Falta de autor reflete na produção independente para TV
A ausência de uma política para a formação de autores e roteiristas de cinema ao longo dos anos agora se reflete também na TV. Neste momento em que aumenta o número de canais de televisão dispostos a exibir a produção independente, existe, por outro lado, uma barreira criativa que está travando esta prometida expansão, que é a ausência de autores e roteiristas para atender a esta demanda. Fora as grandes produtoras, que possuem roteiristas profissionais contratados, a grande maioria tateia em formatar programas e seriados de acordo com a cultura e o mercado de televisão, por falta de autores em sintonia com os textos e formatos de TV. O autor no mercado de TV é mais importante que no cinema.
Além da questão da formação do roteirista e do autor, que reflete também no cinema, existem mil razões para chegarmos a este ponto. Há anos se aponta a existência deste problema. A primeira destas barreiras, neste momento em que triplicam os recursos para o setor de produção, tem sido a ausência ao longo dos anos de um mercado, mesmo pequeno, onde os produtores independentes possam exercer alguma atividade criativa ligada à TV, já que nossos canais abertos produzem seu próprio conteúdo. Ao mesmo tempo, o processo de crescimento de recursos nos últimos dez anos, para a produção de conteúdo a partir do roteiro pronto, não acompanhou o crescimento de desenvolvimento de conteúdos. Fica por conta do autor-produtor a função de bancar a sua preparação criativa, porque ainda não existem políticas públicas para a geração de projetos.
Outro entrave, esse do próprio autor, é que existe uma cultura antiga de que o autor se forma sozinho. Que o autor bom é amador por natureza, se fez sozinho. Uma cultura negativa, porque na verdade o autor pode se formar e manter-se original, e se preparar para entender melhor o mundo que o cerca, porque precisará encontrar a melhor forma de comunicação com os outros. Se o autor não vê o mundo em outras perspectivas, fica preso ao mundinho do próprio umbigo, oferecendo algo que ninguém, além dele, entende, desfocado da autenticidade e da realidade. E até para refletir bem sobre o seu próprio umbigo, o autor precisa de preparo, mesmo que seja através dos discursos dos livros e dos filmes que consomem como lições.
Essa barreira está explícita no gargalo das chamadas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) para TV, encalhado com toneladas de projetos mal formatados, roteiros em processos iniciais, ideias sem desenvolvimento, em que resultam na falta de clareza do programa ou seriado, assim como demonstram a própria falta de clareza dos autores sobre os projetos propostos. O autor-produtor, além de desinformado, continua a perpetuar os erros, porque ele não tem a quem recorrer para melhorar o potencial de seus projetos. Mesmo com uma concentração de recursos em apenas algumas produtoras, ainda sobra dinheiro no FSA.
Por conta dessa política concentrada no produtor e no diretor, consolidada no cinema, o autor-produtor vai continuar enfrentando essas barreiras no mercado de TV por assinatura, que este ano pode receber mais de R$ 400 milhões pelo FSA, o principal fundo que estará patrocinando a produção independente nos próximos anos. Os pequenos e médios produtores podem ficar fora dessa cadeia produtiva em razão de que precisam se entender com os canais que irão exibir esses produtos. A geração de cineastas ainda acha que a TV deve se moldar ao seu sistema de apresentar e desenvolver projetos, sendo que na verdade são os canais e seus perfis que ditam as regras dos conteúdos que a produção independente deve seguir. O produtor independente não produz para si mesmo, mas para o público que o canal cultiva. Vai demorar muito para que nossos cineastas e diretores de TV compreendam que existe uma regra diferente para lidar com seus parceiros. Sem entender o que querem os canais, os produtores continuarão perdidos no escuro. Sem falar dos produtores das regiões distantes do Rio e São Paulo, em que prevalecendo o chamado Indutor Regional, as regiões Norte e Nordeste deveriam ter uma parte imensa dessa bolada de recursos. E, nestas regiões, existe a maior carência de autores-produtores com capacidade de se tornarem parceiros de um canal de TV de uma hora para outra.
Para piorar o quadro, o produtor e os canais enfrentam também uma dura realidade burocrática da Ancine, que está levando seis meses para analisar um projeto no FSA, e mais outro tempo igual para a liberação de recursos. O que prejudica o planejamento dos produtores e as grades dos canais. Além de não injetar recursos na área de criação, a Ancine (o MinC é totalmente omisso nesta área) trata o tema como prioridades futuras que nunca chegam, que vêm sendo anunciadas desde a sua criação, em 2003, o que marca uma década perdida no campo da criação e desenvolvimento de talentos.
Por Hermes Leal, escritor e documentarista, mestre em Cinema pela ECA/USP, doutorando em Semiótica na FFLCH/USP, e autor do romance “Faca na Garganta” e da biografia “O Enigma do Cel. Fawcett”, entre outros livros.
Descubra a verdade sobre a “falta de roteiristas” no Brasil.
Leia esse artigo: http://sobreroteiroseroteiristas.blogspot.com.br/2013/06/faltam-bons-produtores-e-diretores-para.html
Adorei a matéria!!
Sou roteirista, leciono sobre o tema e sinto as dificuldades na pele. Tanto na minha como nos dos alunos que procuram se instruir antes de tentar se lançar no mercado, mas nem sempre encontram a instrução necessária.
E isso prejudica profundamente a formação do futuro do cinema, televisão, livros, curtas, animações, HQ’s, comerciais entre tantos outros produtos que necessitam da dedicação de um roterista.
Acredito que já exista uma quantidade razoável de bons roteiristas, mas as produções independentes estão dispostas a pagar salários compatíveis com esses profissionais?
Não posso cobrar a precisão e criatividade da luz criada por um Walter Carvalho quando contratei para fotografar o câmera descoladinho do projeto anterior, que está mais excitado e comprometido com o projeto por ter a chance de assinar sua primeira Obra como fotógrafo.
Excelente matéria, poderiamos dizer que isso é um reflexo da decadencia do sistema educativo do Brasil. Ainda que a internet tenha chegado com novas promessas de comunicação e é saudável que assim seja, também cria uma imagem de que o texto só serve se efímero, consumível, momentâneo.
É difícil formar roteiristas quando não há uma boa formação escolar. O próprio cinema não privilegia os roteristas senao os diretores e os atores o que nao incentiva novos criadores.
Obrigada pela franqueza de tuas opiniões
Sou da área e estou disponivél para este mercado!!!
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Arthur Mirov