As novas faces do cinema

A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).

Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.

As sugestões e expectativas de Kleber Mendonça Filho

A estreia em longas de Kleber Mendonça Filho já vem sendo aguardada com certa expectativa faz um tempo. Afinal, cada um de seus curtas – “A Menina do Algodão” (2003) a “Recife Frio” (2009), passando por “Vinil Verde” (2004), “Eletrodoméstica” (2005) e “Noite de Sexta, Manhã de Sábado” (2007) – aponta para genealogias cinéfilas diferentes (de John Carpenter a Chris Marker), embora sempre preocupado em situar seus personagens em determinados universos, e com o mesmo desejo de explorar sugestões e expectativas da parte do espectador. Kleber tem admiradores fervorosos por todo o mundo e soma cerca de 100 prêmios em festivais no Brasil e no exterior.

Pois bem, “O Som ao Redor” estreou. O filme, uma observação sobre a sociedade desigual do Nordeste, tendo no centro três gerações de uma família cujo patriarca é um senhor de engenho, já ganhou distribuição comercial nos EUA, levou o prêmio da crítica no último Festival de Rotterdã, e teve críticas positivas no “New York Times”, na “Cahiers du Cinéma”, na “Art-Forum”, na “Film Comment”, e na “Cinema Scope”. Nesta última, uma das publicações especializadas mais importantes do mundo, o repórter Aaron Cutler afirma em uma longa e elogiosa entrevista que “a qualquer momento do filme, você não só não tem certeza do que sabe, mas tampouco de que lado está, qual a posição dos personagens, e como você se sente a respeito de tudo isso”.

O Som ao Redor

Nascido no Recife, Kleber formou-se em jornalismo pela UFPE, é programador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e do Janela Internacional de Cinema do Recife, e crítico de cinema atento para os autores e as manifestações contemporâneas mais interessantes. Ao lado de Emilie Lesclaux, fundou a Cinemascópio – produtora criada inicialmente para produzir os filmes de Kleber e que, nos últimos anos, vem apostando em talentos como Tião, Marcelo Pedroso, Daniel Bandeira e Leonardo Sette.

“É um pouco como participar de uma roda de discussão e, a certa altura, não gostar do rumo da conversa e colocar a mão pra cima e pedir a palavra. Toda vez que acontece isso, tenho vontade de fazer um filme”, diz o cineasta, que escreveu o roteiro de “O Som ao Redor” em oito dias, com o deadline do edital de Baixo Orçamento à porta. Além do B.O., o projeto foi contemplado, em 2009, pelo instituto holandês Hubert Bals Fund. Antes das filmagens – cuja base de produção era uma casa desocupada que seria preparada para demolição meses depois, no bairro de Setúbal, onde mora o realizador – Kleber viu todos os filmes de Quentin Tarantino e se deixou contaminar pela energia do cineasta americano. Somam ainda um ano de montagem, ao lado de João Maria.

Agora, Kleber se diz ansioso com a estreia do filme no Brasil já neste segundo semestre. Segundo ele, “O Som ao Redor” é de certa forma um longa sobre o país. E aos 43 anos já se vê às voltas com um novo projeto, “Bacurau”. “É uma parceria com o Juliano Dornelles (do curta “Mens Sana in Corpore Sano”), e já ganhamos uma primeira verba de produção via Fundo de Incentivo ao Cinema do Estado de Pernambuco”, explica.

 

Por Julio Bezerra

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