Duas vezes Salgado
O cinema entrou, no prazo de dois anos, e para valer, na vida do fotógrafo mineiro, e cidadão do mundo, Sebastião Salgado. Tudo começou com um documentário de longa-metragem, com um quê de doméstico, realizado por Betse de Paula, para o Canal Brasil. O filme só se tornou possível porque as relações de amizade entre os Palmeira Viana (Zelito, Vera, Betse e Marcos) e os Salgado são das mais sólidas. Os casais se frequentam há décadas. Quando Betse de Paula entrou na casa de Sebastião Salgado, em Paris, com os pais Vera e Zelito como produtores, já conhecia os limites de seu documentário. Afinal, o alemão Wim Wenders preparava (em parceria com Juliano Salgado, filho do fotógrafo) “O Sal da Terra”, longa-metragem dos mais ambiciosos. Mesmo assim, Juliano ajudou Betse e a cineasta se entregou ao modesto projeto, feito para o Canal Brasil. Pois não é que o filme aconteceu? Foi selecionado e recebeu prêmios em Gramado, abriu o Festival de Brasília, recebeu convites para várias mostras internacionais e venceu o Festival de Cinema Brasileiro em Londres. E, lançado em Porto Alegre, permaneceu várias semanas em cartaz na simpática Sala P.F. Gastal. Agora, as atenções estão voltadas para o filme de Wim Wenders, lançado em Cannes. Admirador confesso das imagens de Salgado, Wenders usa sua experiência como realizador de dezenas de filmes, a maioria de ficção. Mas – registre-se – ele encontrou, no documentário, terreno dos mais férteis. Basta lembrar o êxito planetário de “Buena Vista Social Club” e o encantamento causado por “Pina”, ensaio poético em 3D e tributo a Pina Baush, artista revolucionária. No filme, o 3D não se reduz à condição de entretenimento. É pura invenção artística.