Os vencedores do Donatello
Por Maria do Rosário Caetano
“Dogman”, drama social banhado em violência, dirigido por Matteo “Gomorra” Garrone, foi o grande vencedor do “David di Donatello”, o “Oscar” italiano. O filme, em cartaz nos cinemas brasileiros, conquistou sete estatuetas, incluindo as mais cobiçadas (melhor longa e melhor direção).
“Santiago, Itália”, de Nanni Moretti, foi eleito o melhor documentário, e “Roma”, do mexicano Alfonso Cuarón, seguindo sua rota de triunfos internacionais, o melhor longa estrangeiro.
O “David di Donatello” de melhor filme de diretor estreante coube ao drama social “Sob a minha Pele”, de Alessio Cremonini (disponível na Netflix). Segundo a escolha do júri popular, o eleito foi “A Casa Tutti Bene”, de Gabriele Muccino.
O desempenho de “Sob a minha Pele” é surpreendente e mostrou, mais uma vez, a força dos dramas sociais na terra do Neo-Realismo. Além de reconhecer o desempenho de seu protagonista (Alessandro Borghi), a Academia Italiana outorgou-lhe mais três “Donatello” (filme e diretor estreantes e melhor produtora). Com contenção narrativa e diálogo com o cinema documental, Cremonini acompanha um jovem preso por tráfico de droga, que viverá dias de horror entre delegacias, presídios e hospitais carcerários.
É notável a vitória de Nanni Moretti na categoria melhor documentário. Afinal, ele vem de consagrada trajetória no cinema ficcional, com obras de imensa qualidade, como “Caro Diário”, “O Quarto do Filho”, Palma de Ouro em Cannes, e “Habemus Papa”. A Academia comprova que ele é bom nos dois terrenos. Com “Santiago, Itália”, o cineasta romano revisita a experiência democrática de Salvador Allende, que implantou o socialismo no Chile, por via eleitoral, em 1970, e foi deposto por golpe militar, liderado pelo general Pinochet, em 11 de setembro de 1973.
A se lamentar na festa do cinema italiano, a ausência de prêmios para o belíssimo “Lazzaro Felice”, de Alice Rohrwacher, fascinante mistura de “Milagre em Milão”, de Vittorio de Sica, com dramas sociais neo-realistas (o filme está disponível na Netflix). Embora houvesse dois longas-metragens dirigidos por mulheres na lista de principais finalistas (o outro era “Euforia”, de Valeria Golino), as duas realizadoras saíram sem nenhum reconhecimento.
“Loro”, o polêmico mergulho de Sorrentino na vida política e mundana de Silvio Berlusconi (com Toni Servillo de protagonista) só ganhou dois “David di Donatello”: o de melhor atriz (para Elena Sofia Ricci) e melhor “accontiatore” (ou seja, penteados).
A cerimônia romana, transmitida pela RAI, prestou tributo a Bernardo Bertolucci (1941-2018) e entregou prêmios especiais a Dario Argento, o rei do cinema de horror italiano (em abril, estreia nos cinemas brasileiros o remake que Lucas Guadagnino realizou de “Suspíria”), e também ao diretor Tim Burton, à diretora de arte Francesca Lo Schiavo e à atriz Uma Thurman.
Confira os premiados:
. “Dogman”: melhor filme, diretor (Matteo Garrone), ator coadjuvante (Edoardo Pece), fotografia (Nicola Brüel), cenografia (Dimitri Capuano), montagem (Marco Spolenti), equipe de som
. “Sob a Minha Pele”: melhor filme de diretor estreante, ator principal (Alessandro Borghi), “Regista Giovani” (Jovem Diretor), melhor produtora (Cinemaundici e Lucky Red)
. “Santiago, Itália”, de Nanni Moretti: melhor documentário
. “Roma”, de Alfonso Cuarón: melhor filme estrangeiro
. “Loro”, de Paolo Sorrentino: melhor atriz (Elena Sofia Ricci), melhor penteado (Aldo Signoretti)
.“Me Chame pelo seu Nome”: melhor roteiro (Luca Guadanigno), melhor canção (Mistery of Love)
.“Capri Revolution”, de Mario Martone: melhor trilha sonora (Sacha Ring e Philipp Thimm), melhor figurinista (Ursula Patzak)
.“Il Vizio della Speranza”: atriz coadjuvante (Marina Confalone)
. “Il Raggazzo Invisible – Seconda Generazione”: melhores efeitos visuais (Victor Perez)
. “Frontiera”: melhor curta-metragem