Mostra homenageia os 80 anos de Vladimir Carvalho
Realizador que tem construído uma trajetória única no cinema documental brasileiro, o paraibano-brasiliense Vladimir Carvalho completou, no último dia 31 de janeiro, 80 anos de idade. Em homenagem à data, o Centro Cultural Banco do Brasil Brasília realiza a mostra Vladimir Carvalho DOC 8.0, que acontece de 29 de abril a 11 de maio, com curadoria do professor e crítico Sérgio Moriconi.
Ao longo de duas semanas, serão exibidos todos os filmes dirigidos por Vladimir, além de títulos assinados por outros diretores, nos quais Vladimir Carvalho participou em funções técnicas. Além das obras cinematográficas, a mostra oferecerá aos espectadores a chance de conferir o talento do diretor como artista gráfico. Uma exposição de cartazes de alguns dos principais filmes do cineasta, no hall do Cinema do CCBB, vai comprovar o talento de Vladimir na gravura e na criação gráfica – ele assina a concepção da arte dos cartazes de O País de São Saruê (concebido em parceria com o irmão Walter Carvalho), Mutirão e O Engenho de Zé Lins.
A mostra também inclui debate reunindo o curador, o crítico Rodrigo Fonseca, o professor e escritor João Luiz Vieira e o homenageado, catálogo com textos inéditos especialmente escritos por autores como Ignácio de Loyola Brandão, Ana Maria Miranda, Cacá Diegues, Geneton Moraes Neto, Carlos Alberto Mattos, Jean-Claude Bernardet, Alberto R. Cavalcanti, Severino Francisco, Walter Carvalho, André Luiz Oliveira, José Nêumanne Pinto, Bráulio Tavares, Iberê Carvalho, Maria do Rosário Caetano, além de um poema original do cineasta Sylvio Back, dentre outros nomes de destaque do universo cinematográfico. E ainda um objeto de arte composto de caixa com reproduções de cartazes dos filmes de Vladimir Carvalho em pequeno formato, a ser distribuído aos espectadores mais frequentes.
Vladimir Carvalho DOC 8.0 integra a programação concebida pelo Centro Cultural Banco do Brasil Brasília em homenagem aos 55 anos da capital brasileira.
A programação apresenta desde os primeiros passos do diretor, ainda como assistente de outros realizadores (como é o caso de Aruanda¸de Linduarte Noronha, e Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, nos quais atuou como assistente de direção) até seu filme mais recente, o celebrado Rock Brasília – Era de Ouro, de 2011.
Logo no primeiro dia, a mostra exibirá os emblemáticos Vestibular 70 e Brasília segundo Feldman, que propõem reflexões sobre os primeiros tempos da Capital Federal. O primeiro vai à Universidade de Brasília para mostrar o clima de tensão dos exames vestibulares, especialmente, durante a Ditadura Militar. O segundo volta ainda mais no tempo para chegar ao último ano da construção de Brasília e abordar episódio que levou a um massacre de operários. Após a projeção, será realizado um debate com a presença do cineasta, do curador Sérgio Moriconi e convidados.
A mostra optou por não seguir uma ordem cronológica na exibição dos filmes. No entanto, já no segundo dia, 30 de abril, o programa das 19h apresenta Aruanda, o curta escrito por Vladimir em parceria com João Ramiro Mello, que já nasceu clássico, com suas imagens hipnóticas, e que marca a entrada do diretor no universo cinematográfico. A sessão segue com as produções da chamada fase do Sertão Seco, com filmes produzidos no Nordeste – em contraposição aos filmes concebidos na região Centro-Oeste, o “Sertão molhado”, nas palavras do próprio Vladimir Carvalho, em cartaz no mesmo horário do dia seguinte.
Todos os longas-metragens do documentarista serão projetados em duas sessões durante a mostra. Os curtas, somente uma vez. Serão ao todo 15 curtas, um média e sete longas assinados por Vladimir, um média-metragem do celebrado diretor e fotógrafo Walter Carvalho (irmão caçula de Vladimir), dois longas dirigidos por Arnaldo Jabor e Eduardo Coutinho e o curta já citado de Linduarte Noronha. Compõem ainda a programação os curtas Romeiros da Guia, A Bolandeira, Incelência para um Trem de Ferro, Vila Boa de Goyaz, O Espírito Criador do Povo Brasileiro, Itinerário Niemeyer, A Pedra da Riqueza, Pankararu do Brejo dos Padres, No Galope da Viola, Quilombo, Mutirão, A Paisagem Natural e Zum-zum com os Pés no Futuro, produzidos por Vladimir desde a década de 1960. Do diretor, será exibido também o média-metragem Ariano Suassuna – Aula Espetáculo e todos os seus sete longas: O País de São Saruê, Conterrâneos Velhos de Guerra, O Homem de Areia, O Evangelho Segundo Teotônio, Barra 68 – sem Perder a Ternura, O Engenho de Zé Lins e Rock Brasília – Era de Ouro.
O média-metragem Um Olhar Solidário, assinado por Walter Carvalho tem Vladimir como tema e os filmes Opinião Pública, o primeiro longa assinado por Arnaldo Jabor e apontado como pioneiro na linha do chamado “cinema verdade”, e Cabra Marcado para Morrer, clássico de Eduardo Coutinho, no qual Vladimir atuou como assistente de direção e produtor associado, também serão exibidos.
Nascido em 31 de janeiro de 1935, em Itabaiana, Paraíba, cineasta e jornalista, ex-professor titular da Universidade de Brasília, Vladimir iniciou na atividade cinematográfica, no final da década de 50, como roteirista e assistente de Linduarte Noronha, em Aruanda, que Paulo Emílio Salles Gomes e Glauber Rocha apontaram como o marco inicial do moderno documentário no Brasil. Depois de uma longa experiência no Rio de Janeiro, onde trabalhou com Eduardo Coutinho (Cabra Marcado Para Morrer) e Arnaldo Jabor (Rio, Capital do Cinema e Opinião Pública) veio para Brasília onde realiza, com o fotógrafo Fernando Duarte, o ciclo de filmes de curta-metragem que deu prestígio ao Distrito Federal junto aos festivais e, por consequência, provocou um significativo surto cinematográfico na cidade.
Seu longa O País de São Saruê (1971) permaneceu cerca de nove anos interditado pela censura e só foi liberado com a Anistia, em 1979, sendo premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – depois de ter sido recusado durante o governo Médici. Como presidente da Associação Brasileira de Documentaristas, seção DF, criou e realizou o 1º Festival do Filme Brasiliense, que obteve amplo sucesso, estimulando a produção e reunindo em Brasília importantes personalidades do cinema brasileiro. Foi membro da Cooperativa de Cinema, do Rio de Janeiro, pertence ao Conselho Consultivo da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, é membro da Associação Brasileira de Documentaristas, da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo e da Associação Brasileira de Cineastas, Rio de Janeiro.
Quase todos os seus filmes receberam prêmios e distinções – ele detém três Margaridas de Prata, outorgadas pela CNBB aos filmes A Pedra da Riqueza (1975), O Evangelho Segundo Teotônio (1984) e Conterrâneos Velhos de Guerra (1990), além de Kikito do Festival de Gramado por Conterrâneos Velhos de Guerra, Candangos do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro por O País de São Saruê e O Engenho de Zé Lins, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro por Rock Brasília – Era de Ouro, dentre vários outros. Publicou dois livros com os roteiros e as críticas dos seus filmes O País de São Saruê e Conterrâneos Velhos de Guerra. Lançou o livro Cinema Candango – Matéria de Jornal, a respeito do cinema feito em Brasília.
Vladimir lançou uma série de filmes que traçam retratos biográficos, erguendo uma ponte entre o Nordeste e Brasília: O Homem de Areia (1982), sobre o político e escritor paraibano José Américo de Almeida (1887-1980); O Evangelho Segundo Teotônio (1984), sobre o político alagoano Teotônio Vilela (1917-1983), um dos líderes do movimento Diretas-Já, chamado de Menestrel das Alagoas; e O Engenho de Zé Linz (2007), sobre o grande escritor paraibano José Lins do Rego (1901-1957).
Em 2000, concluiu o longa, Barra 68 – Sem Perder a Ternura, sobre os acontecimentos políticos que na década de 60 tiveram lugar em Brasília, atingindo primeiro a UnB e depois o Congresso Nacional, culminando com a promulgação do Ato Institucional Nº 5, AI 5. Recentemente, lançou o premiado Rock Brasília – Era de Ouro (2011), que traça um retrato da cena do rock na capital brasileira na década de 1980, apresentando entrevistas com ícones da geração, como Renato Russo (Legião Urbana), Philippe Seabra (Plebe Rude) e os irmãos Flávio e Fê Lemos (Capital Inicial).
No momento, Vladimir está concluindo as filmagens de um documentário sobre o artista plástico pernambucano, Cícero Dias (1907-2003).
A programação completa da mostra pode ser consultada no site http://culturabancodobrasil.com.br/portal/distrito-federal.
Vladimir Carvalho DOC 8.0
Data: 29 de abril a 11 de maio
Local: Cinema do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília – SCES, Trecho 02, lote 22 – Brasília (DF) – (61) 3108-7600
Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00