O Darín movie “Argentina, 1985” é o recordista nos Prêmios Platino

Por Maria do Rosário Caetano

O Darín movie “Argentina, 1985” (foto acima), longa político-judicial de Santiago Mitre, assumiu liderança absoluta na lista de finalistas à décima edição dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-Americano, a serem entregues em Madri, no próximo 22 de abril, com transmissão pelo Canal Brasil.

Três filmes dividiram o segundo lugar em número de indicações (seis cada um) – os espanhóis “As Bestas”, de Rodrigo Sorogoyen, grande vencedor do Goya e do César de melhor filme estrangeiro, e “Canção de Ninar”, de Alauda Ruiz de Azúa, e o mexicano “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, de Alejandro Gonzalo Iñarritu, postulante ao Oscar de melhor fotografia.

Outra produção espanhola, “Alcarràs”, de Carla Simón, vencedor do Festival de Berlim 2022, recebeu apenas três indicações, mas todas de peso (melhor filme, direção e fotografia). O que demonstra que o longa catalão não está fora do páreo. Por dialogar organicamente com o cinema documentário, seu elenco não traz nomes estelares do teatro ou cinema. Daí, nenhum deles foi indicado ao Goya, nem ao Platino (são os chamados atores “naturais”). Seus figurinos são também vestimentas do dia-a-dia. E os cenários, as plantações de pêssego da Catalunha. Por isso, o filme não costuma figurar como recordista em listas de indicados.

“Alcarràs” era o segundo filme mais cotado para triunfar no Goya. E, mesmo tendo vencido o Urso de Ouro no Festival de Berlim, saiu de mãos abanando. E jogando em casa. Perdeu para um peso-pesado, “Las Bestias”, uma maravilha, prova do momento vigoroso vivido pelo cinema da pátria de Buñuel-Erice-Saura-e-Almodóvar. Os catalães detectaram “catalonofobia” no voto dos acadêmicos. O clima esquentou. Acontecerá o mesmo (e outra vez) em solo espanhol?

“Alcarràs”, de Carla Simón

O fato de “Argentina, 1985” ter quase três vezes mais indicações que os demais concorrentes não significa que já esteja eleito. Seu tema é essencial, importante e mobilizador: o julgamento e encarceramento dos militares que torturaram e mataram milhares de opositores no país platino, depois do golpe de Estado de 1976, responsável por brutal ditadura. O roteiro é bem-urdido, o elenco, dos mais competentes, mas o filme tem dramaturgia e mise-en-scène clássicas. Já “As Bestas” e “Alcarràs” exalam frescor e ousadia.

O quarto candidato, a comédia dramática autobiográfica “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, do mexicano Alejandro G. Iñarritu, deve vencer a recém-criada categoria de melhor comédia. Afinal, é bem melhor que seus três concorrentes – o espanhol “Concorrência Oficial”, dirigido pelos argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn, com Penélope Cruz, Antonio Banderas e Oscar Martínez, o chileno “Desconectados”, de Diego Rougier, e o argentino “Granizo”, de Marcos Carnevale, com o astro cômico Guillermo Francella.

Iñarritu, que em agosto fará 60 anos, é um cineasta amado ou odiado, sem meio termo. Diretor de “Amores Perros” e do oscarizado “Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância)”, ele resolveu empreender acerto de contas com sua longa (e conturbada) relação com os EUA, país onde nasceram e cresceram seus filhos e onde ele tornou-se figura carimbada nas festas do Oscar (com — além de “Birdman” — “Biutful” e “O Regresso”. Este lhe rendeu a estatueta de melhor diretor). O resultado é um filme convulsivo, desigual e arrebatador. Mesmo assim – ou por isso –, foi esnobado até pelo Oscar de melhor filme internacional, apesar de indicado pelo México. Só pescou melhor fotografia. Mas no Platino, se deu bem muito bem.

“Bardo – Falsa Crônica de Algumas Verdades”, de Alejandro González Iñárritu

Quem se deu mal, mas muito mal, foi o Brasil. Zero indicação. Algo semelhante só aconteceu em 2016, na edição que teve Punta del Este, balneário uruguaio, como cenário. O Brasil dispunha de um pré-candidato fortíssimo, “Que Horas Ela Volta?”, de Ana Muylaert. Mas o colegiado de votantes mobilizado pela Egeda (Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais), Fipca (Federação Ibero-Americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais), e parceiros o ignoraram. Para consertar o vacilo, criaram de última hora o Prêmio de Educação em Valores. Ou seja, um láurea para filmes ligados à Cidadania e aos Direitos Humanos. A produção brasileira ganhou e a láurea foi entregue pela guatemalteca Rigoberta Menchu, Prêmio Nobel da Paz. Ana Muylaert não compareceu e se fez representar pela atriz Karine Teles. Para este ano de 2023 não existe plano B. Brasil e Portugal, ou seja, o mundo lusitano foram mesmo escanteados.

É verdade que a história do Platino é hispânica. Espanhola e hispano-americana. A maioria absoluta dos jurados fala castelhano. O Brasil acumula pouquíssimos  prêmios. Em categorias importantes, de chofre, só é possível  lembrar um título 100% brasileiro – melhor animação para “O Menino e Mundo”, de Alê Abreu, e um digamos, 50% brasileiro – melhor documentário para “O Sal da Terra”, de Wim Wenders e Juliano Salgado (sobre o fotógrafo Sebastião Salgado). Houve um Platino de Honor para Sônia Braga, na primeira edição, no Panamá. Mas raramente se ouve português no palco das cerimônias platinadas.

Os Prêmio Platino têm se dedicado, nos últimos anos, a laurear, também, séries de TV. Nesta edição, duas delas chamaram relativa atenção no Brasil (também ausente da competição no formato): “Notícia de um Sequestro”, produzida pelos cineastas Andrés Wood e Rodrigo García. O primeiro, diretor dos filmes “Machuca” e “Violeta Foi para o Céu”, o segundo, filho de Gabriel García Márquez. Aliás, um livro-reportagem do Prêmio Nobel colombiano serviu de matriz à narrativa televisiva. A série aborda as consequências do narcotráfico na vida do país latino-americano. A outra série também parte de obra literária, “Santa Evita”, de Tomás Eloy Martínez. E vem da Argentina.

Abaixo, os concorrentes aos Prêmios Platino:

Melhor filme

. As Bestas, de Rodrigo Sorogoyen (Espanha)
. Alcarràs, de Carla Simón (Espanha)
. Argentina,1985, de Santiago Mitre (Argentina)
. Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, de Alejandro Gonzalez Iñarritu (México).

Melhor Comédia

. Concorrência Oficial, de Gastón Duprat e Mariano Cohn (Argentina)
. Granizo, de Marcos Carnevale (Argentina).
. Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, Alejandro Gonzalez Iñarritu (México)
. Desconectados, de Diego Rougier (Chile)

Melhor Direção

. Carla Simón (Alcarràs)
. Rodrigo Sorogoyen (As Bestas)
. Alejandro Gonzalo Iñárritu (Bardo)
. Santiago Mitre (Argentina,1985).

Melhor Atriz

. Aline Küppeheim (1976: Um Segredo da Ditadura – Chile)
. Antonia Zegers (El Castigo, Chile)
. Laia Costa (Canção de Ninar-Cinco Lobitos – Espanha)
. Laura Galán (Cerdita, Espanha)
. Magnólia Núñez (Carajita, República Dominicana)

Melhor Ator

. Daniel Giménez Cacho (Bardo – México)
. Luis Tosar (En Los Márgenes, Espanha)
. Peter Lanzani (Argentina, 1985)
. Ricardo Darín (Argentina, 1985)

Melhor Atriz Coadjuvante

. Penélope Cruz (En Los Márgenes – Espanha)
. Alejandra Fletcher (Argentina, 1895)
. Carmen Machi (Cerdita – Espanha)
. Susi Sánchez (Canção de Ninar-Cinco Lobitos – Espanha)

Melhor Ator Coadjuvante

. Carlos Portaluppi (Argentina 1985)
. Norman Briski (Argentina, 1985)
. Luis Zahera (As Bestas)
. Ramón Barea (Canção de Ninar -Cinco Lobitos)

Melhor Música Original

. Aránzazu Calleja (Canção de Ninar-Cinco Lobitos)
. Cergio Prudencio (Utama)
. Pedro Osuna (Argentina, 1985)
. Leonardo Heiblum & Alexis Ruíz (Los Reyes del Mundo)

Melhor Roteiro

. Alejandro Iñárritu & Nicolás Giacobone (Bardo)
. Isabel Peña & Rodrigo Sorogiyen (As Bestas)
. Manuela Martelli & Alejandra Moffat (1976)
. Mariano Llinás & Santiago Mitre (Argentina, 1985)

Melhor Montagem

. Alberto Campos (As Bestas)
. André Pepe Estrada (Argentina, 1985)
. José M. G, Moyano (Modelo 77, Espanha)
. Sebastián Hernández & Gustavo Vasco (Los Reyes del Mundo – Colômbia).

Melhor Direção de Arte

. Eugenio Caballero (Bardo)
. Francisca Correa (1976 – Chile)
. Micaela Saiegh (Argentina, 1985);
. Pepe Dominguez del Olmo (Modelo 77 – Espanha).

Melhor Fotografia

. Bárbara Álvarez (Utama – Bolívia)
. Daniela Cajías (Alcarràs – Espanha)
. David Gallego (Los Reyes del Mundo – Colômbia)
. Javier Juliá (Argentina 1985)

Melhor Edição de Som

. Aitor Berenguer, Fabiola Ordoyo, Yasmina Praderas (As Bestas)
. Carlos García (Los Reyes del Mundo – Colômbia)
. Federico Moreira (Utama – Bolívia)
. Santiago Fumagalli (Argentina, 1985).

Melhor Animação

. Águila y Jaguar: Los Guerreros Legendários (México)
. Tadeo Jones 3: La Tabla Esmeralda (Espanha)
. Unicorn Wars (Espanha)
. El Paraíso (Argentina)

Melhor Documentário

. Eami, de Paz Encina (Paraguai),
. Mi País Imaginario, de Patricio Guzmán (Chile)
. Bosco, de Alicia Cano Menoni (Uruguai)
. El Caso Padilla, de Pavel Giroud (Cuba)
. El Silencio del Topo, de Anaïs Taracena (Guatemala)

Melhor filme de diretor estreante

. Utama, de Alejandro Loayza Grisi (Bolívia)
. Canção de Ninar – Cinco Lobitos, de Alauda Ruiz de Azúa (Espanha)
. La Hija de Todas Las Rabias, de Laura Baumeister (Nicaragua)
. La Jauría, de Andrés Ramirez Pulido (Colômbia)
.1976: Um Segredo da Ditadura, de Laura Martelli (Chile)

Prêmio de Educação em Valores

. El Suplente, de Diego Lerman (Argentina)
. Utama, de Alejandro Loayza Grisi (Bolívia)
. Argentina, 1985, de Santiago Mitre (Argentina)
. Canção de Ninar – Cinco Lobitos, de Alauda Ruiz de Azúa (Espanha)

Melhor Minissérie

. Noticia de un Secuestro (Colômbia)
. Santa Evita (Argentina)
. El Encargado (Argentina)
. Iosi, El Espía Arrepentido (Argentina)

Melhor interpretação feminina (minissérie)

. Natalia Oreiro (Santa Evita) – Argentina
. Cristina Umaña (Noticia de un Secuestro) – Colômbia . Paulina Gaitán (Belascoarán) – México
. Claudia di Girolamo (42 Días en la Oscuridad) – Chile

Melhor interpretação Masculina (minissérie)

. Juan Pablo Raba (Noticia de un Secuestro) – Colômbia
. Daniel Giménez Cacho (Un Extraño Enemigo) – México
. Guillermo Francella (El Encargado) – Argentina
. Juan Diego Botto (No Me Gusta Conducir) – Espanha

Melhor atriz coadjuvante (minissérie)

. Amparo Noguera (42 Días en la Oscuridad) – Chile
. Leonor Watling (No Me Gusta Conducir) – Espanha
. Majoda Issa (Noticia de un Secuestro) – Colômbia
. Verónica Echegui (Intimidad)- Espanha

Melhor ator coadjuvante (minissérie)

. Rodrigo Celis (Noticia de un Secuestro) – Colômbia
. Alejandro Awada (Iosí, El Espía Arrepentido)
. Andrés Parra (Belascoarán)
. David Lorente (No Me Gusta Conducir)- Espanha

Melhor Criador de Minissérie

. Andrés Wood & Rodrigo García (Noticia de un Secuestro) – Colômbia-Chile
. Daniel Burman (Iosi, El Espía Arrepentido) – Argentina
. Leonardo Patron (Pálpito) – Colômbia
. Mariano Cohn & Gastón Duprat (El Encargado) – Argentina

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