Cine Ceará exibe “Fortaleza Hotel” e festeja criador de “Cine Holliúdy”

Por Maria do Rosário Caetano

O Ceará vai festejar de forma presencial e on-line a boa fase vivida por seu cinema. Nesse sábado, 27 de novembro, o longa-metragem “Fortaleza Hotel”, de Armando Praça, abrirá a mostra competitiva da trigésima-primeira edição do Festival de Cinema Ibero-Americano de Fortaleza, o Cine Ceará, o mais tradicional do Estado.

Na competição, destaca-se mais um longa prata da casa, “A Praia do Fim do Mundo”, de Petrus Cariry. No encerramento, “O Marinheiro das Montanhas”, novo filme do mais internacional dos cearenses, Karim Aïnouz, filho de mãe nordestina, pai argelino, irmão de cineasta francesa e cidadão do mundo radicado em Berlim.

Para completar a tapioca cinematográfica de terra de Iracema, os dois homenageados da noite inaugural – a atriz Marta Aurélia e o cineasta Halder “ô macho!” Gomes – só não são mais cearenses que as velas do Mucuripe.

Bairrismo levado ao paroxismo? Tudo indica que não. O filme de Karim Aïnouz é um documentário em estado pleno de poesia. Confessional e político, íntimo e contextualizado. De beleza arrebatadora. O filho de uma jovem cearense – que foi estudar nos EUA, conheceu um argelino, apaixonaram-se, ela engravidou e regressou, sozinha, ao Brasil – só encontrou coragem para enfrentar essa história já com cabelos ralos e barba branca. Esse filho (Karim Aïnouz) nasceu e foi criado pela mãe, avó e tias, bem distante do pai. Depois da morte da mãe, já cineasta famoso, foi conhecer a Argélia impressa em seu DNA. Que filme! Melhor não poderíamos esperar.

“Fortaleza Hotel” é o segundo longa-metragem de Armando Praça, um dos talentos revelados pelo curta-metragem cearense. Dois anos atrás, ele venceu a vigésima-nona edição do Cine Ceará. Por mérito, não por protecão bairrista. “Greta”, seu longa protagonizado por Marco Nanini e Démick Lopes, um velho-e-rechonchudo homossexual e um infrator de reduzidas carnes, revelou realizador em quem se deve prestar muita atenção. Vamos ver o que acontecerá dentro do Fortaleza Hotel.

O caso de Petrus Cariry é de análise bem mais fácil. Como se diz, ele tem “massa crítica” a oferecer à mais rigorosa análise. Antes de “A Praia do Fim do Mundo”, assinou cinco longas – os ficcionais “O Grão”, “Mãe e Filha”, “Clarisse” e “O Barco”, e o documentário “A Jangada de Welles” (parceria com Firmino Holanda). E já tem outra ficção em fase de montagem (“Mais Pesado é o Céu”, com Sílvia Buarque e Matheus Nachtergaele). Diretor de fotografia inspirado e com diversos trabalhos no currículo, Petrus acredita na potência da imagem e é, realmente, um nome de grande força no cinema regional brasileiro. Depois da visibilidade obtida em festivais internacionais com a jornada cearense de Orson Welles, o filho de Rosemberg Cariry começa a ampliar seu olhar pelos Brasis. O diálogo que iniciou com a atriz Sabrina Greve, prossegue agora com Nachtergaele e Buarque. Tomara que consiga bom diálogo (também) com o público.

E por falar em público, não se pode esquecer o rei das bilheterias nordestinas – Halder Gomes. Com um cinema de acentuadas marcas regionais – “Cine Holliúdy” – ele aproximou-se dos 500 mil espectadores, já na largada. Depois passou do milhão de ingressos vendidos e viu sua criação transformada em minissérie da Rede Globo (com Matheus “João Grilo” Nachtergaele no elenco). Agora receberá um Troféu Eusélio de Oliveira (criador do festival) por sua trajetória. O mesmo troféu será entregue à atriz Marta Aurélia, de grande prestígio no teatro e cinema cearenses, que interpretou a coprotagonista do longa “Milagre em Juazeiro” (a Beata Maria Araújo), ao lado do Padre Cícero do paraibano José Dumont.

Até dia 3 de dezembro, quando serão entregues os troféus Mucuripe aos melhores filmes, 40 produções de curta e longa-metragem passarão pelas telas do Cineteatro São Luiz e pelo Instituto Dragão do Mar. Serão, também, transmitidos pelo Canal Brasil e pelas plataformas dos Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo.

Brasileiros de todos os cantos do país, desde que assinantes das emissoras parceiras do festival, poderão assistir a todos os filmes. Poderão, também, assistir, no YouTube do Cine Ceará, a masterclass ministrada pelo cineasta Vicente Ferraz, diretor de “Soy Cuba, o Mamute Siberiano”, a debates e às homenagens a personalidades de nosso cinema.

No domingo, 28, segunda noite da mostra competitiva, será exibido o filme uruguaio “Bosco”, de Alicia Cano Menoni. Trata-se de documentário que passou pela IDFA, o poderoso Festival de Amsterdã, pelo Cannes Doc, pelo Festival de Málaga, na Espanha, e pelo de Trento, na Itália.

Na segunda-feira, 29, o Equador se faz representar pela ficção “Vacío”, de Paul Venegas. O filme venceu o prêmio de melhor longa no Bafici (Festival Internacional de Filmes Independentes – Buenos Aires) e participou, na Coreia do Sul, do Festival de Busan.

O segundo concorrente brasileiro, o documentário “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto, será apresentado na quarta noite (terça-feira, 30). Ele, também, participou do IDFA. E foi selecionado para os festivais de Toulouse, Biografilm (Itália) e Queer Lisboa.

Na quarta-feira, 1º de dezembro, será exibida a ficção portorriquenha (em parceria com a Colômbia) “Perfume de Gardênias”, de Macha Colón, eleito o melhor filme no Festival de Trinidad e Tobago, no Caribe. Na última noite da competição (quinta, 2), o Cine Ceará apresentará o terceiro título brasileiro, “A Praia do Fim do Mundo”, de Petrus Cariry.

A programação do festival se complementa com 12 curtas-metragens brasileiros. A mostra Olhar do Ceará, por sua vez, apresentará três longas e 13 curtas cearenses. Mesmo com a pandemia, a produção estadual não sofreu solução de continuidade.

Além dos longas de Armando Praça e Petrus Cariry, o Cine Ceará servirá de vitrine a “Minas Urbanas”, de Natália Gondim, “De uma Distância Esquizoide”, de Gabriel Silveira, e “Transversais”, de Émerson Maranhão.

Entre os curtas brasileiros, destaca-se mais um filme de… Petrus Cariry! Sob a evocação “Foi um Tempo de Poesia”, assistiremos a documentário de enxutos 13 minutos, que mostra a relação do futuro cineasta, então um menininho de calças curtas, com seu padrinho, o cego cantador e poeta popular Patativa do Assaré (1909-2002). Um filme singelo e tocante.

Outras destaques, entre os curtas, são “Sideral”, de Carlos Segundo, exibido em Cannes, Guadalajara, Telluride e Hamptons, nos EUA, e “Atos”, de Bárbara Paz, com Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira, exibido em Veneza.

Os treze curtas da mostra Olhar do Ceará serão apresentados no Cinema do Instituto Dragão do Mar. As sessões serão seguidas de debate com os realizadores, mediados por Camila Osório. Também será possível assistir aos curtas no Youtube do Cine Ceará durante todo o evento, de 27 de novembro a 3 de dezembro, e na TV Ceará, de segunda a sexta-feira, sempre às 23h30.

Os longas-metragens da Mostra Olhar do Ceará serão apresentados no Cineteatro São Luiz, sempre às 14h. A masterclass on-line de Vicente Ferraz terá como tema a “Jornada do herói e uso da dramaturgia em documentários”. Este encontro, que se dará no formato virtual, acontecerá nessa segunda-feira, 29, às 14h30, para os alunos da Rede Cucas, sistema de proteção social e oportunidades formada por três centros urbanos de cultura, arte, ciência e esporte, mantidos pela Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude.

LONGAS IBERO-AMERICANOS

. “Fortaleza Hotel”, de Armando Praça (ficção, Brasil)
. “Bosco”, de Alicia Cano Menoni (Uruguai-Itália)
. “Vacío”, de Paul Venegas (ficção, Equador)
. “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto (doc, Brasil)
. “Perfume de Gardênias”, de Macha Colón (ficção, Porto Rico-Colômbia)
. “A Praia do Fim do Mundo”, de Petrus Cariry (Brasil)

CURTAS (COMPETIÇÃO BRASILEIRA)

. “Foi um Tempo de Poesia”, de Petrus Cariry
. “Sideral”, de Carlos Segundo
. “Chão de Fábrica”, de Nina Kopko
. “Mar Concreto”, de Julia Naidin
. “Como Respirar Fora d’Água”, de Júlia Fávero e Victoria Negreiros
. “Atos”, de Bárbara Paz
. “O Durião Proibido”, de Txai Ferraz
. “Ausências”, de Antônio Fargoni
. “Encarnado”, de Otávio Almeida e Ana Clara Ribeiro
. “O Resto”, de Pedro Gonçalves Ribeiro
. “O Amigo do meu Tio”, de Renato Turnes
. “Hawalari”, de Cássio Domingos

LONGAS (MOSTRA OLHAR DO CEARÁ)

. “Transversais”, de Émerson Maranhão
. “De uma Distância Esquizoide”, de Gabriel Silveira
. “Minas Urbanas”, de Natália Gondim

CURTAS (MOSTRA OLHAR DO CEARÁ)

. Memória da Memória, de Idson Ricart
. Boi Coração, de Marcelo Alves e Angela Gurgel
. Zé Tarcísio, Testemunha, de Delano G. Queiroz
. Fôlego Vivo, da Associação dos Índios Cariris do Poço Dantas – Umari
. Arte na Palha, de Augusto Cesar dos Santos
. Saudades dos Leões, de João Paulo Magalhães
. As Aventuras de Ana e João, de Augusto Cesar dos Santos
. Sebastiana, de Cláudio Martins
. Ibiapaba, como Nascem as Montanhas, de George Alex Barbosa
. Muxarabi, de Natália Maia e Samuel Brasileiro
. Estilhaços, de Gabriela Nogueira
. 2020, de Oziel Herbert
. Entre o Passado, de Larissa Estevam

 

31° Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema
Data: 27 de novembro a 3 de dezembro
Em formato presencial, em Fortaleza, no Cineteatro São Luiz e no Cinema do Dragão. Em formato virtual, no Canal Brasil, Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo, TV Ceará e canal do Cine Ceará no YouTube.
Todas as atividades são gratuitas.
Mais informações: www.cineceara.com

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