Nova era de ouro?
Alex Garcia, da AG Studios mexicana, acredita que o cinema de seu país está vivendo uma “nova era de ouro”, como nos anos 1940/1960. Ano passado, o México produziu 126 longas-metragens, maior marca desde 1959.
Nunca é demais lembrar que, durante a Segunda Guerra, o México, com Maria Félix, Índio Fernandez e Gabriel Figueroa, colocou seus épicos nativistas e melodramáticos em cinemas de toda a América Latina. Depois, veio a Era Cantinflas (1911-1993). O cômico tornou-se conhecido mundialmente, foi sucesso de bilheteria e coprotagonizou, com David Niven, o blockbuster “A Volta ao Mundo em 80 Dias”. Sua trajetória deu origem à ficção que leva seu nome e foi indicada a disputar vaga no Oscar estrangeiro.
Produções mexicanas como “Heli”, “Jaula de Ouro”, “Güeros”, “Club Sandwich”, “González”, “Asteroide” e “As Horas Mortas” têm marcado boa presença em festivais internacionais, colecionando prêmios. E um blockbuster azteca – “Não Aceitamos Devoluções”, do ator-diretor Eugenio Derbet (Prêmio Platino de melhor intérprete) – vendeu mais de 20 milhões de ingressos (15 milhões no território mexicano e 5 milhões nos EUA). Sua trama ganhará remake norte-americano e brasileiro. A produtora Walkíria Barbosa, da Total Filmes, já está aclimatando a história e mobilizando elenco de peso para a empreitada. Duas distribuidoras brasileiras (Esfera e Tukuman) têm tentado abrir espaço para os filmes mexicanos no Brasil. Mas não está fácil.
Para ajudar na difusão do cinema azteca em seu mercado interno e externo, Jorge Sanchez, produtor que comanda o ImCine (Instituto Mexicano de Cinema), está implantando um NetflixMex. Ou seja, um espaço de difusão da produção de seu país na maior vitrine do mundo, a internet. A que se deve este novo boom do cinema mexicano? Ele será durável? Ou apenas uma onda? A indicação de muitos profissionais aztecas ao Oscar, dois ou três anos atrás, tem a ver com isto? Além do aumento numérico da produção, houve aumento nas bilheterias? Dos 126 longas produzidos, quantos chegaram às salas? Quantos tiveram êxito de público ou repercussão artístico-social? A TV mexicana coproduz (e exibe) esta safra numericamente tão expressiva? O que faz o México para não exportar seus talentos para os EUA? Afinal, como diz o famoso ditado azteca: “Pobre México, tão longe de Deus e tão próximo dos EUA”. Paulo Paranaguá, brasileiro radicado na França, até se inspirou nesta irônica divisa para batizar um de seus livros: “Cinema na América Latina: Longe de Deus e Perto de Hollywood” (L&PM, 1984).