Mostra apresenta clássicos paraibanos LGBTQIA+ restaurados em 2K

Foto: Cena de bastidores de “Era Vermelho o seu Batom”, de por Henrique Magalhães (no centro) © Bertrand Lira

De 1 a 30 de junho, a Cinelimite, o Núcleo de Documentação Cinematográfica da UFPB (NUDOC) e a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) apresentam a mostra, em comemoração ao mês do orgulho gay, A Onda de Cinema Queer em Super-8 da Paraíba.

No final da década de 1970 e início da década de 1980, durante a ditadura militar brasileira, um grupo de cineastas queer da Paraíba participou de cursos de “Cinema Direto” (ou Cinéma Vérité) no NUDOC (Núcleo de Documentação Cinematográfica da Universidade Federal da Paraíba). Esta oficina, criada pelo cineasta francês Jean Rouch, através da escola de cinema Ateliers Varan, equipou o NUDOC com filmes, câmeras Super-8, equipamentos de iluminação e tripés, permitindo, pela primeira vez, uma produção de filmes mais acessível em João Pessoa.

Alguns desses cineastas tiveram a chance de estudar na França, na Ateliers Varan, como parte de um intercâmbio com o NUDOC. Outros, menos envolvidos com o NUDOC, opunham-se aos princípios formalistas do Cinema Direto de Rouch e encontraram inspiração no filme “Gadanho” (1979), um estudo social de João de Lima Gomes e Pedro Nunes, filmado em Super-8. Este filme demonstrou que era possível produzir filmes na Paraíba com o formato Super-8, recentemente acessível.

Inspirados pelo que aprenderam e pelas novas possibilidades da produção independente, esses artistas formaram um grupo de ativistas gays e começaram a colaborar em filmes Super-8 que abordavam temas queer na Paraíba.

A Onda do Cinema Queer em Super-8 da Paraíba apresenta cinco dessas obras fascinantes, esquecidas e que representam possivelmente o único movimento cinematográfico queer do século XX no Brasil.

“Closes” (1982), de Pedro Nunes, mistura depoimentos sobre direitos homossexuais com uma história de amor gay. “Baltazar da Lomba” (1982), do coletivo queer Nós Também, reencena a história do primeiro homem condenado por sodomia no Brasil colonial. “Era Vermelho seu Batom” (1983), de Henrique Magalhães, examina estereótipos e discriminação dentro da comunidade gay. “Miserere Nobis” (1983), de Lauro Nascimento, apresenta uma encenação homoerótica de A Última Ceia. “Perequeté” (1981), de Bertrand Lira, retrata o ator e dançarino Francisco Marto. Esses filmes, realizados durante a ditadura, foram exibidos em ambientes sujeitos à repressão e continuam polêmicos até hoje.

O programa inclui ainda quatro novas entrevistas com os diretores Pedro Nunes, Henrique Magalhães, Bertrand Lira e Francisco Marto, personagem principal do filme Perequeté.

Essa programação exibe novas cópias em 2K, digitalizadas durante o projeto Digitalização Viajante, realizado entre outubro de 2022 e fevereiro de 2023, em seis cidades brasileiras (Brasília, Recife, João Pessoa, Teresina, Rio de Janeiro e São Paulo).

A Cinelimite é uma associação sem fins lucrativos criada em 2020 com o objetivo de promover o cinema de repertório brasileiro a nível global e oferecer serviços de digitalização para filmes e cineastas brasileiros historicamente negligenciados. Sua plataforma online exibe filmes brasileiros recém-traduzidos e coopera com diversas organizações nacionais e internacionais para criar programações gratuitas que vão além do cânone cinematográfico convencional.

Em 2022, a Cinelimite lançou a Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB), um projeto que fornece acesso a serviços de digitalização de filmes no Brasil para filmes órfãos, filmes feitos por membros das comunidades LGBTQ+ e PPI, filmes feitos por mulheres, filmes caseiros e filmes não-comerciais.

A IDFB já resgatou cerca de 350 filmes brasileiros em 8mm, Super 8, 16mm e 35mm e firmou colaborações com organizações arquivísticas como a Cinemateca Brasileira, a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), o Arquivo Nacional (AN), o Centro Técnico Audiovisual (CTAv), o Núcleo de Documentação Cinematográfica da UFPB (NUDOC) e a Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Mais recentemente, a IDFB e a ABPA uniram forças no projeto Digitalização Viajante, a primeira iniciativa de digitalização de filmes itinerante do país.

A programação de filmes clássicos e raros da história queer brasileira está disponível gratuitamente em Cinelimite.com.

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