Mostra CineBH homenageia o crítico e cineasta Pierre Léon
Anualmente, a Mostra CineBH – International Film Festival celebra a obra e a trajetória de um cineasta de expressão na produção contemporânea mundial. Em 2017, na 11ª edição do evento, que acontece entre os dias 22 e 27 de agosto, o homenageado é o francês Pierre Léon. Diretor, ator, crítico, tradutor e músico, este multiartista é um dos nomes mais celebrados do cinema independente. Quase sempre deixado à margem pelo circuito de grandes festivais, Léon ganha em Belo Horizonte um merecido e urgente resgate de toda a sua obra.
Além de exibir os 14 filmes dirigidos por ele (entre longas, médias e curtas-metragens), a CineBH vai promover a Carta Branca a Pierre Léon, composta por três sessões com filmes escolhidos pelo próprio diretor e considerados fundamentais em sua formação e olhar. Os títulos participam da mostra Diálogos Históricos e serão apresentados e debatidos por Léon, que vem ao Brasil pela primeira vez para participar do evento.
A escolha por celebrar o trabalho de Léon foi uma extensão natural de anos anteriores da CineBH, quando foram exibidos os longas mais recentes do diretor. Num ano em que a temática central da Mostra vai girar em torno do “Cinema de Urgência”, discutindo as formas de o audiovisual responder imediatamente aos anseios históricos e políticos, ter Pierre Léon como homenageado é olhar para um outro sentido da noção de imediatismo.
Filho de um correspondente do jornal “L’Humanité”, Pierre Léon nasceu em Moscou em 1959. Passou a infância e parte da juventude na Rússia, o que influenciou várias de suas escolhas artísticas – entre elas, a constante adaptação de obras literárias de Fiodor Dostoiévski, em filmes como O Adolescente (2001), O Idiota (2009) e Dois Rémi, Dois (2015). Na França, fez parte da geração de críticos de cinema da revista “Trafic” e manteve diálogo e convivência com colegas como Serge Daney, Jean-Claude Biette e Louis Scorecki, entre outros. Seu primeiro longa-metragem, Duas Damas Sérias, foi realizado em 1988.
Além da exibição de todos os filmes dirigidos pelo francês, a CineBH vai promover o Encontro com Pierre Léon, no qual o cineasta vai conversar com o público sobre suas obras e experiências no cinema e na arte em geral, e os Diálogos Históricos, com uma seleção de filmes que o influenciam ou encantam.
Léon definiu um trio de obras de épocas e estéticas diversas que dialogam diretamente com sua faceta de criador múltiplo: O Pecado de Clunny Brown (1946), de Ernst Lubitsch, comédia romântica de um dos maiores encenadores da história do cinema; A Bigger Splash (1974), de Jack Hazan, filme biográfico sobre o pintor David Hockney; e Le Camion (1977), de Marguerite Duras, experimento estético-literário com a presença de Gerard Depardieu.
Em seis dias de programação intensa e gratuita, a 11ª Mostra CineBH exibe 101 filmes nacionais e internacionais, em pré-estreias e retrospectivas (41 longas, 1 média e 59 curtas-metragens), em 60 sessões de cinema, oriundos de seis Estados brasileiros: MG, GO, RJ, SP, RS, PR e 16 países – Brasil, França, Reino Unido, Estado Unidos, Portugal, Senegal, Alemanha, Japão, China, Rússia, Áustria, Líbano, Síria, Emirados Árabes, Qatar e Tailândia. A abertura será no Cine Theatro Brasil Vallourec, às 20h, com a pré-estreia nacional de Corpo Elétrico, longa-metragem de Marcelo Caetano.
A Mostra Contemporânea terá um recorte dedicado a filmes que dialoguem com a temática, de épocas e estilos distintos. Entre eles, estão Videogramas de uma Revolução (Alemanha/Romênia, 1992), de Harun Farocki, A Revolução Não Será Televisionada (Senegal, 2016), de Rama Thiaw, Males sem Terra (Brasil, 2016), de João Arthur, e Na Missão, com Kadu (Brasil, 2016), de Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito.
Complementando os filmes, a mesa “Cinema de urgência: métodos, impasses, intervenções” vai reunir diretores e pesquisadores para estabelecer uma conversa com (e entre) cineastas que responderam à convocação dos acontecimentos políticos e estão realizando filmes sobre ou a partir da crise, com enfoques e propósitos distintos. Por fim, Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha – que completa 50 anos de lançamento – terá uma sessão especial também dentro da temática, com a presença dos pesquisadores Ismail Xavier e Ivana Bentes para debaterem o impacto do filme na época e ao longo das décadas.
A Mostra Contemporânea se completa com títulos de grande repercussão internacional, em pré-estreias nas telas brasileiras, com grande destaque ao cinema asiático. Do continente, vêm Three (Hong Kong), de Johnnie To; The Mole Song: Hong Kong Capriccio (Japão), de Takashi Miike; Bangkok Nites (Japão/Tailândia), de Katsuya Tomita; e Uma Noiva de Shangai (Argentina/China), de Mauro Andrizzi. Completando os internacionais, estão Taste of Cement (Líbano/Síria), de Ziad Kalthoum; e Luz Obscura (Portugal), de Susana de Sousa Dias. Entre os brasileiros, estão na programação as pré-estreias As Duas Irenes, de Fábio Meire; e Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano.
Com curadoria de Paula Kimo, a mostra A Cidade em Movimento, uma janela criada em 2016 pela Mostra CineBH para os discursos criativos e produtivos que tocam em temas, formas e modos de friccionar, emergir e movimentar a nossa cidade, traz para esta edição a temática “Quem movimenta a cidade?” e irá apresentar 25 filmes (3 longas e 22 curtas) com foco em três pilares: comunidade, lugares e pessoas.
A seleção de curtas, assinada pelo curador Pedro Maciel Guimarães, apresenta 36 filmes de sete Estados (Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul) e estarão distribuídos em três mostras temáticas: Contemporânea, Brasileiros no Exterior e Retrospectiva Gesto de Cinema, que reúne filmes da produtora paranaense composta pelos produtores-realizadores Caio Baú e Isabele Orengo. A sessão com cinco curtas aposta no formato como local de investigação cinematográfica e engajamentos pessoais dos seus integrantes.
A sessão Mostrinha apresenta uma seleção de sete filmes – um longa “A Família Dionti”, dirigido por Alan Minas, e uma sessão com seis curtas que integram a mostra A Cidade em Movimento.
Para estudantes e educadores, a Mostra CineBH promove o Cine-Expressão – A Escola vai ao cinema que a oferta de seis sessões cine-escola e cine-debates que pretende beneficiar mais de 3.000 alunos da rede de ensino de Belo Horizonte, a partir da faixa etária de cinco anos. O programa tem como objetivo entender o audiovisual como janela sobre as relações sociais do mundo, unir as linguagens cinema e educação com foco na formação do cidadão a partir da utilização do audiovisual no processo pedagógico interdisciplinar.
O evento oferece também um amplo programa de capacitação e formação para profissionais do setor, da educação, jovens e interessados em geral. Ao todo, serão oferecidas sete modalidades, sendo cinco oficinas, um workshop internacional de cinema documentário e uma masterclass com o cineasta, ator e crítico francês Pierre Léon, com oferta de 230 vagas. As oficinas acontecem entre os dias 23 a 27 de agosto, nas dependências do Sesi Museu de Artes e Ofícios (Praça da Estação) e na Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes – Av. Afonso Pena 1537 – Centro), em Belo Horizonte.
Uma das novidades desta edição é a parceria da 11ª Mostra CineBH com a MAX – Minas Gerais Audiovisual Expo – promovida pela Codemig|Governo de Minas Gerais, Sesi Fiemg e Sebrae, possibilitando levar parte da programação do evento para a Praça da Estação, no centro de Belo Horizonte, transformando este cartão postal em cenário da sétima arte.
A proposta da Mostra Clássicos na Praça é exibir filmes populares que sejam parte do imaginário de várias gerações de espectadores e que dialoguem com a ideia de viver, circular e conviver na cidade (incluindo a vida rural como o contraponto). Entre aventura, ficção científica, romance, invasões alienígenas, voyeurismo e brincadeiras de criança, os filmes aqui selecionados irão se mesclar ao ambiente urbano da Praça da Estação sob várias facetas. Uma seleção especial com filmes produzidos em Minas Gerais que se destacam pela inventividade e pela importância no desenvolvimento da linguagem audiovisual no estado completa a programação.
Estão na programação O Garoto (1921), de Charles Chaplin, que terá trilha sonora executada ao vivo pela Orquestra de Câmara do Sesiminas; Eles Vivem (1988), de John Carpenter; Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock; Blade Runner (1982), de Ridley Scott e E.T. O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg. A produção mineira se fará presente nas sessões com uma seleção de títulos também clássicos para a produção no Estado: o longa O Menino Maluquinho (1995) de Helvécio Ratton, e os curtas A Velha a Fiar (1964), de Humberto Mauro; A Hora Vagabunda (1998), de Rafael Conde; Fantasmas (2011), de André Novais Oliveira, e Estado Itinerante (2016), de Ana Carolina Soares.
A mostra promove também o Brasil CineMundi – 8th International Coproduction Meeting, consolidado como o evento de mercado do cinema brasileiro e realiza debates, diálogos, encontros, oficinas, Mostrinha de Cinema, sessões cine-escola e atrações artísticas. Representa importante instrumento de reflexão, debate, difusão, ações de cooperação e negócios no segmento audiovisual em intercâmbio com o mundo.
Além dos convidados brasileiros, confirmaram presença, no 8º Brasil CineMundi, 25 convidados internacionais da indústria audiovisual mundial, representando 13 países: Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, EUA, França, Holanda, Itália, Noruega, Suíça e Uruguai, que desembarcam na capital mineira para conhecer novos projetos do cinema brasileiro, participar de debates, consultorias, agenda de relacionamentos, encontros de negócios promovidos pelo evento.
Integra a programação o 8º Seminário Brasil CineMundi que, nesta edição, acontece no Sesi Museu de Artes e Ofícios e vai reunir 37 profissionais brasileiros e estrangeiros no centro dos debates, diálogos, estudos de caso, masterclasses e workshop internacional com o intuito de promover a troca de conhecimentos, experiências em coprodução internacional, promover ações de relacionamentos e negócios, ampliar as possibilidades de parcerias e intercâmbio, estimular o diálogo e o encontro do setor audiovisual.
Entre as atividades confirmadas, estão o estudo de caso do longa-metragem Benzinho, de Gustavo Pizzi, coprodução entre Brasil e Uruguai; painéis do Berlinale Talents, TorinoFilmLab, Roterdam Lab e National Film Board of Canada; e debates sobre coprodução na América Latina e fundos de investimento e cooperação audiovisual.
Plataforma consagrada de rede de contatos e negócios do audiovisual, o Brasil CineMundi reúne anualmente centenas de profissionais de várias partes do mundo para uma intensa programação de cooperação, intercâmbios, capacitação e apoio a novos projetos de longas brasileiros.
Ao todo, serão apresentados 22 projetos de longas-metragens brasileiros em fase de desenvolvimento ou pré-produção. Eles estão organizados em três categorias: CineMundi (10), DocBrasil Meeting (6), Foco Minas (6). Os Estados de origem são Amazonas, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Todos eles estarão em Belo Horizonte em busca de firmar parcerias com outros países, no intuito de viabilizar trabalhos autorais e também ampliar possibilidades de circulação e difusão do cinema brasileiro no exterior, um dos temas mais discutidos no encontro.
No dia 27 de agosto, no encerramento da 8a edição do Brasil CineMundi, às 19h30, no Teatro Sesiminas, o júri (composto por três profissionais da área) anunciará o melhor projeto de longa brasileiro em fase de desenvolvimento da categoria CineMundi. O vencedor vai ganhar o Troféu Horizonte, materiais e serviços oferecidos pelas empresas da indústria audiovisual parceiros do evento e vaga para o produtor marcar presença no Ventana Sur (Argentina), evento de mercado parceiro do Brasil CineMundi, juntamente com o TorinoFilmLab (Itália), DocMontevideo (Uruguai) e DocSP (Brasil), que também oferecem vagas para produtores e projetos brasileiros selecionados para o evento.