Alceu e Cêceu Valença
O compositor e cantor Alceu Valença resolveu virar cineasta há uns 15 anos atrás. Tinha 50 e poucos anos. Só levou a tarefa a cabo já perto dos 70. Seu primeiro longa-metragem, “A Luneta do Tempo”, deu muito trabalho e o obrigou a estudar vários compêndios de cinema. E a aprender sobre um tal de “plano zenital” ou “plano picado”. Ele está satisfeito com o resultado. Fez um filme familiar e povoado de lembranças da infância pernambucana.
Lançado no Festival de Gramado, o longa ganhou dois prêmios (trilha sonora, do próprio Alceu, e direção de arte, do baiano Moacyr Gramacho). E segue por festivais brasileiros e estrangeiros. Alceu se escalou para um pequeno papel (Véio Quiabo). Escalou também os dois filhos, Cêceu e Rafael. Cêceu Valença, que é ator profissional, interpreta Nagib Mazola, dono de circo que seduz todas as mulheres. O cantor-cineasta garante que deu ao filho “o papel exato, pois ele é mesmo um grande sedutor, tem fama de tarado, puxou ao pai”. Para Rafael, o filho mais novo, coube participação em cena circense.
“A Luneta do Tempo” tem muitos personagens. Todos com cara de gente do povo, incluindo os três profissionais escalados para os principais papéis: Irandhir Santos (Lampião), Hermilla Guedes (Maria Bonita) e Servílio de Holanda (o terrível Antero Tenente). Alceu escalou também gente que trabalhou a vida inteira na fazenda do pai, Décio de Souza Valença (1914-1999). Aliás, foi para evocar memórias paternas, nascidas de um Nordeste profundo, que Alceu fez o filme. Um filme povoado de cangaceiros, rabequeiros, sanfoneiros, tocadores de viola, emboladores e loucos de feira. E embalado por 57 números musicais. “Compus 200”, contou ele em Gramado. “Como não coube, vou colocar as outras 143 nos extras do DVD”.