Goya espanhol assistirá a duelo entre “As Bestas” e “Alcarràs”
Por Maria do Rosário Caetano
A noite dos Goya, agendada para este sábado, 11 de fevereiro, em Sevilla, deve assistir a um verdadeiro duelo entre “Alcarràs” (foto acima), de Carla Simón, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, e “As Bestas”, de Rodrigo Sorogoyen (17 indicações), que Catherine Deneuve definiu como um dos filmes contemporâneos que mais a impactaram.
Completam a lista de concorrentes a melhor filme, os longas-metragens ficcionais “Cinco Lobitos”, de Alauda Ruiz de Azua, “La Maternal”, de Pilar Romero, e “Modelo 77”, de Alberto Rodríguez.
O “Oscar espanhol” ou “cabeçudo” (o troféu reproduz imensa cabeça de Francisco de Goya, o gênio da pintura) não terá, nesta que é sua trigésima-sétima edição, nenhum filme de Pedro Almodóvar, o mais famoso dos cineastas do país. Nem os astros Antonio Banderas e Javier Bardem entre os concorrentes. Só Penélope Cruz disputa o modesto troféu de melhor atriz coadjuvante, por “ En Los Márgenes”. Em compensação, o “cabeçudo” contará com a melhor safra do cinema da Espanha, em décadas.
Para começo de conversa, há que se relembrar que o excelente e sólido “Alcarràs” triunfou em Berlim (um dos três maiores festivais do mundo, junto com Cannes e Veneza). E que o país de Buñuel viu outros filmes selecionados para importantes mostras internacionais.
Um dos títulos desses anos que viram brotar safra tão privilegiada – “O Bom Patrão”, da dupla Fernando León de Aranoa e Javier Bardem – venceu o Goya 2022. Agora, chega esta nova safra, que o influente jornal El País, de Madri, festeja como inovadora e rejuvenescida, da produção à realização.
A França vai brilhar na noite dos Goya (sim, dos Goya, e claro, duas semanas depois, em 24 de fevereiro, com a cerimônia do Cesar).
E porque o país vizinho praticamente dividirá as glórias com a Espanha?
Primeiro, porque “As Bestas” tem dois protagonistas franceses – o gordo Denis Ménochet, de “Peter Von Kant”, e Marine Foïs, de “Enorme”, “Salamandra” e “A Sindicalista”. E uma coadjuvante, Marie Colomb (de “Os Magnéticos”).
Denis e Marine interpretam dois intelectuais, amantes da vida natural, que vão morar em região rural da Galícia e entram em confronto com os habitantes locais. Trata-se de gente atavicamente ligada à terra e a costumes intolerantes e violentos. Marie Colomb interpreta a filha do casal estrangeiro, que tanto incômodo traz aos nativos.
Segundo, porque a grande homenageada desse ano será a atriz francesa Juliette Binoche. Ano passado foi Cate Blanchett, que seduzia Pedro Almodóvar para que ele a dirigisse no longa-metragem “Manual da Faxineira”. Depois de festejar a estrela anglo-saxã, o manchego desistiu do filme, por sentir-se “incapaz de fazê-lo”.
E, por fim, o país de Renoir e Godard marca presença no Goya como um dos cinco finalistas na categoria “melhor filme europeu”, com o vigoroso “Ilusões Perdidas”, de Xavier Giannoli, no qual brilham Gérard Depardieu (embora em papel pequeno), Vincent Lacoste, Cécile de France, Jeanne Balibar e Xavier Dolan.
O Goya não premia a categoria filme internacional, tão disputada no Oscar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha preferiu subdividir os filmes realizados fora do país em “melhor produção ibero-americana” (países de fala hispânica e portuguesa, mas sempre deixa o Brasil e Portugal a ver navios) e melhor filme europeu.
Este ano, a Espanha entregará um Goya de Honor a um de seus cineastas mais conhecidos no mundo – Carlos Saura, de 91 anos, autor de filmes como “Cria Cuervos”, “Ana e os Lobos”, “Mamãe Faz 100 Anos”, “Bodas de Sangue”, “Carmen” e “Ay Carmela”.
Detalhe: o Goya (Saura dedicou um filme, em 1999, ao gênio da pintura espanhola) não está premiando um velhinho aposentado. Saura continua trabalhando, sem descanso. Depois de realizar filmes sobre o “Flamenco”, o “Fado”, o “Tango” e outros gêneros musicais de grande força telúrica, ele acaba de dirigir o curta “Rosa Rosae – Uma Elegia à Guerra Civil Espanhola”.
Abaixo, a lista de concorrentes ao Goya número 37. Notem a quantidade de mulheres-diretoras com filmes indicados em categorias muito disputadas. Na principal, três filmes são comandados por nomes femininos. Sobram dois para os varões.
Na categoria “diretor estreante”, elas repetem o placar: três a dois. O mesmo se dá no longa documental. E veem com a experiente Isabel Coixet, de tantas ficções, dispostas a enfrentar o grande realizador Fernando León de Aranoa, de “Lunes al Sol” e “O Bom Patrão”, vencedor do ano passado na categoria melhor filme
MELHOR FILME
. “Alcarràs”, de Carla Simón
. “As Bestas”, de Rodrigo Sorogoyen
. “Cinco Lobitos”, de Alauda Ruiz de Azua
. “La Maternal”, de Pilar Romero
. “Modelo 77”, de Alberto Rodríguez
MELHOR DOCUMENTÁRIO
. “Las Mujeres de España”, de Maria Lejárraga
. “El Techo Amarillo” (El Sostre Goc), de Isabel Coixet
. “Laborde, un Hombre Sin Más”, de Paula Laborde e Gaizka Urresti
. “Sientiéndolo Mucho”, de Fernando León de Aranoa
. “Oswald, El Falsificador”, de Kike Maíllo
MELHOR ANIMAÇÃO
. “As Aventuras de Tadeo e a Tábua da Esmeralda”
. “Los Demonios de Barro”
. “Black is Beltza II: Ainhoa”
. “Unicorn Wars”
. “Inspector Sun y la Maldición de la Viuda Negra”
MELHOR FILME IBERO-AMERICANO
. “Argentina 1985”, de Santiago Mitre (Argentina)
. “Noites de Fogo”, de Tatiana Huezo (México)
. “La Jauría”, de Andrés Jamirez Pulido (Colômbia)
. “Utama”, de Alejandro Loayza Grisi (Bolívia)
. “1976 – Um Segredo na Ditadura”, de Manuela Martelli (Chile)
MELHOR FILME EUROPEU
. “Ilusões Perdidas”, de Xavier Giannoli (França)
. “A Mão de Deus”, de Paolo Sorrentino (Itália)
. “A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim Trier (Noruega)
. “Un Pequeño Mundo” (Playground), de Laura Wandel (Bélgica)
. “Belfast”, de Kenneth Branagh (Irlanda, Inglaterra)
MELHOR DIREÇÃO
. Carla Simón, por Alcarràs
. Rodrigo Sorogoyen, por As Bestas
. Pilar Palomero, por La Maternal
. Carlos Vermut, por Mantícora
. Alberto Rodríguez, por Modelo 77
MELHOR ATRIZ
. Marina Foïs (As Beastas)
. Laia Costa (Cinco Lobitos)
. Anna Castillo (Girasoles Silvestres)
. Barbara Lennie (As Linhas Tortas de Deus)
. Vicky Lengo (Suro)
MELHOR ATOR
. Denis Ménochet (As Bestas)
. Luis Tosar (En Los Márgenes)
. Miguel Herán (Modelo 77)
. Javier Gutiérrez (Modelo 77)
. Nacho Sánchez (Mantícora)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
. Marie Colomb (As Bestas)
. Penélope Cruz (En los Márgenes)
. Carmen Machi (Cerdita)
. Susi Sánchez (Cinco Lobitos)
. Angela Cervantes (La Maternal)
MELHOR ATOR COADJUVANTE
. Luiz Zahera (As Bestas)
. Diego Anido (As Bestas)
. Jesus Carroza (Modelo 77)
. Fernando Tejero (Modelo 77)
. Ramón Barea (Cinco Lobitos)
MELHOR ATRIZ REVELAÇÃO
. Ana Otín (Alcarràs)
. Zoe Stein (Mantícora)
. Laura Galán (Cerdota)
. Luna Pamies (El Agua)
. Valeria Sorolla (La Consagración de la Primavera)
MELHOR ATOR REVELAÇÃO
. Albert Bosch (Alcarràs)
. Jordi Pujol Dolcet (Alcarràs)
. Telmo Irureta (La Consagración de la Primavera)
. Mikel Bustamante (Cinco lobitos)
. Christian Cheka (En los Márgenes)
MELHOR DIREÇÃO ESTREANTE
. Alauda Ruiz de Azua (Cinco Lobitos)
. Carlota Pereda (Cerdita)
. Elena López Riera (El Agua)
. Juna Diego Botto (En los Márgenes)
. Mikel Gurrea (Suro)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
. Carla Simón e Aranu Vilaró (“Alcarràs”)
. Rodrigo Sorogoyen e Isabel Peña (“As Bestas”)
. Alauda Ruiz de Azua (“Cinco Lobitos”)
. Carlos Vermut (“Mantícora”)
. Alberto Rodríguez e Rafael Cobos (“Modelo 77”)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
. Carlota Pereda (“Cerdita”)
. Guillen Clua e Oriol Paulo (“Linhas Tortas de Deus”)
. Fran Araújo, Isa Campos e Isaki Lakuseta (“Un Año, Una Noche”)
. Paul Urkijo Alijo (“Irati”)
. David Muñoz e Félix Viscarret (No Mires a los Ojos”)
MELHOR FOTOGRAFIA
. “Alcarràs”
. “As Bestas”
. “Cinco Lobitos”
. “Modelo 77”
. “Concorrência Oficial”
MELHOR MONTAGEM
. “Alcarràs”
. “As Bestas”
. “Cinco Lobitos”
. “Modelo 77”
. “Un Año, Una Noche”
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
. “Alcarràs”
. “As Bestas”
. “Modelo 77”
. As Linhas Tortas de Deus”
. “A Piedade”
MELHOR FIGURINO
. “As Bestas”
. “Irati”
. “Modelo 77”
. “Bastardoz”
. “A Piedade”
. “As Linhas Tortas de Deus”
MELHOR TRILHA SONORA
. “As Bestas”
. “Irati”
. “As Garotas de Cristal”
. “Modelo 77”
. “As Linhas Tortas de Deus”
MELHOR DIREÇÃO DE PRODUÇÃO
. “Alcarràs”
. “As Bestas”
. “Cerdita”
. “Modelo 77”
. “Cinco Lobitos”
MELHOR SOM
. “Alcarràs”
. “As Bestas”
. “Cinco Lobitos”
. “Modelo 77”
. “Un Año, Una Noche”