Destaques do cinema brasileiro
Por Maria do Rosário Caetano
O CineSesc realiza, ao longo deste mês de dezembro, mais uma maratona de filmes brasileiros. A programação compõe-se com destaques retirados de uma lista de 140 longas-metragens lançados em nosso circuito comercial, entre 31 de outubro de 2015 e 31 de outubro de 2016.
Se um espectador me solicitasse a recomendação de um único filme, sem pestanejar, indicaria “Sinfonia da Necrópole”. E por que? Porque o primeiro longa-metragem solo de Juliana Rojas (codiretora do excelente “Trabalhar Cansa”) é encantador, original, inventivo, inesperado. Conta com ótimos atores vindos do teatro paulistano e nos surpreende a cada instante de seus enxutos 85 minutos.
Por sorte, ao escolher os filmes para a nova Maratona Brasileira do CineSesc, Neusa Barbosa e eu pudemos optar por média de 40 títulos, de todos os gêneros e propostas. Guiadas pelo pluralismo, selecionamos, além de “Sinfonia da Necrópole”, outros excelentes filmes. Destaque para os pernambucanos “Aquarius”, de Kleber Mendonça, o filme mais falado e analisado do ano, “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, e “Big Jato”, de Cláudio Assis.
Mais destaques: “Para minha Amada Morta”, que chega do Paraná, é denso drama dirigido por Aly Muritiba, escorado em boa trinca de atores (Fernando Alves Pinto, num de seus melhores papéis, Lourinelson Santos e Mayana Neiva). O outro é paulistano: “Ausência”, de Chico Teixeira, com o ótimo Irandhir Santos contracenando com o jovem Matheus Fagundes, a intensa Gilda Nomacce e a chilena Francisca Gavilan, a “Violeta Parra” de Andres Wood.
Do Rio Grande do Sul, chegam dois filmes que merecem ser vistos (ou revistos): o ousado “Ponto Zero”, de José Pedro Goulart, e “Beira-Mar”, da dupla Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, um criativo e surpreendente registro de relação homoafetiva.
“O Silêncio do Céu”, de Marco Dutra, thriller psicológico com elenco de alta qualidade, chega como exemplo do quão produtivas podem ser as parcerias latino-americanas. Neste caso, o Brasil somou forças com a Argentina (pátria do autor do livro que deu origem ao filme e de seu protagonista, o ótimo Leonardo Sbaraglia) e com o Uruguai.
“Nise, no Coração da Loucura”, de Roberto Berliner, registra, com sóbrio trabalho de Glória Pires, o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). Vale lembrar, neste filme, o trabalho de elenco de peso desempenhando tarefa desafiadora: convencer como pacientes do Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.
Cine Mulher
O cinema feminino fez jus, na seleção deste ano, a espaço especial. Afinal, vivemos momento em que realizadoras como Helena Ignez (“Ralé”), Anna Muylaert (“Mãe Só Há Uma”), Tata Amaral (“Trago Comigo”), Sandra Kogut (“Campo Grande”) e Marina Person (“Califórnia”) sequenciaram, com brilho, suas trajetórias como diretoras. E jovens como a carioca Anita da Silveira (sobrinha-neta da Doutora Nise), a paulistana Vera Egito (“Amores Urbanos”) e catarinense Márcia Paraíso (“Lua em Sagitário”) estrearam no longa-metragem. Anita chamou atenção com o belo e enigmático “Mate-Me, Por Favor”, difusamente inspirado no assassinato da atriz Daniela Perez, filha da teledramaturga Glória Perez. Vera e Márcia surgem como promessas nas quais devemos prestar atenção.
No terreno da comédia, buscamos propostas mais arejadas. Aquelas que não se limitam unicamente a imitar produtos televisivos, fazer “mais do mesmo” ou a apelar para a escatologia. Filmes como “O Shaolin do Sertão”, do cearense Halder Gomes, e “O Roubo da Taça”, do carioca Caíto Ortiz, somam-se a dois longas (“Entre Idas e Vindas”, de José Eduardo Belmonte, e “Um Namorado para Mulher”, de Júlia Rezende) protagonizados pela “rainha da comédia blockbuster brasileira”, Ingrid Guimarães. Ingrid, parceira e amiga dos “reis da comédia de grandes bilheterias” (Paulo Gustavo e Leandro Hassum), abraçou campanha de sensibilização dos camaradas cômicos para que, como ela, diversifiquem seus trabalhos cinematográficos. Resta saber se eles lhe darão ouvidos.
No terreno da comédia romântica, escolhemos um filme muito especial: “De Onde Eu te Vejo”, de Luiz Villaça, protagonizado por Denise Fraga e Domingos Montagner. Além de delicado, o longa traz visível paixão pela geografia física (e humana) de São Paulo. E nos permite (junto com “Um Namorado para Mulher” e o drama “Vidas Partidas”) três reencontros com o ator e palhaço Domingos Montagner. Ele nos deixou em setembro último, tragicamente levado pelas águas do Rio São Francisco.
No campo do documentário, muitos títulos foram selecionados. Começamos pelo fascinante “Chico, Artista Brasileiro”, de Miguel Faria Jr, que reencontra o compositor, dramaturgo e prosador Chico Buarque de Hollanda, quase trinta anos depois de “ Outras Conversas”, do argentino-brasileiro Maurício Beru. E prosseguimos com “Menino 23, Infâncias Perdidas no Brasil”, de Belisário Franca, “82 Minutos”, de Nelson Hoineff (sobre um desfile da Portela), “Do Pó da Terra”, de Maurício Nahas (sobre a arte popular do Vale do Jequitinhonha), “Cidade de Deus – Dez Anos Depois”, de Cavi Borges & Luciano Vidigal, “O Último Poema”, sobre fã epistolar de Carlos Drummond de Andrade, e “5X Chico – O Velho e sua Gente”, filme que navega pelas águas do Rio São Francisco. No ano do Centenário do Samba, vale conferir “Samba e Jazz”, de Jefferson Mello, que busca aproximações entre o jazz de New Orleans e o o samba do Rio de Janeiro.
E, ainda no campo do documentário, há que se destacar a emergência, cada vez mais significativa, de filmes sobre futebol. Este ano, destacamos “1976, o Ano da Invasão Corinthiana”, de Ricardo Aidar e Alexandre Boechat, “Miller e Fried – As Origens do País do Futebol”, de Luiz Ferraz, e o delicioso (e imperdível) “Geraldinos”, de Pedro Asbeg e Renato Martins.
Nossa produção infanto-juvenil continua reduzida. Mas escolhemos um filme que merece ser visto: “O Escaravelho do Diabo”, adaptação de livro de Lúcia Machado de Almeida, realizada por Carlo Milani , com produção de Sara Silveira.
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