Marco Bellocchio é o grande favorito na festa dos Prêmios David di Donatello com “Noite Exterior”

Por Maria do Rosário Caetano

“Noite Exterior” (foto, Esterno Notte), o épico de Marco Bellocchio sobre o assassinato de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, é o recordista de indicações ao Prêmio David di Donatello, que será entregue em Roma, na próxima quarta-feira, 10 de maio. Na sexagésima-oitava edição de uma das láureas mais antigas do mundo, Bellocchio enfrentará “As Oito Montanhas”, de Groeningen e Vandermeersh, e “La Stranezza”, de Roberto Andò, cada um com 14 indicações, “Nostalgia”, de Mário Martone, com o astro Pierfrancesco Favino (dessa vez esnobado) e “Il Signore delle Formiche”, de Gianni Amelio, autor do clássico “Ladrão de Crianças”.

Na categoria atores, a que esnobou Favino, o “Traidor” Tommaso Buscetta do próprio Bellocchio, a Academia italiana preferiu apostar em nomes menos estelares, embora dois deles sejam conhecidos entre cinéfilos brasileiros — Luigi Lo Cascio (Il Signore della Formiche) e Lucas Marinelli (As Oito Montanha). O jovem Marinelli foi premiado em Veneza 2019, com bela recriação de Jack London e seu seminal “Martin Eden”, empreendida por Pietro Marcello.

Na categoria melhor atriz, nomes novos se somam a duas estrelas experientes: a italiana Margherita Buy, soberba em “Noite Exterior”, de Bellocchio, e a espanhola Penélope Cruz, protagonista de “L’Immensità”, de Emanuele Crialese. A trama une Clara (Penélope) a Felipe (Vicente Amayo), na Roma da década de 1970. Os dois, que se mudaram para novo apartamento, estão com o casamento destroçado. Mas a criação dos filhos pequenos os obriga a estarem juntos, mesmo que não queiram. Adriana, a filha mais velha, acaba de completar 12 anos e é a testemunha mais próxima dos desentendimentos dos pais. Ela rejeita seu nome e seu gênero.

O cinema italiano, que viveu momentos de grande repercussão no Brasil — em especial com os filmes Neo-Realistas, com as comédias de costumes setentistas e com a gloriosa era Fellini — anda em baixa. Raros são os filmes peninsulares lançados em nosso circuito comercial. Da safra do sexagésimo-oitavo David di Donatello só um título — “O Colibri”, protagonizado por Pierfrancesco Favino — passou por nosso circuito de arte. O imenso (quatro horas de duração), poderoso e arrebatador “Noite Exterior”, de Bellocchio, causou frisson na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e conquistou o Prêmio da Crítica. Mas ainda não é certo se chegará ao nosso circuito exibidor ou se irá direto para o streaming. Qual, não sabemos precisar.

Se a presença feminina é diminuta entre os filmes da categoria principal (só Charlotte Vandermeersh divide a direção de “As Oito Montanhas” com Felix von Groeningen), na categoria diretor estreante, as mulheres são maioria: três a dois. E entre elas está a atriz Jasmine Trinca, com “Marcel!”.

Na categoria documentário, um nome festejadíssimo — o de Gianfranco Rosi, vencedor de Veneza com “Sacro GRA”. Ele enfrenta quatro concorrentes com “In Viaggio”.

Os italianos andam tão fixados nos EUA, que viraram as costas para o cinema europeu (e olha que o país peninsular faz parte da União Europeia), asiático e latino-americano. Sem nenhum pudor. Dos cinco concorrentes a melhor longa estrangeiro, praticamente todos falam inglês. Quatro, na totalidade: “Os Fabelmans”, de Spielberg, “Elvis”, de Baz Luhrmann, “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson, e “Até os Ossos”, de Luca Guadagnino. O único europeu —  o sueco “Triângulo da Tristeza” — é falado em parte em inglês, pois passa-se num transatlântico e tem que, obrigatoriamente, recorrer ao “esperanto” do mundo moderno. Ou seja, à língua de Hollywood.

Confira os indicados:

Melhor filme

Noite Exterior, de Marco Bellochio
Il Signore delle Formiche, de Gianni Amelio
La Stranezza, de Roberto Andò
As Oito Montanhas, de Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersh
Nostalgia, de Mário Martone

Melhor direção

Marco Bellocchio (Noite Exterior)
Gianni Amelio (Il Signore delle Formiche)
Roberto Andò (La Stranezza)
Felix Van Groeningen e Charlotte Vandermeersh (As Oito Montanhas)
Mario Martone (Nostalgia)

Melhor diretor estreante

Carolina Cavalli (Amanda)
Jasmine Trinca (Marcel!)
Niccolò Falsetti (Margini)
Giulia Louise Steigerwalt (Settembre)
Vincenzo Pirrotta (Spaccaossa)

Melhor produção

Noite Exterior (Lorenzo Mieli, Simone Gattoni)
La Stranezza (Angelo Barbagallo, Attilio De Razza)
As Oito Montanhas (Wildside, Rufus, Menuetto, Pyramide Productions, Vision Distribution, Elastic, Canal+, Ciné+, Sky)
Nostalgia (Medusa Film, Maria Carolina Terzi, Luciano e Carlo Stella, Roberto Sessa, Angelo Laudisa)
Princess (Carla Altieri, Roberto De Paolis, Nicola Giuliano, Francesca Cima, Carlotta Calori, Viola Prestieri, Rai Cinema).

Melhor ator (protagonista)

Fabrizio Gifuni – Noite Exterior
Luigi Lo Cascio – Il Signore delle Formiche
Ficarra e Picone – La Stranezza
Alessandro Borghi – As Oito Montanhas
Luca Marinelli – As Oito Montanhas

Melhor atriz (protagonista)

Benedetta Porcaroli – Amanda
Margherita Buy – Noite Exterior
Penelope Cruz – L’Immensità
Barbara Ronchi – Settembre
Claudia Pandolfi – Siccità

Melhor atriz coadjuvante

Giovanna Mezzogiorno – Amanda
Daniela Marra – Noite Exterior
Giulia Andò – La Stranezza
Aurora Quattrocchi – Nostalgia
Emanuela Fanelli – Siccità

Melhor roteiro original

Astolfo (Gianni Di Gregorio, Marco Pettenello)
Chiara (Susanna Nicchiarelli)
Noite Exterior (Marco Bellocchio, Stefano Bises, Ludovica Rampoldi, Davide Serino)
Il Signore delle Formiche (Gianni Amelio, Edoardo Petti, Federico Fava)
L’Immensità (Emanuele Crialese, Francesca Manieri, Vittorio Moroni)
La Stranezza (Roberto Andò, Ugo Chiti, Massimo Gaudioso)

Melhor roteiro adaptado

Bentu (Salvatore Mereu)
Brado (Massimo Gaudioso, Kim Rossi Stuart)
O Colibri (Francesca Archibugi, Laura Paolucci, Francesco Piccolo)
As Oito Montanhas (Felix Van Groeningen, Charlotte Vandermeersh)
Nostalgia (Mario Martone, Ippolita Di Majo)

Melhor cenografia

Noite Exterior: Andrea Castorina, Marco Martucci, Laura Casalini
Il Signore delle Formiche: Marta Maffucci, Carolina Ferrara
L’Ombra di Caravaggio: Tonino Zera, Maria Grazia Schirippa, Marco Bagnoli
La Stranezza: Giada Calabria, Loredana Raffi
As Oito Montanhas: Massimiliano Novente, Marcella Galeone

Melhor trilha sonora

Noite Exterior: Fabio Massimo Capogrosso
Il Pataffio: Stefano Bollani
La Stranezza: Michele Braga, Emanuele Bossi
As Oito Montanhas: Daniel Norgren
Siccità: Franco Piersanti

Melhor canção original

Diabolik: Ginko all’Attacco! Se mi Vuoi: Diodato
O Colibri: Caro Amore Lontanissimo: Sergio Endrigo, Riccardo Senigallia, Marco Mengoni
Il Pataffio: Culi Culilagni: Stefano Bollani, Luigi Malerba
Margini La Palude: Niccolò Falsetti, Giacomo Pieri, Alessio Riccioti, Francesco Turbanti, Emanuele Linfatti, Matteo Creantini
Ti Mangio il Cuore Proiettili (Ti Manglio Il Cuore): Joan Thiele, Elisa Toffi, Emanuele Triglia, Elodie, Joan Thiel

Melhor fotografia

Noite Exterior: Francesco di Giacomo
I Racconti della Domenica: La Storia di un Uomo Perbene: Giovanni Mammolotti
La Stranezza: Maurizio Calvesi
As Oito Montanhas: Ruben Impens
Nostalgia: Paolo Carnera

Melhor maquiagem

Dante: Federico Laurenti , trucagem especial e make-up Lorenzo Tamburini
Noite Exterior: Enrico Iacoponi
O Colibri: Paola Gattabrusi, trucagem  especial e make-up Lorenzo Tamburini
Il Signore delle Formiche: Esmé Sciaroni
L’Ombra di Caravaggio: Luigi Rocchetti

Melhor figurino

Chiara: Massimo Cantini Parrini
Noite Exterior: Daria Calvelli
Il Siggnore delle Formiche: Valentina Monticelli
L’Ombra di Caravaggio: Carlo Pogglioli
La Stranezza: Maria Rita Barbera

Melhores penteados

Noite Exterior: Alberta Giuliani
Il Signore delle Formiche: Samantha Mura
L’Immensità: Daniela Tartari
L’Ombra di Caravaggio: Desiree Corridoni
La Stranezza: Rudy Sifari

Melhor montagem

Noite Exterior: Francesca Calvelli (con la collaborazione di Claudio Misantoni)
Il Signore delle Formiche: Simona Paggi
La Stranezza: Esmeralda Calabria
As Oito Montanhas: Nico Leunen
Nostalgia: Jacopo Quadri

Melhor som

Noite Exterior: som direto (Gaetano Carito), Pós-produção:Lilio Rosato, Mix Nadia Paone)
Il Signore delle Formiche: som direto (Emanuele Cicconi) e pós-produção (Mimmo Granata, Mix Alberto Bernardi).
La Stranezza: Carlo Missidenti, Marta Billingsley, Mix Gianni Pallotto
As Oito Montanhas:  Alessandro Palmerini,  Alessandro Feletti, Mix Marco Falloni
Nostalgia: Emanuele Cecere, Silvia Moraes, Mix Giancarlo Rutigliano

Melhores efeitos visuais

Dampyr: Alessio Bertotti, Filippo Robino
Diabolik – Ginko all’Attacco!: Simone Silvestri, Vito Picchinenna
Noite Exterior: Massimo Cipollina
As Oito Montanhas: Rodolfo Migliari
Siccità: Marco Geracitano

Melhor documentário

Il Cerchio: Sophie Chiarello
In Viaggio: Gianfranco Rosi
Kill Me If You Can: Alex Infascelli
La Timidezza delle Chiome: Valentina Bertani
Svegliami a Mezzanotte: Francesco Patierno

Melhor filme estrangeiro

Triângulo da Tristeza, Ruben Östlund (Suécia)
Até os Ossos (Bones and All), de Luca Guadagnino (EUA)
Elvis, de Baz Luhrmann (EUA)
Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson (EUA)
The Fabelmans, de Steven Spielberg (EUA)

Prêmio David Giovani (David do Donatello para a Juventude)

Corro da te: Riccardo Milani
O Colibri: Francesca Archibugi
L’Ombra di Caravaggio: Michele Placido
La Stranezza: Roberto Andò
As Oito Montanhas: Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersh

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.