“Uma Baía”, de Murilo Salles, documenta trabalhadores em suas jornadas pela sobrevivência na Baía de Guanabara

A Baía de Guanabara é talvez o maior símbolo das contradições do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo acolhedora e violenta, bela e assustadora, rica e pobre. Mas foi ao redor dessa baía que a cidade nasceu e cresceu.

Quando vemos o catador de mexilhões em ação no fundo da baía; ou o personagem (quase ausente) que monta um hidroavião com entulhos como latas de cerveja, garrafas pet e pedaços de isopor, ironicamente dialogando com a obra de Rauschenberg; quando vemos um ‘faz-tudo’ prisioneiro em sua própria comunidade, que escapa à noite, pescando silenciosamente na baía. Por fim, os estivadores cochilando em redes esperando seu turno, nesta enorme Oca, que é o armazém do cais 18. Esses personagens são todos descendentes dos índios Tupinambás-Tamoios que aqui viviam quando os franceses vinham ‘extrair’ o “pau-brasil”. Os índios cortavam as árvores e carregavam as toras, enchendo os navios.

Qual a diferença entre um Tupinambá que carregava madeira para as caravelas e um estivador que arcaicamente enche navios com limalha de ferro para a China? Entre o catador de caranguejos hoje, e 500 anos atrás? Da vida que agora levam os quilombolas, e a que levavam seus antepassados?

“Uma Baía”, dividido em oito fábulas visuais, é uma viagem aos lugares originais da Baía de Guanabara, testemunha silenciosa, há cinco séculos, de um processo de intensa degradação que afeta diariamente a existência de seus trabalhadores.

O filme, dirigido por Murilo Salles, estreia dia 11 de abril, em São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Brasília, Curitiba, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte e Salvador.

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