Audiovisual – Do Global ao Tribal

Mesmo com a massificação das plataformas de distribuição de conteúdo sob demanda, percebemos que a grande revolução das mídias ainda está a caminho. Fala-se agora não em massificação das mídias, mas sim da midiatização das massas. O que estamos vivenciando é a criação ininterrupta de novos hábitos de consumo, com vídeos sob demanda competindo e dividindo espaço com a televisão linear, o cinema e as formas até então existentes de circulação de conteúdos audiovisuais.

Mas, curiosamente, quando observamos o momento do consumo audiovisual, percebemos que a massificação de conteúdos na versão de “pontos de audiência” na televisão linear, aberta ou por assinatura, não atende mais aos desejos do indivíduo no consumo audiovisual. E, inevitavelmente, fui levado a fazer conexão entre o momento revés da globalização no ambiente do audiovisual.

Já observamos no Brasil os resultados da presença do audiovisual brasileiro independente nas grades de programação dos canais por assinatura aqui presentes. Segundo dados da ANCINE – Agência Nacional de Cinema, nunca se produziu tanto para cinema e TV no país, tendo os produtores independentes brasileiros emplacado algo em torno de 3.500 obras nas grades de programação das TVs pagas.

Hoje, não é difícil constatar que o conteúdo audiovisual brasileiro rende bons frutos de audiência, fidelização de público a canais e, recentemente, às plataformas de vídeo por demanda, por tratar de temas, histórias, personagens, expressão e “voz” em idioma local. Que cada vez ganham mais espaço junto ao indivíduo, cada qual com sua personalidade. Fácil de constatar quando o uso dos mágicos “algoritmos” aproxima e apresenta os seus interesses e seus desejos audiovisuais de seus hábitos de consumo.

A globalização que inseriu e eliminou distâncias físicas entre pessoas, grupos e povos no cenário mundial, hoje se debruça em uma espécie de volta às raízes. Quer colher do indivíduo sua intimidade e suas vontades para então oferecer algo específico, feito sob medida, e não mais pasteurizado.

Neste momento de contradições da globalização, que serviu a tantos interesses corporativos mundiais, vale lembrar a dialética de “quanto mais particular mais universal”, ou “quanto mais universal mais particular”? O fato é que o global quer estar de volta à aldeia, de volta à tribo.

No caso do audiovisual, podemos ver cada vez mais a nova estratégia de produzir localmente, com histórias locais, tentando aproximar o público de seus próprios cenários, histórias, costumes. Séries são produzidas originalmente em países que não se conhecia tradição em dramaturgias de interesse global.

O particular, o regional, o nacional nunca estiveram tão presentes, ainda que somado a formatos universais, globais. Realidades brasileiras, por exemplo, têm cada vez mais espaço em novas produções originais, com nosso ritmo, nossa lente dramatúrgica.

Para acompanhar essas importantes mudanças na forma como se vê e se consome conteúdo audiovisual, os organismos competentes do setor buscam atualizar o que existe de regras para o fomento do audiovisual independente brasileiro e regular um mercado novo que está se abrindo e que se transforma a cada momento. As parcerias estabelecidas entre entidades do setor e poder público que regem nosso mercado ditarão esses novos tempos e ampliarão os horizontes do mercado brasileiro.

A produção independente brasileira segue reconhecida e conquistando espaços no cenário mundial e espaços cada vez maiores com o público brasileiro. Nesta edição de 2018 do RioContentMarket – agora em novo formato, ampliado e se conectando com outras temáticas e setores, tais como música, inovação e games, o novo R2C –, mais do que nunca, muros foram rompidos e fronteiras ultrapassadas. Os agentes do setor audiovisual brasileiro e global estiveram mais uma vez juntos, em sua diversidade, com suas diferenças, mas interesses comuns, sejam os brasileiros ou os do mercado mundial.

 

Por Mauro Garcia, Presidente-executivo da BRAVI – Brasil Audiovisual Independente

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