Grande Otelo terá sua trajetória narrada em documentário

 

Agora é para valer. O ator Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo (1915-1973), nome fundamental na história da chanchada e do Cinema Novo, no teatro de revista e TV brasileiros, terá sua vida contada num documentário. Muitos sonharam em realizar um longa-metragem sobre o artista negro nascido na mineira Uberlândia, não não conseguiram viabilizá-lo. Desta vez, o tabu será quebrado pelo diretor Lucas H. Rossi e pelo produtor Ailton Franco Jr. Eles já estão realizando as primeiras filmagens, depois de intenso período de pesquisas.

“Othelo, o Grande” – que usará o “h”, como o personagem de Shakespeare, em seu título – é um dos 60 documentários apoiados pela Globonews e Globofilmes em fase de produção. Trinta outros já foram concluídos e lançados no cinema e na TV (Globonews) ao longo dos últimos quatro anos.

Ailton Franco e Lucas H. Rossi conseguiram equacionar dois fatores essenciais à viabilização de um filme biográfico sobre Grande Otelo: contam com total apoio dos herdeiros e recursos financeiros para a produção, em especial, a custosa aquisição de acervos visuais e sonoros (lembremos que Otelo foi também compositor, parceiro de Herivelto Martins, em “Praça Onze”, e cantor).

O produtor de “Othelo, o Grande” conta que foi assinado contrato com todos os herdeiros do artista para a produção deste documentário que estreará em salas de cinema. “Na realidade” – detalha – “o projeto nasceu também da vontade dos filhos em resgatar a memória de Grande Otelo, vontade também do diretor do filme, Lucas H. Rossi”.

O longa documental não se concentrará apenas no artista genial que encantou Orson Welles. “Nossa prioridade é o homem e grande cidadão Sebastião Prata”, diz Ailton. “Os filhos contribuirão para mostrar particularidades deste grande brasileiro”.

“A valiosa parceria com a Globo Filmes e Globo News, somada ao Canal Brasil e ao FSA (Fundo Setorial do Audiovisual)” – detalha o produtor – “garantirão a execução do projeto”. E Ailton conta que “nossa produtora está finalizando novas e importantes parcerias”. A distribuição em salas de cinema já está garantida e será da feita pela Livres Distribuidora.

A parceria com a Globonews e Globofilmes, “nossos primeiros parceiros no projeto, nos ajudará muito a impulsionar outras e novas parcerias”. Afinal, além de coprodutores, as duas emissoras “nos darão acesso a todo o arquivo de imagens da TV Globo”.

Ailton Franco enfatiza que a intenção maior de “Othelo, o Grande” é resgatar “a importância do cidadão Sebastião Prata e do personagem Grande Otelo, principalmente para a nova geração, que não teve contato com sua genialidade”.

A lista de filmes produzidos em parceria com a Globonews e a Globofilmes traz títulos que conquistaram vinte prêmios em festivais (caso de “Cidades Fantasmas”, de Tyrell Spencer, vencedor do Festival É Tudo Verdade 2017, e de “Henfil”, de Angela Zoé, melhor filme no Cine PE 2018). Traz também obras que causaram intenso debate e consequências das mais positivas. Este é o caso de “Cartas para um Ladrão de Livros”, de Carlos Juliano e Caio Cavechini, sobre Laessio Rodrigues de Oliveira, conhecido como “o maior ladrão de livros raros do Brasil”. Depois que o longa documental foi lançado nos cinemas (e diversas reportagens e críticas publicadas nos jornais), obras furtadas por Laessio foram localizadas e devolvidas a acervos de instituições públicas (como a Biblioteca Nacional) aos quais pertenciam.

Outros filmes – como “Todos os Paulos do Mundo”, de Gustavo Ribeiro e Rodrigo Oliveira – tiveram boa acolhida da crítica e do público. Ainda não apareceu um campeão de bilheteria entre os filmes já lançados, mas a visibilidade chega para muitos deles, quando são mostrados pela Globonews.

Os filmes fruto de parceria de produtoras de todas as regiões brasileiras com o canal por assinatura são lançados primeiro no circuito comercial. Só depois são exibidos na Globonews (sempre aos sábados, em horário nobre, com reprise aos domingos). Calcula-se que, nestes quatro anos, os documentários foram vistos por mais de oito milhões de pessoas que sintonizam o canal, com alcance médio (por produção) de 400 mil telespectadores.

Vânia Catani, produtora de “Todos os Paulos do Mundo”, só procurou a Globonews e a Globofilmes, quando o longa documental já estava quase finalizado. “A experiência” – registra – “ foi positiva e não houve nenhuma interferência criativa. Os dois diretores realizaram o filme que desejavam”. A proprietária da Bananeira lembra que vem “trabalhando muito bem” com a Globofilmes também em seus projetos de ficção. No caso de “Todos os Paulo do Mundo” – pontua – “a parceria foi uma extensão natural de nossas colaborações anteriores e, óbvio, um reconhecimento pela potente trajetória do ator (e diretor) Paulo José na TV Globo”.

Vânia explica que o longa dedicado à trajetória do ator foi financiado “em sua quase totalidade com recursos da própria Bananeira, através do Fundo Setorial do Audiovisual, graças a prêmios automáticos que as produtoras recebem pelas performances de seus filmes anteriores”.

A produtora mineiro-carioca vai, agora, dedicar-se a novo longa documental – “O Mundo Depois do Fim”, da escritora e roteirista Antônia Pelegrino. O projeto teve seu desenvolvimento financiado pela Globofilmes e Globonews. Vânia espera produzir o novo documentário em parceria com o sistema Globo, em 2019.

Ana Luíza Azevedo, da Casa de Cinema de Porto Alegre, dirigiu, com Jorge Furtado, uma das parcerias da produtora gaúcha com a Globonews e Globofilmes: “Quem é Primavera das Neves”, sobre poeta portuguesa radicada no Brasil. E produziu “Cidades Fantasmas”, o belo filme do jovem Tyrell Spencer.

“Nossa experiência com a Globonews nestes dois documentários”, conta Ana Luíza, “foi extremamente positiva”. Aprovados os projetos, “tivemos total liberdade para trabalhar”. O primeiro filme, “Quem é Primavera das Neves”foi totalmente viabilizado com recursos do canal. Já “Cidades Fantasmas”um projeto mais caro devido às viagens por vários países, “foi realizado numa parceria da Globonews (como longa-metragem) e Canal Brasil (como série). Produzimos o filme e a série ao mesmo tempo”.

A cineasta e produtora gaúcha lembra que “hoje, o público assiste aos filmes onde ele quiser, seja nos cinemas, na televisão, computador ou celular”. Por isto, “cabe a nós, produtores, realizadores e distribuidores, trabalharmos para dar visibilidade a cada filme, e, assim, aumentar a chance do público saber que ele existe”.

A premissa do projeto de documentários da Globonews de não exigir a condição de primeira vitrine (o filme vai primeiro aos cinemas e, só depois, à TV) é destacada por Ana Luíza. “Esta modalidade é bastante comum nos países europeus e é ótima”, pois “permite que os filmes participem de festivais no Brasil e no exterior, ajudando, assim, a aumentar a repercussão nas mídias espontâneas, e, consequentemente, aumentando o potencial de público seja no cinema, na televisão ou em outras mídias”.

A cineasta Emília Silveira já realizou quatro filmes em parceria com a Globonews e Globofilmes. Três deles percorreram o circuito de festivais, ganharam prêmios e chegaram às telas dos cinemas – “Setenta”, “Galeria F” e “Silêncio no Estúdio”. O quarto, “Callado”, sobre o escritor niteroiense Antônio Callado (1917-1997), já passou por vários festivais e deve ser lançado em março de 2019.

A realizadora diz que “as quatro experiências, realizadas ao longo de seis anos, foram muito positivas”. A parceria começou em junho de 2012, quando ainda não se havia estruturado o projeto de apoio e exibição de documentários do canal por assinatura”.

“Setenta” foi o primeiro. “Luis Erlanger, na época, diretor da área de Comunicação da Globo” – rememora – “levou a ideia à Globofilmes e eu, que queria apenas que cedessem, sem custo, o arquivo de imagens, saí da reunião com o apoio necessário para a realização do meu filme. Com isso, pude procurar outros coprodutores – como o Canal Brasil, que está em todos os meus filmes –já com boa parte do orçamento garantida (30%)”.

Com o projeto de coprodução estruturado há quatro anos, Emília conseguiu consolidar parceria que define como “sólida e essencial para o desenvolvimento do meu trabalho”. “Galeria F”, “Silêncio no Estúdio ” e “Callado” são fruto do apoio da Globonews, Globofilmes e Canal Brasil.

“Essa aposta em mim, em minha equipe e nos meus filmes” – constata – “foi essencial para a continuidade do meu trabalho e a consolidação no mercado da minha produtora, voltada à realização de filmes políticos. Alguns sobre questões polêmicas, com a luta armada que combateu a ditadura civil militar brasileira”. Apesar da temática – garante a realizadora carioca –, “e não sei mesmo explicar o por quê, nunca sofri qualquer interferência ou mesmo recebi sugestão dos coprodutores da Globo sobre o conteúdo, enfoque ou linguagem dos meus filmes. Sempre mostrei a estes parceiros os filmes prontos”.

Neste mês de agosto, a Globonews vai apresentar “Pra Ficar na História”, de Boca Migotto, que registra povoado colonial no interior do Rio Grande do Sul, habitado por descendentes de italianos. Já em setembro, quando serão lembrados os 20 anos da morte da primeira apresentadora mulher da TV brasileira, Edna Savaget (1928-1998), será exibido o longa “Silêncio no Estúdio”, de Emília Silveira.

Em outubro, estreia “A Imagem da Tolerância”, de Joana Mariani e Paula Trabulsi, que parte dos 300 anos do encontro de imagem da Padroeira do Brasil (Nossa Senhora de Aparecida) para investigar a fé em nossos dias. O longa será exibido num sábado, 13 de outubro, dia seguinte ao dedicado pela Igreja Católica à padroeira negra do Brasil.

Em novembro, se dará a estreia do documentário “A Última Abolição”, de Alice Gomes. Passados 130 anos da assinatura da Lei Áurea, o filme, que teve supervisão artística de Jeferson De, enfoca o período de 1850, quando ações internacionais de coibição à escravidão começaram a ganhar força, e chega a 1888, com “o fim da escravidão” (pelo menos do ponto de vista legal). A estreia se dará no mês da Consciência Negra.

Na lista de novos projetos em diferentes fases de produção, estão “Filme Ensaio”, de Maria Flor, com Malu Galli, Andrea Beltrão e Mariana Lima, “O Sentido da Vida”, de Miguel Gonçalves, produzido pela O2 Filmes, com parceiros portugueses, “Pallace 2”, de Rafael Machado e Gabriel Correa, sobre o desmoronamento do prédio que matou oito pessoas e deixou todos os proprietários sem casa, em 1998, e “Nazinha”, de Belisário Franca (diretor de “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”, um dos títulos mais premiados do projeto), sobre o indulto aos presos nas festas do Círio de Nazaré. Outros filmes abordarão as trajetórias de Tom Jobim, Chacrinha, Mussum, Sidney Magal e Hector Babenco.

Por Maria do Rosário Caetano

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