A Árvore do Amor

Sim, é um melodrama assumido, escancarado, cuidadosamente desenvolvido para provocar torrentes de lágrimas nas plateias. Porém, tudo isso com a marca de qualidade do cineasta Zhang Yimou, o mesmo de “Lanternas Vermelhas”, “Herói”, “O Clã das Adagas Voadoras”, “Nenhum de Nós”, “A Maldição da Flor Dourada” e outros filmes que encantaram multidões graças ao estilo majestoso, imponente, milimétrico e eficiente deste cineasta chinês.

O roteiro é adaptado do livro de Ai Mi, publicado em 2007, que, segundo o press release do filme, vendeu 4 milhões de unidades. Confesso minha total ignorância ao tentar mensurar este número dentro do gigantesco mercado chinês. Mas não importa. A história fala de Jing, uma garota extremamente ingênua que vai fazer uma pesquisa escolar numa pequena aldeia do interior. Seu sonho é estudar muito, nunca falhar em nenhuma de suas obrigações, louvar Mao Tsé-Tung, e assim conseguir uma indicação ao cargo de professora em sua cidade. Porém, no bucólico interior chinês ela conhece Sun, rapaz mais velho e aparentemente cheio de segredos. A arrebatadora paixão que se instala entre ambos pode significar a derrocada dos planos de Jing.

Todos os elementos clássicos do melodrama épico-romântico estão em “A Árvore do Amor”: trilha sonora adocicada, estudadas relações de causa e efeito que se resolvem nas últimas cenas, um amor impossível, um pano de fundo político, belas locações etc. O que não é exatamente um demérito do filme, mas sim um estilo, uma opção assumida. Opção, diga-se, desenvolvida com muito talento por Yimou. Se por um lado a história a ser contada tem o desenvolvimento e a previsibilidade de um novelão mexicano, por outro, a delicadeza da direção tornam o filme uma pequena preciosidade.

A fotografia de Zhao Xiaoding (o mesmo do estonteante “O Clã das Adagas Voadoras”) trabalha com cores pasteis e luzes difusas que nos transportam a um tempo passado, a um ambiente onírico onde nada é fortemente brilhante nem colorido suficiente que nos tire desse transe de sonho. A música do estreante Chen Qigang é bela, hipnótica e envolvente. Uma trilha que deve ter agradado bastante ao diretor, que já escalou Chen para seu próximo filme, “The Flowers of War”.

E o par central de atores caminha perigosamente pela finíssima linha que divide a ingenuidade excessiva da inverossimilhança. E surpreendentemente alcança o objetivo de criar empatia com a plateia. Principalmente no caso de Jing.

Certamente é necessário que o espectador tenha uma boa tolerância à glicose para aceitar bem o filme. Pateias mais sintonizadas com registros realistas e/ou políticos e/ou críticos tenderão a rejeitá-lo. Quem se dispuser, porém, a embarcar nessa viagem lacrimosa do diretor Yimou, certamente sairá recompensado.

A Árvore do Amor | Under The Hawthorn Tree
Diretor: Zhang Yimou
Elenco: Zhou Dongyu – Shawn Dou
Gênero: Romance
País: China
Tempo: 115 min.
Ano: 2011

 

Por Celso Sabadin

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