Fracasso ou sucesso?
Rubens Ewald Filho, o crítico que mais entende de Oscar no Brasil, foi o primeiro jornalista brasileiro a divulgar, em nossa imprensa, reveladora pesquisa realizada por três repórteres do “Los Angeles Times”. A trinca investigou as entranhas da Academia de Cinema de Hollywood e descobriu que a instituição é majoritariamente branca (93%), masculina (77%), seus associados têm idade média de 62 anos (só 14% têm menos de 50 anos) e apenas 50% deles apareceram na tela nos últimos anos (num total de 5.765 associados). Ao comentar em fevereiro a entrega do Oscar, Ewald não escondeu seu descontentamento com a vitória de “O Artista”, modesta produção franco-belga, primeiro filme “estrangeiro” a conquistar o Oscar principal. Sua preferência (e a da maioria dos críticos) recaía sobre “Hugo Cabret”, de Scorsese. O experiente Ewald foi além: declarou que “O Artista” é um fracasso e que será esquecido pela posteridade. Do ponto de vista estético, Ewald tem razão. Tudo leva a crer que o filme francês, consagrado no Globo de Ouro, no Bafta, no César e no Oscar, não tem mesmo fôlego para figurar no cânone do cinema. Mas do ponto de vista comercial, o filme constitui êxito inquestionável. Custou apenas US$ 15 milhões e se pagou só no mercado norte-americano. Na França, somou mais de 2 milhões de ingressos. E foi vendido para mercados dos cinco continentes. No Brasil, mesmo sendo um filme em preto-e-branco e mudo, vendeu 350 mil tíquetes. Sucesso semelhante, encontramos em “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, de Werner Herzog, que custou míseros R$ 300 mil e causou, na década de 70, frisson planetário.