Festival italiano apresenta filmes sobre Michelangelo, Caravaggio e Berlusconi
Por Maria do Rosário Caetano
O cinema italiano desembarca em São Paulo, Rio, Niterói, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Porto Alegre, a partir desta quinta-feira, 8 de agosto, com uma brigada que nada tem de Brancaleone.
Além de seleção de filmes que vai de “Sílvio e os Outros” (“Loro”), sobre o polêmico ex-presidente Silvio Berlusconi, a “Noite Mágica”, de Paolo Virzì, metalinguística e deliciosa comédia, haverá aula-magna do cineasta Marco Tulio Giordanna e exibição de seu monumental “O Melhor da Juventude”.
E tem mais: para lembrar os 500 anos da morte de Leonardo da Vinci, o festival italiano exibirá documentários que evocam dois dos maiores artistas da do Renascimento peninsular – o pintor e escultor Michelangelo Buonarroti (1475-1564), em “Michelangelo Infinito”, de Emanuele Imbucci, e Michelangelo Merisi (1571-1610), em “Caravaggio – A Alma e o Sangue”, de Jesus Garcés Lambert. Estes dois filmes fazem parte de série televisiva intitulada “A Grande Arte no Cinema”, produzida para mostrar ao mundo o quanto a Itália foi grande nos séculos XV e XVI. Afinal, não é qualquer território que tem para ostentar tamanha constelação de artistas da grandeza de Da Vinci, Michelangelo, Rafael, Botticelli e Caravaggio.
Além de “Loro”, “Noite Mágica”, “Michelangelo”, “Caravaggio” e “O Melhor da Juventude” (este chega em cópia restaurada e com seus 366 minutos originais), serão exibidos “Lúcia Cheia de Graça”, de Gianni Zanasi, com Alba Rohrwacher e Elio Germano, selecionado pela Quinzena dos Realizadores de Cannes 2018, “Euforia”, segundo longa-metragem da atriz Valeria Golino na função de diretora, o comovente “Dafne”, dirigido por Federico Bondi e protagonizado por uma jovem downiana, “Desafio de um Campeão”, de Leonardo D’Agostini, “Entre Tempos” (Ricordi?), de Valerio Mieli, e “Bangla”, de Phaim Bhuiyan, trama multicultural que aproxima indianos e italianos e que a crítica peninsular elegeu como a “melhor comédia lançada do ano”.
Quem amava os filmes cômicos de Mario Monicelli e Dino Risi, não pode perder “Noite Mágica”. O diretor Paolo Virzì, que a muitos encantou com “A Primeira Coisa Bela” e “Loucas de Alegria”, mergulha no universo do cinema italiano para homenagear seus antecessores e não para chorar glória perdida dos anos que uniram Rossellini, Antonioni, Fellini, Visconti, De Sica, Pasolini, Monicelli e Risi.
Ao mundo do cinema peninsular, somam-se ingredientes de filme policial. O grande Giancarlo Giannini interpreta um poderoso produtor de cinema. Mal começa a narrativa e ele é encontrado morto no Rio Tibre. As suspeitas recaem sobre três jovens roteiristas, que acabam de participar de festividade de entrega de prêmios. Levados à delegacia e interrogados pela polícia, eles revivem sua tumultuada e emocionante jornada pelas ruas de Roma. Tudo se passa nos suspiros finais da era de ouro do cinema italiano. O tom é leve e fascinante.
Marcello Mastroianni (1924-1996), o símbolo máximo do cinema peninsular, não encontrou um herdeiro à sua altura. Mas ótimos atores apareceram para amainar sua falta. Caso de Riccardo Scamarcio, que pode ser visto em “Silvio e Eu”, do controvertido Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar com “A Grande Beleza”, em “Euforia”, da atriz-cineasta Valeria Golino, e no imenso (e imperdível) filme de Giordanna, que volta a nossas telas dezesseis anos depois.
“O Melhor da Juventude” (Scamarcio aparece na terceira parte deste filme) constrói-se como envolvente drama familiar, que nos aproxima de momentos cruciais da história italiana. Sejam as inundações que colocaram em risco o valioso patrimônio histórico de Florença (1966), seja a luta contra a máfia ou os grandes campeonatos mundiais de futebol, sejam os duros anos da luta armada (Brigadas Vermelhas) ou a luta antimanicomial inspirada pelo psiquiatra Franco Basaglia.
De todos os filmes programados pelo festival italiano, o mais polêmico é “Sílvio e os Outros”. Afinal, o bilionário Silvio Berlusconi, hoje com 82 anos, marcou profundamente a história contemporânea da Península. Dono de um império de comunicações e líder da direitista Força Itália, ele exerceu o cargo de primeiro-ministro por dois conturbados períodos. Mulherengo, o magnata da mídia despertava (e desperta ainda) amores e ódios em proporções similares. Sorrentino, hoje o mais famoso dos realizadores italianos, soma em “Loro” um pouco de esquizofrenia, marca de alguns de seus filmes, a momentos mais reflexivos. Deve dividir o público (e a crítica) no Brasil, como dividiu na Itália. A destacar o notável desempenho de Toni Servillo, o grande ator italiano de “Il Divo”, “Gomorra” e, claro, “A Grande Beleza”.
Já “Dafne”, protagonizado por uma adolescente downiana, é um filme encantador. A jovem é carismática, a trama verossímil e envolvente e, o que é melhor, o filme nunca apela ao sentimentalismo.
8 1/2 Festa do Cinema Italiano
Data: 8 a 14 de agosto
Local: BH, Brasília, Curitiba, Niterói, Porto Alegre, Rio, São Paulo e Recife. Em diversos cinemas. E, de 15 a 21 de agosto, em Belém, Florianópolis, Goiânia, Salvador, Vitória, Fortaleza, Londrina e Natal.
Mais informações: www.festadocinemaitaliano.com.br