Mostra SP 2014: os filmes de Noburo Matheus Nachtergaele e Lauro Escorel & Adrian Cooper

3 X NOBURU NAKAMURA: Cinéfilos devem ficar de olho nos três filmes do japonês NOBURU NAKAMURA. Em especial, “Paixão Mórbida”, de 1964. Filmaço. Encontramos Inácio Araújo no intervalo entre um filme e outro e eles nos recomendou que não perdêssemos “Paixão Mórbida”. Que era um filme moderno e muito bom. Thiago Stivalletti nos contou que este é o único (dos mais de 80 filmes do realizador japonês) lançado no Brasil. Ao invés do título “A Forma da Noite”, os exibidores brasileiros optaram, nos anos 1960, por “Paixão Mórbida”. Belo e adequado título. Prestem atenção na potência das imagens de uma série de sapatos na porta do quarto onde a protagonista (uma jovem prostituta) é seviciada. E na sequência final, que lembra a “corporalidade” apaixonante do Kar Wai de “Amor à Flor da Pele”. Filmaço.

MATHEUS NACHTERGAELE, protagonista de TRINTA, filme de Paulo Machline, que integra a programação da Mostra, vai participar também da série “Os Filmes da Minha Vida”. Na segunda-feira, dia 27, às 10h00, ele estará na Sala Um do Espaço Unibanco Augusta, para lembrar os filmes que marcaram sua memória afetiva e conversar com o público. Depois, ao meio-dia, no Anexo IV, no mesmo Espaço Augusta, será a vez de Artur Xexeo. Matheus (na segunda) e Jia Zhangke, um dia antes (domingo, 26) falarão na Sala Um, já que a procura vem sendo imensa.

LAURO ESCOREL & ADRIAN COOPER LANÇAM, NO RIO DE JANEIRO, DVD COM DOIS MAGNÍFICOS MEDIAS-METRAGENS: “Libertários” e “Chapeleiros”.

No próximo sábado, dia 25, o Instituto Moreira Salles lança em DVD os filmes Libertários (Brasil, 1977), de Lauro Escorel, e Chapeleiros (Brasil, 1983), de Adrian Cooper, com sessão na sala de cinema do IMS-RJ às 18h, seguida de uma conversa entre Lauro Escorel e José Carlos Avellar, coordenador de cinema do IMS.

Nas palavras do crítico de cinema Carlos Augusto Calil, os dois títulos são filmes , “oriundos de projeto universitário, concebidos como elementos de divulgação de pesquisa sobre as origens do movimento operário no Brasil”. Apesar de complementares, os filmes abordam o universo dos trabalhadores e da industrialização paulista de maneiras distintas.

Libertários aproveita a ampla iconografia que acabava de ficar disponível para pesquisa na Universidade de Campinas (Unicamp) – caso da exposição Memória paulistana, e do arquivo Edgard Leuenroth, fonte primária da pesquisa a que estava associado – e utiliza de modo original filmes de época, de exaltação dos feitos industriais, que contêm muitas cenas autênticas das fábricas, mas invertendo os seus sentidos. Ainda segundo Calil, “com o firme objetivo de persuadir o espectador, e conquistá-lo à sua causa, Libertários assume a vocação de filme-senha, destinado à agitação política, no melhor estilo militante. Não houve cineclube ou sindicato no decênio de 1980 que não disputasse a cópia de Libertários para suas sessões de cinefilia e arregimentação partidária.”

Por outro lado, Chapeleiros investe na longa observação do ato de trabalhar em uma antiga fábrica de chapéus. Em um filme sem entrevistas, Chapeleiros não hesita em buscar a visualidade estética em texturas e grafismos, na própria materialidade, com trilha sonora sóbria, composta apenas de música barroca e ruídos. “A lida do operário com o material, o manuseio apropriado, a repetição sem automatismo, a máquina como extensão do corpo e seu algoz, são as dimensões que emergem naturalmente desse filme sem palavras. A velha fábrica resiste, pois o trabalho artesanal ainda tem vez na economia industrial. Mas seu lugar não é mais confortável na paisagem urbana e social. Sua chaminé procura a melhor posição dentro do quadro do filme. À esquerda? Direita? A câmera hesita e a montagem não alivia. A dança da chaminé nos alerta para a constatação inevitável: aquela fábrica já não tem mais uso no moderno capitalismo; é um fantasma a assombrar o país do milagre econômico”, comenta Calil.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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