Prêmio Almanaque: De Longe te Observo
O Prêmio Almanaque desta edição vai para o venezuelano “De Longe te Observo” (“Desde Allá”), de Lorenzo Vigas, primeiro filme sul-americano a conquistar um Leão de Ouro. Aliás, um Leão contestado, pois Veneza continua sendo o mais arredio dos grandes festivais ao cinema latino-americano. Parte da imprensa, europeia em especial, entendeu que o ouro atribuído a “De Longe te Observo” fora fruto de manobra do presidente do júri, o cineasta mexicano (radicado nos EUA) Alfonso Cuáron.
Quem viu o filme venezuelano pode constatar suas imensas qualidades. Nos anos 1990, quando Gramado tornou-se um festival latino, jornalistas entravam em pânico quando tinham que encarar uma produção da Venezuela. Eram – pelo menos os mostrados na Serra Gaúcha – filmes históricos e muito ruins. O tempo passou e um belo e inventivo longa venezuelano, “Postais de Leningrado”, de Mariana Randon, premiado no Cine Ceará, mostrou que a situação estava mudando.
Outro filme da mesma diretora – o ótimo “Pelo Malo” – conseguiu até fazer carreira significativa em nosso circuito de arte. O ouro veneziano de “De Longe te Observo”, vale reforçar, foi por merecimento, jamais fruto de paternalismo. Vigas assina um destes filmes capazes de somar o social e o intimista, a violência urbana e o voyeurismo, a impetuosidade juvenil e as perturbações de um homem maduro. Alfredo Castro, ator fetiche de Pablo Larraín (“Tony Manero”, “Post-Morten”, “No”, “O Clube” e “Neruda”) está magistral na pele do protético que busca garotos em zonas populares de Caracas para, no recinto do lar, exercitar seu voyeurismo homoafetivo. O jovem Luís Silva, o coprotagonista, é uma força da natureza. Parece saído de um filme de Pasolini.