Cinemateca Brasileira promove mostra em comemoração aos 60 Anos da SAC – Sociedade Amigos da Cinemateca

A Sociedade Amigos da Cinemateca – SAC foi fundada em 1962 com o objetivo de articular apoio dos poderes públicos e da iniciativa privada para obter os recursos materiais necessários ao desenvolvimento dos trabalhos da Cinemateca Brasileira. No núcleo desta empreitada estavam Dante Ancona Lopez, publicitário e distribuidor de filmes, Florentino Llorente e Paulo Sá Pinto, exibidores, e Rudá de Andrade, Conservador-Adjunto da Cinemateca.

A ideia havia sido lançada em 1957 por Paulo Emílio após o primeiro incêndio na Cinemateca. Ao constatar a fragilidade da instituição e analisar as relações dela com as esferas políticas e sociais e o impacto da tragédia na opinião pública, concluiu: “Se todos se agruparem numa Sociedade de Amigos da Cinemateca Brasileira será evitado um colapso cuja consequência impediria por tempo indeterminado que o nosso país continue participando do mais importante fenômeno de aprofundamento da cultura democratizada no mundo moderno: a aproximação cultural do cinema.” (Paulo Emílio Sales Gomes – A Cinemateca e os poderes, 1957)

A SAC foi constituída oficialmente em 2 de julho de 1962. Seu primeiro presidente foi Dante Ancona Lopez, que também exerceu o cargo de diretor, juntamente com Florentino Llorente, João Guilherme de Oliveira Costa e Rui Nogueira Martins. Rudá de Andrade era responsável pela orientação técnica, Jean-Claude Bernardet coordenava as publicações, enquanto Alexandre Wollner orientava a identidade gráfica.

A proposta de Dante Ancona Lopez era oferecer filmes de arte “que geram polêmica, que possuem um valor estético e apresentam um testemunho político-social”. Daí o slogan Espetáculo Polêmica Cultura, que reforçava o perfil da sala como um espaço de estímulo mais amplo à cultura cinematográfica. A partir da inauguração do Cine Coral, Dante criou o conceito de cinema de arte em São Paulo.

Para celebrar os 60 anos da fundação da SAC, a Cinemateca Brasileira organizou uma mostra dividida em três blocos, reproduzindo a prática de programação da época. Ao longo do evento, que acontecerá de 30 de junho a 10 de julho, os familiares de Dante Ancona Lopez farão a doação do acervo do empresário à instituição.

PROGRAMAÇÃO 1: GRANDES ESTREIAS NACIONAIS

Muitos dos grandes nomes do cinema brasileiro exibiram seus filmes pela primeira vez em uma das salas administradas pela SAC. A Mostra SAC vai apresentar clássicos como Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha (em cópia restaurada), Garrincha, Alegria do Povo, de Joaquim Pedro de Andrade, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos.

PROGRAMAÇÃO 2: GRANDES ESTREIAS INTERNACIONAIS

Dante Ancona Lopez trouxe filmes raríssimos de diversos países para as salas da SAC, ajudando a formar o público cinéfilo de São Paulo. A mostra contará com sessões de Faraó, de Jerzy Kawalerowicz, O Momento da Verdade, de Francesco Rosi, A Passageira, de Andrzej Munk e Witold Lesiewicz, Os Subversivos, dos irmãos Taviani, e O Crime da Aldeia Velha, de Manuel Guimarães, além de Um Cão Andaluz e o Anjo Exterminador, de Luis Buñuel, Mickey One, de Arthur Penn, Cinzas e Diamantes, de Andrzej Wajda, entre outros.

PROGRAMAÇÃO 3: FILMES EXIBIDOS NAS INAUGURAÇÕES DAS SALAS

Os cinemas e auditórios programados pela SAC desde 1962, sempre foram reconhecidos como singulares centros de formação cultural. Gerações de artistas, intelectuais e cinéfilos frequentaram esses espaços e puderam conhecer e tomar gosto pelos filmes de arte e, ao mesmo tempo, reconhecer a importância da Cinemateca Brasileira e de seu acervo-repertório na formação de uma sólida cultura cinematográfica. A Mostra SAC traz todos os filmes que foram exibidos na abertura de cada uma das salas programadas pela organização.

Cine Coral: Projetado pelo arquiteto Túlio Ficarelli, o cinema foi inaugurado em 1958, na Rua 7 de Abril, 381, com a exibição do filme Esses Maridos, de Luigi Comencini.

Cine Picolino: Inaugurado em 1955, a sala localizada na Rua Augusta 1513 (ao lado do prédio ocupado hoje pelo Espaço Itaú de Cinema), era propriedade da empresa Rilo de Cinemas e Hoteis S.A. e também integrava o circuito da Cia. Serrador. A partir de março de 1965, a Serrador e a SAC passaram a programar as atividades do Picolino. Para a inauguração dessa nova fase, foi lançado o filme italiano Os Amantes de Florença, de Carlo Lizzani, com Marcelo Mastroianni no elenco. O evento mereceu um elogioso artigo de Glauber Rocha no Diário Carioca.

Cine Scala: O Scala, localizado na rua Aurora, 720, Santa Ifigênia, foi inaugurado em 1962 com uma sessão de Ópera dos Pobres, de George W. Pabst. No ano seguinte, um incêndio destruiu suas instalações. A partir de 1965, já recuperado, passou a integrar o circuito de cinemas de arte da Cia. Serrador, acolhendo as programações da SAC, em paralelo às atividades do Cine Picolino.

Auditório do Museu de Arte de São Paulo: No final de 1962, a SAC passou a promover atividades no auditório do MASP. No início de 1963, foram feitas reformas nas instalações e adequação das cabines de projeção. Em março, na solenidade que marcou o início das atividades da SAC no Museu, foi apresentado o filme Harakiri, de Masaki Kobayashi, que um mês depois seria exibido em Cannes como representante oficial do Japão.

Belas Artes: Em 14 de julho de 1967, foi inaugurado o Cine Belas Artes, com a exibição da comédia Os russos estão chegando! Os russos estão chegando!, dirigido por Norman Jewison, indicado a quatro categorias do Oscar e ganhador do Globo de Ouro de melhor comédia. A pretensão inicial era exibir um filme de autor, mas a Serrador preferiu obra mais comercial para a inauguração. Além de programações comerciais e das sessões especiais transferidas do Picolino, o Belas Artes acolheu outras manifestações artísticas (apresentações musicais, peças teatrais e exposições), buscando se tornar um “verdadeiro centro de cultura”. O lema Espetáculo Polêmica Cultura foi incorporado à marca do novo cinema.

Sala Cinemateca: Por oito anos, a Sala Cinemateca ocupou o espaço do antigo Cine Fiametta, na rua Fradique Coutinho (atual Cinesala). Em sua inauguração, foi exibida a versão restaurada de A paixão de Joana D’Arc, de Carl Theodor Dreyer, mesma obra projetada à época da inauguração da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo (embrião da Cinemateca Brasileira). O filme integrava o ciclo inaugural da sala, intitulado Cinemateca 40 anos, composto por obras expressivas do acervo da instituição.

 

Mostra Espetáculo Polêmica Cultura
Data: 30 de junho a 10 de julho
Local: Cinemateca Brasileira | Sala Grande Otelo (210 lugares + 04 assentos para cadeirantes) – Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana
Ingressos gratuitos e distribuídos uma hora antes de cada sessão

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