Mostra traz retrospectiva completa de um dos maiores cineastas italiano

Gênio único, provocador, ousado. Grande poeta e um dos cineastas mais emblemáticos do século XX. Quase 40 anos depois de sua morte (em 1975), o italiano Pier Paolo Pasolini segue intrigando o mundo com seu cinema de imagens fortes, seu inconformismo e seu olho infalível para a composição cinematográfica. Agora, uma mostra retrospectiva realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil apresenta a filmografia completa do autor de O Evangelho Segundo São Mateus, obra-prima considerada a melhor biografia até hoje feita sobre Jesus Cristo, explorando o lado político e social do controvertido diretor. Além dos filmes do realizador, a mostra Pasolini, ou Quando o Cinema se faz Poesia e Política de seu Tempo vai exibir obras assinadas por outros diretores tendo Pasolini como tema. A mostra acontece neste mês de novembro no Cinema do CCBB Brasília até o dia 24, em São Paulo segue até dia 16 e no Rio de Janeiro até o dia 10.

Pasolini, ou quando o Cinema se faz Poesia e Política de seu Tempo exibirá 22 títulos assinados pelo cineasta italiano, incluindo alguns filmes inéditos, sobretudo documentários filmados na Índia e na África.

Na programação, está Desajuste Social (1961), estreia de Pasolini na direção cinematográfica, tendo o aspirante Bernardo Bertolucci como assistente. Na época, Pasolini já era considerado um dos grandes poetas, romancistas e intelectuais de sua geração e dava início a uma fase marcada pelo talento prodigioso, em que retratava pessoas honestas vivendo à margem da sociedade, deixadas para trás pela história e pelo progresso. Um período que chega ao magistral O Evangelho Segundo São Mateus (1964), censurado pela Igreja Católica durante 50 anos e reabilitado este ano de 2014, pelo Vaticano, apontado como a melhor obra já feita pelo cinema sobre a vida de Jesus Cristo.

Fascinado pelos temas sociais, atuante na luta pela igualdade de direitos, sempre atento às rebeliões comportamentais, Pasolini criou títulos em que tece críticas ácidas à burguesia e ao desejo de consumo desenfreado. É o caso de Teorema (1968), obra-prima indiscutível do cinema em todos os tempos, das recriações de clássicos, como Medéia (1969), única participação da soprano Maria Callas no cinema, de Pocilga (1969) e sua reflexão sobre a degradação humana – “consumo, logo existo” – e da celebrada Trilogia da Vida, composta por Decameron (1971), Os Contos de Caterbury (1972) e As Mil e uma Noites (1974), em que repudiava o hedonismo consumista.

E a programação chega ao último filme do cineasta, Saló ou 120 Dias de Sodoma, realizado no mesmo ano em que Pasolini foi assassinado, com inspiração em Marquês de Sade, Dante, Nietzsche, Ezra Pound e Marcel Proust. Experiência crua, profundamente desconcertante, Saló oferece o olhar do cineasta diante do fascismo, do poder político absoluto, da corrupção, da dominação através da tortura, do despojamento da liberdade e do cerceamento dos direitos do ser humano.

Além das obras de Pasolini, a mostra conta ainda com cinco títulos assinados por realizadores sobre a vida e/ou a obra do diretor. É o caso de Pasolini un Delitto Italiano (1995), em que Marco Tullio Giordana reconstrói o processo contra Giuseppe Pelosi, acusado pelo homicídio de Pasolini. O filme tem no elenco a comovente Adriana Asti, que participou de Accattone. E dos recentes Via Pasolini, de Igor Skofic, e La Voce di Pasolini, de Matteo Cerami, ambos de 2005. Construído a partir de imagens recuperadas de noticiários de televisão, Via Pasolini procura desvendar o pensamento do grande cineasta e investigar as causas que levaram à sua morte. La Voce di Pasolini é um documentário que combina trechos de poemas, ensaios e entrevistas de Pasolini com imagens de arquivo e fragmentos de filmes nunca concluídos.

A programação completa da mostra pode ser conferida no site http://culturabancodobrasil.com.br.

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