Oscar realiza sua primeira edição on-line com 70 indicações femininas
Por Maria do Rosário Caetano
Como a Academia de Hollywood transferiu a festa do Oscar, por causa da pandemia do coronavírus, para abril (nesse domingo, 25), quem quiser assistir à entrega das estatuetas na TV Globo, não terá que esperar a madrugada. Em edições anteriores, no tradicional mês de fevereiro, o “tio Oscar” teve que enfrentar a concorrência do desfile das Escolas de Samba. Dessa vez, os fãs terão que esperar apenas mais uma edição do famigerado Big Brother Brasil.
A festa, que deve ser arrebatadora – afinal está nas mãos de Steven Soderbergh, profissional dos mais respeitados da indústria audiovisual –, estará em muitas telas. O diretor de “sexo, mentiras e videotapes” prometeu, em encontro com a imprensa, verdadeiro show de tecnologia. A Academia é milionária e os EUA, quem há de duvidar, são a mais poderosa potência cinematográfica do planeta.
Além da TV Globo, que terá Maria Beltrão no comando da transmissão (com Dira Paes e Artur Xexeo nos comentários), o espectador poderá sintonizar o canal pago TNT (+ TNT Play e seu YouTube). E, também, a GloboPlay. Neste canal, o humorista Marcelo Adnet, que vem causando furor com suas imitações políticas, vai emular o ator José Wilker (1944-2014), cinéfilo que associou sua imagem às festas da Academia.
Na companhia de Adnet estarão a hilária e talentosíssima Luciana Paes (de “Sinfonia da Necrópole”) e outro humorista, Paulo Vieira. Se a TNT promete entrar no ar às 21h, a GloboPlay o fará antes (20h). Decerto com a compridona Luciana e os dois colegas empenhados em nos matar de rir.
A nonagésima-terceira edição do Oscar da Academia de Hollywood avançou positivamente em dois de seus calcanhares de Aquiles: a baixa representatividade (entre os indicados e premiados) dos afro-americanos e a insatisfatória presença feminina. Esse ano, há 70 nomes femininos indicados em 23 categorias. Um recorde. Os negros marcam significativa presença em categorias como atriz, ator (principais e coadjuvantes) e, até, em categorias técnicas, como cabelo e maquiagem (Mia Neal e Jamika Wilson) por “A Voz Suprema do Blues”.
Os asiáticos, depois da arrasadora vitória do excelente “Parasita”, de Bong Joon-ho, também marcam presença. Primeiro com Chloé Zhao, diretora do favorito “Nomadland”, chinesa radicada nos EUA. E, também, com “Minari” (seis indicações). Mas, registre-se: “Parasita” era um filme 100% coreano, com história local, diretor, atores e técnicos nascidos e radicados no poderoso tigre asiático.
“Nomadland” e “Minari” são produções norte-americanas. O filme de Zhao tem história, atores, técnicos e cenários “100% USA”. O segundo traz personagens e diretor coreanos, mas é ambientado em uma pequena fazenda nos EUA. E o inglês, como não poderia deixar de ser, é utilizado por personagens importantes na trama.
O grande crítico A.O. Scott, do New York Times, cosmopolita e atento, escreveu em um de seus obrigatórios textos sobre o Oscar: “A Academia defende um imperialismo amigável e inclusivo, construído sobre um alegre consenso”.
Se, ano passado, com o êxito de “Parasita”, alguém pensou que, finalmente, as cerimônias do Oscar seriam voltadas para o cinema do mundo – como Cannes, Veneza e Berlim –, a decepção foi imensa. Esse ano, os oito candidatos a “melhor filme” são todos produções norte-americanas ou inglesas.
O dinamarquês “Druk – Mais uma Rodada”, de Thomas Vinterberg, quase chegou lá. Conseguiu indicação a “melhor diretor”, mas sobrou vaga (ano passado foram nove os candidatos) e mesmo assim não emplacou a categoria principal.
Os votantes da Academia erraram ao não colocar o ótimo filme vindo da pátria de Carl Dreyer na categoria suprema dessa disputa, a mais midiática do mundo. E, o que mais pesa, a estatueta dourada e careca conta com verdadeira legião de fãs espalhados pelos cinco continentes. “Druk”, o filme nórdico, deverá triunfar, apenas, na categoria melhor filme internacional.
A pandemia fez do Oscar (número 93) uma disputa de exceção. Ou seja, grandes produções preferiram não arriscar-se no mercado exibidor. O caso mais paradigmático é o de Steven Spielberg, que guardou seu remake de “West Side Story” (“Amor Sublime Amor”, 1960) para momento em que a indústria de exibição (leia-se circuito físico de salas) estiver em pleno funcionamento.
Graças a tais adiamentos dos blockbusters de empenho artístico, sobrou espaço mais generoso para filmes pequenos como “Nomadland”, “Minari” e os afro-americanos “A Voz Suprema do Blues”, “Judas e o Messias Negro”, “Estados Unidos x Billie Holiday” e “Uma Noite em Miami”. Todos tiveram significativo número de indicações.
Na categoria atriz/ator (protagonistas e coadjuvantes), a hegemonia anglo-saxã começa a ceder (algum) terreno. Os afro-americanos marcam presença com Viola Davis e Chadwick Boseman (“A Voz Suprema do Blues”), Andra Day (“Estados Unidos x Billie Holiday”), Daniel Kaluuya e Lateikh Stanfiel (ambos por “Judas e o Messias Negro”) e Lesli Odom Jr (“Uma Noite em Miami”). Até um inglês de origem muçulmano-paquistanesa e pele acobreada – Riz Ahmed , de “O Som do Silêncio” – teve sua vaga assegurada. Um registro: se este filme perder o Oscar de “melhor som”, a injustiça será gritante.
O Oscar principal irá, mesmo, para “Nomadland”, o belíssimo filme de Chloé Zhao? Tudo indica que sim. Mas zebras costumam desfilar nas cerimônias do Oscar. Quem imaginaria que o esquecível “Green Book” derrotaria o formidável “Roma”, de Alfonso Cuarón? Pois derrotou. Para complicar, o SAG, o poderoso Sindicato dos Atores, escolheu “Os 7 de Chicago”, vigoroso drama de época dirigido por Aaron Sorkin, com Sacha Baron Cohen dando um show como ator. Repito: ator. E não com as palhaçadas caricaturais de Borat.
“Nomadland” é um filme pequeno, se a medida for os dólares investidos. Conta com uma protagonista iluminada, Frances McDormand, e história tocante, mergulhada na América profunda. E mostra que a chinesa Chloé Zhao, uma espécie de John Ford de saias, siderada por mundos ermos, cavalos e cowboys, não brinca em serviço. Confiram, antes de domingo, os filmes anteriores dela – “Songs my Brothers Taught Me”, de 2015, e “Domando o Destino”, de 2017, ambos disponíveis no streaming. Se a sino-americana ganhar, será por puro merecimento.
Como em “Os 7 de Chicago”, há muitos dólares investidos em “Mank”, ode à Hollywood dos anos de ouro, comandada por David Fincher. O filme, em preto-e-branco estiloso, é o recordista de indicações (13), mas vem tendo desempenho modestíssimo em prêmios prévios ao Oscar. Nem todos engoliram o roteiro que David herdou do pai, Jack Fincher, partidário do roteirista Herman J. Mankiewicz, em detrimento de Orson Welles, corpo e alma de “Cidadão Kane”.
Quem aprecia o cinema de todas as geografias, terá que contentar-se com migalhas. “Pinóquio”, do italiano Matteo Garrone, recebeu duas indicações técnicas (figurino e cabelo/maquiagem) e “Rosa e Momo”, também italiano, emplacou vaga na categoria melhor canção (“Io Si”, de Laura Pausini e parceiros). Para “O Tigre Branco”, com história, atores e cenário indianos, restou uma mísera vaga (roteiro adaptado).
O Leste Europeu está razoavelmente bem representado com o romeno “Collective” (candidato a melhor filme internacional e melhor documentário) e “Quo Vadis, Aida?”, da Bósnia e Herzegovina (filme internacional). A América Latina só cavou uma indicação: melhor documentário para o delicioso e criativo “O Agente Duplo”, de Maite Alberti.
A Ásia, maior potência cinematográfica do mundo, depois dos EUA (vide o cinema de Bollywood, na Índia, as Chinas – Continental, Insular e Hong Kong – e o Japão), tem representação modesta. “Shaonian de Ni” (“Better Days”) representa Hong Kong, na categoria melhor filme internacional. Mesmo espaço que abriu modesta vaga para o cinema árabe, com o magrebiano “O Homem que Vendeu sua Pele” (Tunísia).
Na categoria documentário, a mais cosmopolita de todas (melhor filme internacional não conta, não é?!) há três estrangeiros: o chileno “O Agente Duplo”, de Maite Alberti, o romeno “Collective”, de Alexandre Nanau, e o sul-africano “Professor Polvo”, de Pippa Erlich e James Reed (com o documentarista Craig Foster de protagonista e produtor).
Dois longas documentais são norte-americanos: “Crip Camp: Revolução pela Inclusão”, de James Lebrecht e Nicole Newhman, que traz, na produção, a poderosa grife do Casal Obama, e o black “Time”, de Garret Bardley, sobre esposa que luta para libertar o marido condenado a 60 anos de prisão.
O franco favorito a melhor documentário é “Collective”, mas o “Polvo” sul-africano vem soltando seus tentáculos e conquistando corações.
Confira os finalistas:
Melhor filme
. Nomadland (EUA)
. Bela Vingança (Inlaterra)
. Os 7 de Chicago (EUA)
. Minari (EUA)
. Meu Pai (Inglaterra)
. Mank (EUA)
. Judas e o Messias Negro (EUA)
. O Som do Silêncio (Inglaterra)
Melhor diretor
. Thomas Vinterberg (Druk)
. Chloé Zhao (Nomadland)
. Emerald Fennell (Bela Vingança)
. Lee Isaac Chung (Minari)
. David Fincher (Mank)
Melhor atriz
. Viola Davis (A Voz Suprema do Blues)
. Andra Day (Estados Unidos x Billie Holiday)
. Frances McDormand (Nomadland)
. Carey Mulligan (Bela Vingança)
. Vanessa Kirby (Piece of a Woman)
Melhor ator
. Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues)
. Riz Ahmed (O Som do Silêncio)
. Anthony Hopkins (Meu Pai)
. Steve Yeun (Minari)
. Gary Oldman (Mank)
Atriz coadjuvante
. Olivia Colman (Meu Pai)
. Glenn Close (Era uma Vez um Sonho)
. Yuh-Jung Youn (Minari)
. Amanda Seyfrid (Mank)
. Maria Balakova (Borat: Fita de Cinema Seguinte)
Ator coadjuvante
. Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro)
. Lateikh Stanfiel (Judas e o Messias Negro)
. Paul Ricci (O Som do Silêncio)
. Lesli Odom Jr (Uma Noite em Miami)
. Sacha Baron Cohen (Os 7 de Chicago)
Melhor documentário
. Agente Duplo (Chile)
. Collective (Romênia)
. Professor Polvo (África do Sul)
. Crip Camp – Revolução pela Inclusão (EUA)
. Time (EUA)
Melhor filme internacional
. Druk – Mais uma Rodada (Dinamarca)
. Collective (Romênia)
. O Homem que Vendeu sua Pele (Tunísia)
. Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)
. Shaonian de Ni (Hong Kong)
Melhor Animação
. “Soul” (EUA)
. “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” (EUA)
. “Wolfwalkers” (Irlanda/Reino Unido)
. “A Caminho da Lua” (EUA)
. “Shaun, o Carneiro – A Fazenda Contra-Ataca” (Reino Unido)
Melhor roteiro adaptado
. Nomadland
. O Tigre Branco
. Meu Pai
. Uma Noite em Miami
. Borat: Fita de Cinema Seguinte
Melhor roteiro original
. Judas e o Messias Negro
. O Som do Silêncio
. Minari
. Os 7 de Chicago
. Bela Vingança
Melhor fotografia
. Relatos do Mundo
. Nomadland
. Judas e o Messias Negro
. Os 7 de Chicago
. Mank
Melhor montagem/edição
. Nomadland
. Meu Pai
. Bela Vingança
. O Som do Silêncio
. Os 7 de Chicago
Melhor canção original
. Io Si (Rosa e Momo)
. Husa’vik (Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars)
. Fight for You (Judas e o Messias Negro)
. Speak Now (Uma Noite em Miami)
. Hear my Voice (Os 7 de Chicago)
Melhor trilha sonora
. Soul
. Destacamento Blood
. Mank
. Minari
. Relatos do Mundo
Melhor figurino
. Pinóquio (Itália)
. A Voz Suprema do Blues (EUA)
. Mulan (EUA)
. Mank (EUA)
. Emma (Reino Unido/EUA)
Melhor maquiagem e cabelo
. Pinóquio (Itália)
. Mank (EUA)
. Era uma Vez um Sonho (EUA)
. A Voz Suprema do Blues (EUA)
. Emma (Reino Unido/EUA)
Melhor design de produção
. A Voz Suprema do Blues
. Relatos do Mundo
. Meu Pai
. Mank
. Tenet
Melhores efeitos visuais
. Problemas Monstruosos
. O Grande Ivan
. O Céu da Meia-Noite
. Mulan
. Tenet
Melhor som
. O Som do Silêncio
. Soul
. Relatos do Mundo
. Mank
. Greyhound: Na Mira do Inimigo
Melhor documentário curta
. Collete
. A Concert is a Conversation
. Do Not Split
. Hunger Ward
. A Love Sonf for Natasha
Melhor curta (live action)
. Felling Through
. The Letter Room
. The Present
. Wo Distant Strangers
. White Eyes
Melhor curta de animação
. Burrow
. Genius Loci
. Opera
. Yes People
. If Anything Happens I Love You