Curta! estreia documentário sobre a história de Chiquinha Gonzaga

Às vésperas do carnaval, o Curta! e o streaming CurtaOn – Clube de Documentários trazem a produção inédita “Chiquinha Gonzaga – Música Substantivo Feminino”, sobre a instrumentista, maestrina e compositora pioneira entre as mulheres na música brasileira. Para contar sua história, o filme convida historiadoras, filósofas, escritoras, musicistas e outras especialistas, todas mulheres. As canções de Chiquinha são apresentadas pelo Grupo Chora – Mulheres na Roda.

Da parte de sua mãe, Chiquinha era neta de uma escravizada alforriada, enquanto seu pai era um militar de alta patente do Exército Imperial Brasileiro. Diferente de muitas mulheres de seu tempo, teve acesso ao letramento e à erudição das elites da época. Ainda jovem, foi presenteada com um piano – instrumento frequentemente destinado às moças, por não ser possível carregá-lo para apresentações fora do ambiente doméstico.

Ainda jovem, casou-se com um comandante da Marinha Mercante. O marido esperava que o casamento fosse afastá-la de sua dedicação à música, o que não aconteceu. O casal viveu uma relação conturbada, até que Chiquinha deixa o marido e é renegada por sua família, que a impede de criar os três filhos nascidos da relação.

Apesar das dificuldades diante dessa separação forçada, Chiquinha se torna uma mulher livre. Passa, então, a circular pelos meios boêmios do Rio de Janeiro, conhece pessoas diversas, se apresenta em casas noturnas, vende suas próprias canções e passa a compor para peças de teatro. Convive também com ex-escravizados e, com eles, aprende uma musicalidade bem diferente dos clássicos europeus. Daí, nasce a riqueza de sua obra, que reúne sua erudição com o que era produzido na música popular da época, como polcas, maxixes e marchas-rancho – inclusive a famosa “Ó Abre Alas”, a primeira canção carnavalesca brasileira que, até hoje, é bastante entoada por blocos de carnaval e foliões. No entanto, por vir de uma família com recursos, conseguia transitar também entre a elite cultural e política carioca da época.

O documentário traz também o debate racial, baseado no fato de que a historiografia oficial parece ter “embranquecido” Chiquinha e ignorado suas raízes negras.

Além da luta abolicionista e por sua própria liberdade, Chiquinha – já consagrada como artista – criou a primeira entidade de proteção aos direitos autorais de compositores teatrais, a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), abrindo portas para que outras mulheres pudessem registrar suas próprias obras musicais.

Chiquinha optou por ser livre em uma sociedade na qual as mulheres estavam destinadas a desempenhar os papéis de mãe e esposa, mas não de artistas independentes. Curiosamente, hoje é considerada a “mãe” da música popular brasileira.

“Chiquinha Gonzaga – Música Substantivo Feminino” é uma produção da Cinegroup viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O filme também pode ser assistido no CurtaOn – Clube de Documentários, streaming disponível no Prime Video Channels – da Amazon –, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn܂com܂br). A estreia no Curta! é no dia temático Segundas da Música, 5 de fevereiro, às 23h.

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