Três vezes cangaço

O cangaço (ou nordestern) transformou-se em verdadeira febre entre os cineastas brasileiros depois do triunfo nacional e internacional de “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, premiado como “melhor filme de aventura” em Cannes, nos anos 1950. Foram feitas, nas décadas seguintes, dramas, comédias e até pornochanchadas cangaceiras. O tema parecia esgotado quando, nos anos 1990, Lírio Ferreira e Paulo Caldas (“Baile Perfumado”), Rosemberg Cariry (“Corisco & Dadá”) e Anibal Massaini (remake do “O Cangaceiro”) trouxeram os bandoleiros para o centro de suas narrativas. Depois de um novo período de “esquecimento”, o cangaço volta ao centro de três novos filmes: “Luneta Mágica”, do pernambucano Alceu Valença, “Revoada”, do baiano José Umberto, e “Os Últimos Cangaceiros”, documentário do cearense Wolney Oliveira.

As três produções, com lançamento agendado para este ano, enfocam a fase crepuscular do cangaço, ou seja, os derradeiros atos de Lampião e Maria Bonita e bando. No filme que marca a estreia de Alceu Valença na direção, Lampião (Irandhir Santos) e Maria Bonita (Hermila Guedes) saem da vida para entrar na história (como personagens de drama de circos mambembes). “Revoada”, segundo longa de Zé Umberto, um estudioso do cangaço, mostra um grupo de bandoleiros na Chapada Diamantina (Bahia) desnorteado com a perda do chefe Lampião. Já o documentário de Wolney Oliveira reconstitui a fuga de Moreno e Durvinha, do Nordeste até Minas Gerais. Depois da morte de Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros na Gruta de Angicos, em Sergipe, o casal cangaceiro, em roupas civis, saiu em busca do anonimato. Foi dar com os costados em BH, depois de experiência como exploradores de puteiros de beira de estrada.

Resta ver se ainda há quem, entre o público brasileiro, se interesse pelo cangaceirismo, exterminado em 1938 (com a morte de Lampião) e enterrado de vez com o fim de Corisco (1940). Tudo leva a crer que o nordestern, como seu modelo, o western, já não causa sensação entre os jovens de hoje.

One thought on “Três vezes cangaço

  • 11 de março de 2020 em 19:48
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    Pois eu ADORO o tema cangaço, e lamento profundamente que filmes como esses não tenham a divulgação e audiência que merecem.

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