Animação “Meu Tio José” conta a história familiar de um ex-guerrilheiro

O longa “Meu Tio José”, animação baseada em fatos reais que conta a história familiar de um ex-guerrilheiro assassinado na ditadura, tem estreia nacional marcada para o dia 27 de outubro no circuito independente, em 14 capitais brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Salvador, Maceió, Recife, Fortaleza, João Pessoa, Teresina, Palmas, Manaus e Porto Alegre.

A animação conta com as vozes de atores consagrados como Wagner Moura, Tonico Pereira e Lorena Comparato. Escrito e dirigido por Ducca Rios, com produção executiva de Maria Luiza Barros e distribuição no Brasil da Tucuman, o filme conta, sob o olhar de uma criança, Adonias, o assassinato de José Sebastião de Moura, tio de Ducca e membro do grupo de esquerda “Dissidência da Guanabara”, que participou do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969.

“É uma obra importante, cíclica. Começa num golpe e vai ser lançada durante um outro golpe. Ela toca as pessoas porque faz essa revisita, lembrando esse evento trágico da minha infância, que remete a tantas lembranças com ele. Quando meu tio foi assassinado, eu tinha apenas dez anos de idade, foi um choque para mim e toda a família. A partir dali, comecei a entender o que é uma ditadura militar e esse filme é a minha resposta para uma realidade bruta que nos deixou cicatrizes”, destaca o diretor, que completa: “Foi meu tio que me ensinou a nadar, ele brincava muito comigo e com meu irmão”, conta. Aliando essas boas memórias afetivas ao trabalho com cinema, Ducca decidiu homenageá-lo com seu primeiro longa-metragem chamando atenção para um crime até hoje sem resposta. “Tem muita coisa ficcional, usando a simbologia da época, como o próprio ato de ilustrar, de fazer um filme todo desenhado a mão, mas boa parte é baseada em fatos reais”, revela.

Historicamente, José permaneceu exilado durante dez anos, antes de retornar ao Brasil, onde foi morto em um crime com evidências fortes de motivação político-ideológica e que permanece sem solução. Na trama, o conflito principal se dá a partir de uma redação que Adonias tem que escrever na escola, mesmo dia em que seu tio sofre o atentado, em 1983, sendo depois levado ao hospital em estado grave. Daí em diante, Adonias tem que lidar com a tristeza de sua família, com as desavenças na escola e com a angústia de ter que cumprir a tarefa pedida pela professora.

De acordo com Ducca, a classificação 14 anos do filme também simboliza a oportunidade de conversar com o público jovem sobre momentos relevantes da história e estimular a importância de exercer a cidadania desde cedo.

Nas vozes dos personagens, Wagner Moura representa José. Já Lorena Comparato empresta sua voz à professora Adriana, enquanto Tonico Pereira tem sua voz ligada ao diretor da escola. A trilha sonora conta com cinco canções de Chico Buarque, com uma roupagem rock’n roll e em versões totalmente instrumentais: Roda Viva, Construção, Deus lhe pague, O que será, porém, e Apesar de você, única com voz, interpretada por Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado.

O filme “Meu Tio José”, recentemente, recebeu o prêmio de melhor longa em animação no Festival Seattle Film Festival (USA), além de participar e receber uma menção honrosa na BIFF – Festival Internacional de Cinema de Brasília. Também foi um dos finalistas na categoria Contrechamp, em 2021, no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, o maior e mais importante festival de animação do mundo, finalista no Prêmio Quirino, em 2022, maior honraria do cinema de animação ibero-americano, estreou no Brasil na Mostra Internacional de São Paulo, em 2021, e foi finalista no Festival do Rio, em 2021. O filme também fez parte da seleção oficial de mais de 20 festivais, entre nacionais e internacionais, e ganhou, até o momento, cinco prêmios nos festivais FICIMAD (Madrid), VIFF (Vancouver), Animation Studio (Paris), Festival Seattle Film Festival e BIFF (Brasília).

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