Spcine inicia seus editais audiovisuais
Este ano pode ficar para a história do cinema brasileiro como aquele em que mais recursos foram investidos na atividade audiovisual. Para os produtores brasileiros, os negócios começaram agora em abril, com o lançamento das novas linhas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), divulgadas pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), no começo de março, e das próximas, que serão lançadas ainda neste mês. E chegou a vez da Spcine, em São Paulo. A empresa, ligada à Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, também já está delineando os seus editais e deverá lançar, até o final de abril, o mais robusto de todos eles, até então.
Serão, ao menos, R$ 7 milhões para complementação do orçamento de filmes que estejam em fase avançada de financiamento, e a Spcine pretende selecionar entre 10 e 15 projetos. Ou seja, esse edital é destinado a obras de ficção, documentário ou animação que ainda não alcançaram o limite de 70% ou 90% dos itens financiáveis da produção. Por exemplo: se o projeto já captou 50% do valor total e está dentro das regras do edital, o produtor poderá pleitear à Spcine o restante dos recursos para atingir o limite previsto.
Outro concurso já confirmado é para filmes inéditos que serão exibidos na TV Cultura. Com aporte total de pouco mais de R$ 1 milhão, o edital deverá contemplar até 36 obras nacionais, com veiculação na própria televisão aberta ou ainda em outras janelas, não descartando o cinema e as plataformas de vídeo sob demanda. Os detalhes ainda não foram divulgados.
Em agosto, a Spcine também deverá lançar um programa de formação de jovens nas diferentes áreas da economia criativa, chamado SP Criativa. A proposta é capacitar os interessados na produção de jogos digitais e gestão de projetos criativos.
Balanço dos primeiros anos
De acordo com os dados oficiais – desde janeiro de 2015, quando a Spcine foi implementada, até dezembro de 2017 –, os recursos investidos no audiovisual somam R$ 71,3 milhões. Se olharmos apenas para os programas de investimento e editais, o valor é de R$ 43,1 milhões para 167 projetos, premiados nas linhas de produção, distribuição, pré-licenciamento para séries de TV, entre outros.
Além da injeção de recursos diretos, alguns programas criados pela empresa acabaram mudando a dinâmica do mercado em São Paulo. Um deles é o Circuito Spcine de Cinema, que já se tornou o 6º maior complexo exibidor da capital paulista, com 20 salas. A programação dos filmes alcançou a marca de 16 mil sessões de cinema, com total de 800 mil espectadores. “Minha Mãe é uma Peça 2”, dirigido por César Rodrigues e estrelado por Paulo Gustavo, foi o longa-metragem com maior público em 2017, com mais de 13 mil espectadores nas telas do circuito.
Neste ano, outras cinco salas deverão ser inauguradas nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) ou em outros equipamentos culturais da prefeitura da cidade. Essa expansão do projeto ainda está em fase de análise. Desde a criação do circuito, o montante dos recursos soma R$ 15,3 milhões, incluindo as etapas de implantação, operação, manutenção e programação.
Apoio às locações, games e difusão por VOD
A São Paulo Film Commission é outro projeto que acelerou o dia a dia das produções e atraiu novas filmagens para a capital. De acordo com os números da Spcine, os resultados são animadores: mais de 1,5 mil obras passaram pelo crivo da agência. Dentre as locações, mais de 5,3 mil foram solicitadas e aprovadas pelo órgão, e o número de postos de trabalho gerados durante as filmagens foi de 33,7 mil.
A minissérie “Treze Dias Longe do Sol”, exibida na TV Globo, foi rodada em São Paulo, assim como as séries “Psi” e “A Vida Secreta dos Casais”, que passaram na HBO, “Desencontros”, que estreou no canal Sony, “171 – Negócio de Família”, no canal Universal, e “Samantha!”, que vai estrear na Netflix, em 2018. O aguardado “Marighella”, primeiro longa-metragem dirigido por Wagner Moura, “Os Parças”, de Halder Gomes, e “Nada a Perder”, de Alexandre Avancini, sobre o bispo Edir Macedo, também foram filmados na cidade com o apoio da Spcine.
Os games foram contemplados pela empresa por meio de iniciativas como Batalha Animada 1 e 2, K.O. HQ, e um edital próprio, somando investimentos de R$ 1,7 milhão, com cerca de 16 realizadores premiados. Na capacitação, além do projeto que será lançado neste ano, a Spcine destaca o Sampa Cine Tec, programa de formação técnica de jovens da periferia, que atraiu mais de 70 jovens com bolsas de trabalho no setor audiovisual.
O suporte da Spcine também se estendeu aos festivais que acontecem anualmente em São Paulo: É Tudo Verdade, Festival de Cinema Latino-Americano, Festival Internacional de Curtas-Metragens, Mostra Internacional de Cinema, Anima Mundi, Mix Brasil e Brazil’s Independent Games Festival. De 2015 a 2017, foram investidos R$ 11,1 milhões nesses eventos.
Em novembro de 2017, também foi lançada a Spcine Play, plataforma de vídeo sob demanda dedicada especialmente aos filmes dos realizadores paulistas. A iniciativa é formada pelo consórcio capitaneado pela Spcine, com expertise e operação da O2 Play – braço de distribuição da O2 Filmes – e da Hacklab, empresa de tecnologia responsável pelo desenvolvimento técnico.
Ao todo, dez filmes estão disponíveis para aluguel: “O Menino e o Mundo”, do diretor Alê Abreu, “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert, “Califórnia”, de Marina Person, “De Menor”, de Caru Alves de Souza, “Ausência”, de Chico Teixeira, “Paratodos”, de Marcelo Mesquita, “Uma Noite em Sampa”, de Ugo Giorgetti, “Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista”, de Riba de Castro, “A Batalha do Passinho”, de Emilio Domingos, e “As Fábulas Negras”, de Rodrigo Aragão, José Mojica Marins, Petter Baiestorf e Joel Caetano.
Por Belisa Figueiró