Cine PE faz mostra competitiva internacional
O festival de cinema de Recife, o Cine PE, em sua 18ª edição, que acontece de 26 de abril a 2 de maio, deu uma virada este ano ao abrir sua programação para os filmes internacionais. Na Mostra Internacional de Recife, a principal mostra do festival, estão em competição, entre filmes brasileiros e internacionais, seis longas ficcionais, e quatro documentários. De acordo com Alfredo Bertini, criador e organizador do evento, a intenção de internacionalizar as mostras já estava planejada faz algum tempo. “Vamos começar o processo com cautela, a partir das primeiras experiências com produções internacionais para que depois possamos ampliar o modelo com a confiança dos ‘novos mercados’”, ressaltou. Bertine também afirma que o festival irá preservar o espaço da cinematografia nacional, dando continuidade às exibições de curtas e longas brasileiros, inclusive, privilegiando a mostra de curtas pernambucanos. A nova proposta consiste em “mesclar a cinematografia dos ‘jovens iniciantes’ com a experiência de realizadores de prestígio internacional. Todos juntos num mesmo espaço de exibição”, conclui Bertine.
Na principal disputa pelo troféu Calunga, o Brasil ocupa quatro vagas na competição ficcional, se levarmos em conta que “Romance Policial”, o novo filme de Jorge Durán, uma coprodução chilena, concorre como filme brasileiro. Trata-se da história de um brasileiro (Daniel de Oliveira) que é acusado de um crime em viagem pelo deserto do Atacama. Além de Durán, o país se faz representar pela produção carioca “Muitos Homens num Só”, de Flávio Tambellini e Mini Kerti, sobre o envolvimento de um ladrão com a filha de um político, pela produção mineira “O Menino e o Espelho”, de Guilherme Fiúza, que parte do livro de Fernando Sabino, relatando a infância do escritor, e pelo quarto filme em competição, uma produção paulista, “Mundo Deserto de Almas Negras”, de Ruy Veridiano.
A Argentina, que disputa com Brasil e México o papel de mais importante centro produtor da América Latina, comparece com “Todos Tenemos un Plan”, de Vanessa Ragone e Ana Piterbag, sobre a virada na vida de um homem ao assumir a identidade do irmão morto. A Itália fecha o campo ficcional com o badalado e premiado filme “Anni Felici”, de Daniele Luchetti. A curadoria dos filmes ficou por conta do crítico carioca Rodrigo Fonseca.
No terreno do documentário de longa-metragem, o Brasil divide território com Portugal, país que vem causando sensação em festivais graças a realizadores como Pedro Costa (força criativa no rompimento de fronteiras entre a ficção e o documentário) e Miguel Gomes (autor do magnífico “Tabu”). O país marca presença com “1960”, de Rodrigo Arenas, e “E Agora? Lembra-me”, de Joaquim Pinto. O Brasil também tem produção documental forte na competição com “O Mercado de Notícias”, do gaúcho Jorge Furtado, e “Corbiniano”, do pernambucano César Maia. Jorge Furtado não dirigia um longa-metragem desde 2007, quando lançou “Saneamento Básico”, mas já está com uma nova ficção pronta para lançar, “Beleza”, dedicado ao sonho de futuras modelos gaúchas, ou seja, as novas Gisele Bündchen.
Para não transformar as noites do festival em maratonas intermináveis, serão exibidos apenas sete curtas, todos brasileiros. Os pernambucanos “Tubarão” e “No Tiro do Bacamarte”, os cariocas “Linguagem” e “Ecce Homo”, o paulista “Filho Pródigo”, o paranaense “Notícias da Rainha”, e o paraense “No Movimento da Fé”.
Estrelas internacionais
Se todas as estrelas convidadas da primeira edição internacional do Cine PE comparecerem às sessões no gigantesco Centro de Convenções Guararapes, o festival vai transformar-se num firmamento. Na lista de convidados, estão a argentina Soledad Villamil, parceira de Ricardo Darín em “O Segredo dos seus Olhos”, cantora de tangos e musa de Veríssimo; Alice Braga, que se divide entre o cinema brasileiro e o norte-americano; Matheus Solano, xodó do Brasil na pele do homossexual Félix e dono absoluto da audiência da novela “Amor à Vida”; e Daniel de Oliveira, protagonista do novo filme de Jorge Durán.
O concorrente italiano, “Anni Felici”, reúne três destaques do cinema peninsular: os atores Kim Rossi Stuart, que vimos em “Estamos Todos Bem”, de Giuseppe Tornatore, e “As Chaves da Casa”, de Gianni Amelio, e Micaela Ramazzotti, um torpedo hormonal latino, a nós revelado por “A Primeira Coisa Bela”. Lembram dela, a protagonista absoluta do filme, uma mulher liberada e meio doidinha, que vivia com os dois filhos, sem ligar para o olhar alheio? Além dos dois atores, há que se destacar o crédito do diretor Danielle Luchetti, que encantou cinéfilos brasileiros com “Meu Irmão É Filho Único”. Se um dos três vier ao Recife, ponto para o festival.
Homenagens aos consagrados
No campo das homenagens, estão dois atores com grande folha de serviços prestados ao cinema, teatro e TV. Laura Cardoso, de 86 anos, e José Wilker, morto no último dia 5, no Rio de Janeiro, aos 68 anos. Laura atuou em diversos filmes, mas foi nos difíceis anos da Retomada que ela brilhou. Primeiro, em “Terra Estrangeira”, de Walter Salles e Daniela Thomas. Depois, em “Através da Janela”, de Tata Amaral, e “Copacabana”, de Carla Camuratti. José Wilker, no ano passado, participou da competição do festival com “Giovanni Improtta”, sua estreia na direção de longa-metragem. O festival, que havia programado a homenagem com a presença do ator, confirmou, após sua morte, o Calunga Especial por sua extensa obra cinematográfica, com 41 longas em seu currículo.
No núcleo histórico do festival, será exibido um dos maiores clássicos do cinema novo, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. O épico que, 50 anos atrás, foi exibido em Cannes e, juntamente com “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, deu notoriedade internacional ao Cinema Novo, teve sua primeira exibição em 13 de março de 1964, justo no dia do Comício da Central do Brasil. Dia que, lembram muitos historiadores, marcou o início do fim do governo do presidente constitucional João Goulart.
Por Maria do Rosário