e cura perpassam a obra, que traz diferentes visões sobre ser mulher no país – um deles retrata os últimos dias de uma mulher trans idosa numa casa de repouso, e outro mostra a vida de uma enfermeira que tenta superar a morte da filha.
Encerra a seleção do 26º Festival do Rio a animação para crianças “Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil” (2024), de João Amorim. Nele, os irmãos Thiago e Ísis, junto com seu pai, o cineasta João, exploram três biomas brasileiros: Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Em cada cenário, eles ajudam um animal em perigo e descobrem sua importância e seus mistérios.
Outra mostra lançada no IC Play é a TAGS para o Vídeo, que explora os caminhos do vídeo experimental brasileiro, marcado pela inovação na linguagem, na estética e nas tramas. O curador Roberto Cruz, doutor e especialista em audiovisual, escolheu nove curtas-metragens de épocas diferentes, com modos de estar e ver o mundo que vão além dos estereótipos e repertórios convencionais ou hegemônicos.
Os filmes foram divididos em quatro tags temáticas. A primeira é TV Guerrilha, voltada a produções de cineastas das décadas de 1970 e 1980 que criaram programas à margem do mercado audiovisual estabelecido. Um dos filmes que integra esse recorte é “She Has a Beard” (1974), de Rita Moreira e Norma Bahia Pontes. Nele, a artista Forest Hope, uma mulher com barba, sai pelas ruas de Nova York, no auge do movimento feminista, perguntando o que as pessoas acham dela e de seus pelos no rosto.
O outro é “O Espírito da TV”, lançado em 1990, mas gravado em 1989. Ele pertence ao celebrado projeto Vídeo nas Aldeias, criado em 1986 pelo cineasta Vincent Carelli para preservar e fortalecer as culturas indígenas no Brasil. No curta, indígenas Wajãpi dão suas impressões após verem suas imagens e as de outros povos pela primeira vez em uma televisão.
A segunda tag é Ativação: Gestos e Identidades, com produções no qual o engajamento e o discurso estético funcionam como modo de ação. Nela estão “Parabolic People” (1991), de Sandra Kogut, e”Eclosão de um Sonho, uma Fantasia – O Filme” (2023), de Igi Lola Ayedun. Para a filmagem de “Parabolic People”, Sandra instalou cabines individuais com uma câmera nas ruas das cidades de Tóquio, Moscou, Nova York, Dakar, Paris e Rio de Janeiro. A partir dos testemunhos de pessoas em várias línguas, em uma época na qual a internet ainda não era acessível, o filme constrói uma versão otimista da lenda da Torre de Babel. O filme foi um dos primeiros trabalhos artísticos experimentais a utilizar a tecnologia digital e foi concebido para ser assistido sem legendas.
Em “Eclosão de um Sonho, uma Fantasia – O Filme”, a artista multimídia paulistana Igi Lola Ayedun, fundadora da galeria HOA, estimula o banco de dados de uma inteligência artificial a compor autorretratos, mosaicos e paisagens apocalípticas e distópicas. O filme partiu de uma pesquisa de Igi sobre a influência africana na tecnologia, sobretudo nos modos de transmissão de conhecimentos que os materiais carregam.
Lição de Anatomia, como é chamada a terceira tag, agrupa filmes nos quais corpo e imagem são instrumentos de representação. “Corda” (2014), de Pablo Lobato, retrata o Círio de Nazaré, uma das maiores procissões católicas do mundo, realizada em Belém, no Pará, desde 1793. Todos os anos, milhões de pessoas se reúnem para o cortejo à santa e disputam o privilégio de segurar a longa corda de sisal pelas ruas da cidade.
“Refino #2” (2017) foi filmado no antigo Engenho de Oiteiro, uma construção do século XIX, no Recôncavo Baiano. Nele, o diretor Tiago Sant’Ana evoca uma reflexão sobre a colonialidade, a memória e a existência negra a partir de uma cena de uma cascata de açúcar que rui sob o corpo de um homem.
A animação “Vigilante_Extended” (2022), de Vitória Cribb, também aborda os corpos negros. Nesta ficção científica afro-futurista são apresentas as vigilantes, figuras femininas compostas por vários olhos e orelhas gigantes, que observam os movimentos do ciberespaço. Exibida em diversos espaços expositivos ao redor do mundo, a obra foi adquirida pelo Denver Art Museum, nos Estados Unidos, no ano passado.
A quarta e última tag é Território em Transe: Natureza, com filmes que trazem a imagem como forma de representação da relação do homem com o meio ambiente. Em “O Peixe” (2016), de Jonathas de Andrade, o foco é uma vila de pescadores com o costume de abraçar os peixes recém-capturados. Exibida pela primeira vez na Bienal de São Paulo de 2016, e realizada com a participação de pescadores de Piaçabuçu e Coruripe, na região da foz do rio São Francisco, fronteira entre Alagoas e Sergipe, a obra revela os sentidos mais profundos de um gesto afetuoso e, ao mesmo tempo, violento.
Por fim, “Mãri hi – A Árvore do Sonho” (2023), do cineasta yanomami Morzaniel Ɨramari, revela ao espectador a visão do povo yanomami sobre os sonhos. No curta-metragem roraimense, é feita uma viagem pela floresta enquanto a voz do xamã e líder indígena Davi Kopenawa conta a lenda da Árvore do Sonho.
A Itaú Cultural Play traz também ao catálogo o curta-metragem de terror “Ímã de Geladeira” (2022), que coleciona mais de 50 seleções em festivais e recebeu menção honrosa do júri no Festival de Cinema de Gramado de 2022.
Dirigido por Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo, o filme conta a história de um casal de costureiros que, após uma série de apagões, precisa comprar uma geladeira nova. Mas o que seria uma simples compra em uma loja de usados torna-se um risco – só que apenas para pessoas negras.
Realizado por estudantes do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS), “Ímã de Geladeira” se utiliza de elementos do terror, da fantasia e do surrealismo para refletir sobre o neocolonialismo, a violência aos corpos negros e periféricos e a espetacularização de meios de comunicação.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast.