Xico Stockinger
Um dos grandes nomes entre os escultores modernistas do país, o artista plástico austríaco naturalizado brasileiro Xico Stockinger (1919-2009) ficou conhecido por suas obras em bronze e também em mármore, ferro e madeira. Os guerreiros quixotescos em protesto à ditadura, a série Gabirus e as mulheres e animais retratados são suas marcas registradas.
Foi também gravurista, fotógrafo, chargista, artista gráfico e importante gestor cultural em Porto Alegre, onde morou desde a década de 50 até seu falecimento, em 2009. Um dos fundadores do Ateliê Livre em Porto Alegre, iniciativa de democratizar a arte em uma época em que o ofício se restringia aos meios acadêmicos, atuou também como diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), pela primeira vez levando ao museu gaúcho trabalhos de artistas nacionais renomados com quem estabeleceu relação na ocasião em que morou no Rio de Janeiro.
Sua obra, história, olhar e experiência de vida peculiares chegam às telas pelas mãos de outro aficionado por arte, o gaúcho Frederico Mendina, em seu longa-metragem de estreia. Por um viés cuidadoso e delicado, o diretor faz um registro único de sua intimidade, resultado de três anos de trabalho de pesquisa e convivência próxima com o artista em seus últimos anos de vida.
Nas palavras do crítico de arte Paulo Herkenhoff, um dos entrevistados do filme, a obra de Xico “está mais vinculada a um humanismo do que a uma ideologia”. Ao migrar para o Brasil após a I Guerra Mundial, Stockinger queria ser piloto de avião, mas a origem austríaca o proibiu de concluir o curso quando o Brasil ingressou na II Guerra. Elogiado desde pequeno por seus talentos como desenhista, tornou-se então aprendiz de Bruno Giorgi e abraçou um novo sonho: a arte. Avesso à crítica e movimentos artísticos, em 1954 mudou-se do Rio para Porto Alegre em busca de liberdade criativa. Na capital gaúcha, em intervalos do trabalho como chargista em jornais da cidade, forjaria sua carreira e estilo, criando uma metodologia própria como solução para os altos custos da fundição; aprendeu a fundir bronze em casa com reaproveitamento de sucata, muitas vezes destruindo suas criações para usar de material para os trabalhos seguintes. Produziu a maior parte de suas esculturas dentro de uma economia de cores e profusão de texturas que resultariam em obras austeras, unindo força e técnica.
Décadas depois, já um artista reconhecido, perderia completamente a audição, dividindo o tempo entre a introspecção de seu ateliê, em que atuou até o falecimento, sua enorme coleção de cactus e a leitura, dizendo não perder muito em deixar de ouvir “as bobagens do mundo”. As imagens mostram também sua relação com a política, cruzando sua carreira com importantes fatos históricos, como a Segunda Guerra Mundial, e amizades com personalidades gaúchas, como o poeta Mário Quintana e o artista plástico Iberê Camargo.
Com estreia comercial no Brasil marcada para os dias 13 (RJ) e 20 (SP) de setembro, Xico Stockinger será exibido também no Portobello Film Festival, em Londres, em 14 de setembro. Foi premiado como melhor fotografia na 4ª edição do Curta Amazônia e selecionado para o Festival de Cinema de Gramado de 2012, para a mostra do Prêmio ABC (SP) e o Festival Íbero-Americano Cinesul (RS). A produção iniciou em 2009, com patrocínio da Petrobras, Banrisul e do Concurso “Rio Grande do Sul – Pólo Audiovisual” de Apoio a Projetos de Finalização de Obra Cinematográfica Brasileira de Longa-Metragem.